Fila da mamografia tem 6,2 mil mulheres e GDF recorre a particulares
Dos 12 mamógrafos na rede pública do DF, nove funcionam e não têm capacidade para atender à demanda de quatro mil solicitações por mês
atualizado
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Na rede pública do Distrito Federal, 6,2 mil mulheres estão na fila à espera de uma mamografia, essencial para diagnóstico do câncer de mama. Para atender à demanda, o GDF decidiu firmar convênio com clínicas particulares que realizam o exame e pagar pelo serviço. Dos 12 equipamentos mantidos pela Secretaria de Saúde, nove estão em funcionamento.
A autorização foi dada pelo Conselho de Saúde do DF (CSDF). Segundo o presidente do colegiado, Helvécio Ferreira da Silva, “há uma incapacidade do governo em atender as pacientes. Existem mamógrafos quebrados, outros em uso, mas a demanda é muito elevada”.
“O que se espera é que o Estado resolva definitivamente a questão da capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) 100% público e de qualidade. Que o governo estabeleça todos os mecanismos de recuperação das nossas máquinas e provimento de recursos humanos para atendimento aos usuários. Não queremos depender de terceiros”, acrescenta.
Segundo a Secretaria de Saúde, são realizados, em média, quatro mil exames de mamografia por mês na rede pública. De acordo com a Resolução 483, de 16 de maio de 2017, do CSDF, o contrato será inicialmente de caráter provisório e complementar.
A Secretaria de Saúde informa que o credenciamento é mais uma opção capaz de diminuir a demanda reprimida para o exame. A pasta esclarece também que o aumento da fila foi causado pela falta de aparelhos, que estavam quebrados e sem contrato de manutenção preventiva e corretiva.
Em setembro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça pedindo para que o Governo do Distrito Federal zerasse a fila de espera para mamografias em até 180 dias. À época, o órgão também solicitou que o governo terminasse em 45 dias o processo de contratação da empresa que faria a manutenção dos mamógrafos estragados. No entanto, no mês passado, a Justiça Federal negou o pedido do MPF.
A cozinheira Neide de Almeida Aguiar, 35 anos, descobriu um nódulo no seio, mas levou cerca de nove meses para procurar um especialista e ser diagnosticada com câncer de mama. “Eu já demorei a ir ao médico. Depois disso, ainda tive que aguardar mais dois meses na fila para conseguir o diagnóstico na rede pública”, afirmou.
Para Neide, é obrigação do Estado fornecer atendimento de qualidade e garantir a realização do exame: “Muitas mulheres não têm condições para fazer o exame em clínicas particulares. É possível vencer e enfrentar a doença, mas tem que haver o diagnóstico o quanto antes.”
O Metrópoles fez uma pesquisa em cinco clínicas do Plano Piloto, Ceilândia e Taguatinga. O preço do exame varia entre R$ 240 e R$ 500.
Drácon
Embora necessária, a medida é polêmica, já que ocorre em uma época em que contratos assinados entre governos, nas mais variadas esferas, e empresas privadas estão na mira de operações como a Lava Jato. No caso do Distrito Federal, a destinação de recursos públicos para pagar prestadores de serviços na área de saúde foi alvo da Operação Drácon.
É investigada a liberação de emendas parlamentares em troca de propina para empresas que administravam leitos de UTIs na rede pública local. Em março, o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) aceitou denúncia de corrupção passiva contra os cinco distritais investigados pela Drácon. Com isso, Celina Leão, Raimundo Ribeiro, ambos do PPS, Julio Cesar (PRB), Bispo Renato Andrade (PR) e Cristiano Araújo (PSD) viraram réus e passaram a responder criminalmente no Judiciário. Os deputados, no entanto, não foram afastados da Câmara Legislativa.
De acordo com grampos feitos pela distrital Liliane Roriz (PTB), o grupo teria destinado R$ 30 milhões ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública.
Na ocasião, Liliane teria questionado a presidente da Câmara sobre a mudança na votação. No áudio, é possível ouvir a presidente da Câmara, Celina Leão (PPS), falando que o “projeto” seria para um “cara” que ajudaria os deputados. A presidente da Casa disse ainda que Liliane não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no projeto. Já mandei o Valério (ex-secretário-geral) falar com você.”
Para o especialista em gestão pública Antônio Lopes, é imprescindível que os órgãos de controle fiscalizem todas as etapas da contratação. “Sabemos da importância da medida. Mulheres estão morrendo porque o Estado não pode atendê-las. Se a terceirização do serviço for o caminho para isso, tudo bem. Mas a sociedade precisar estar atenta”, completa.