Derrota do Buriti. Comissão aprova proposta que impede OSs no DF
Aprovação do projeto ocorre uma semana depois de o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) se reunir com a bancada de apoio na Câmara e pedir para que seja aprovada a entrada das organizações sociais na gestão da rede pública de saúde
atualizado
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Após muita polêmica, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a Proposta de Emenda à Lei Orgânica (Pelo 43/2016), que impede a contratação e gestão das Organizações Sociais (OSs) no DF. Desde o início da manhã desta terça-feira (21/6), cerca de 200 servidores manifestaram-se, nas cercanias da Casa, favoráveis à proposta e contra a terceirização dos serviços públicos de saúde. Representantes de seis sindicatos e conselhos de saúde acompanharam a votação da CCJ, concluída no início da tarde.
A aprovação do projeto ocorre uma semana depois de o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) se reunir com a bancada de apoio na Câmara e pedir para que seja aprovada a entrada das OSs na gestão da rede pública de saúde do DF.O deputado Ricardo Vale (PT), autor da matéria, argumentou que as OSs não são eficazes como modelo de gestão dos serviços públicos e representam a privatização do sistema de saúde. Vale citou que o Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, estado que adota o modelo, constatou irregularidades em nove de dez organizações em que foram realizadas auditorias. Alegou ainda que o Conselho Nacional de Saúde, em documento aprovado pelos delegados, é contrário à terceirização dos serviços.
Por três votos contrários e dois favoráveis, foi rejeitado o parecer do deputado Chico Leite (Rede), que alegou ser inconstitucional a proposta. Chico disse ser contra a gestão de Organizações Sociais, mas argumentou que a matéria é inconstitucional, daí seu parecer contrário. A presidente da comissão, deputada Sandra Faraj (SD), votou favoravelmente ao parecer de Chico Leite, não apenas pela inconstitucionalidade, mas também por “não estar convicta que as OSs venham a piorar o atendimento”, afirmou.
Manobra
Há duas semanas, a Proposta de Emenda à Lei Orgânica 43 teve o pedido de vista feito pelo deputado Robério Negreiros (PSDB). O prazo para apreciação venceu na sessão de hoje, mas Sandra Faraj resolveu não colocar em votação de forma unilateral, alegando que o tucano não teria devolvido a matéria a tempo de ser apreciada. A atitude causou a ira dos servidores da Saúde presentes à sessão e dos próprios membros da comissão, que se retiraram da reunião, derrubando o quórum.
A sessão ficou suspensa até que os distritais Raimundo Ribeiro (PPS) e Bispo Renato Andrade (PR) conseguiram convencer o retorno dos membros e a inclusão da matéria na pauta do dia.
Votaram contrários ao parecer de Leite os deputados Robério Negreiros (PSDB), Bispo Renato Andrade e Raimundo Ribeiro. “Estamos vivendo tempos de angústia, a saúde no DF está caminhando para o cemitério, e esta Casa precisa dar respostas”, afirmou o deputado Raimundo Ribeiro. Robério Negreiros, ao justificar seu voto, defendeu o sistema de saúde público, universal e democrático. O deputado Renato Andrade disse ser a “favor do povo” e da saúde pública de qualidade.
Planos de terceirização
A meta do Palácio do Buriti é dobrar a cobertura da atenção primária, porta de entrada dos pacientes na rede pública local até 2018. Para isso, entretanto, terá que terceirizar a administração das unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e o programa Saúde da Família. A medida é polêmica e enfrenta resistência no Legislativo, no próprio governo e entre os servidores.
Para alcançar o objetivo, o Executivo vai se valer de parcerias com organizações sociais que tenham experiência no ramo. Elas serão selecionadas por meio de chamamento público. A gestão compartilhada focará na melhoria do atendimento nas seis unidades de pronto atendimento (UPAs) de Brasília (Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho). O modelo, alega o governo, é chancelado pela Lei Distrital 4.081, de 2008. No DF, o Hospital da Criança José de Alencar é administrado sob as regras dessa legislação.
A Secretaria de Saúde estima que 65% dos pacientes que buscam as emergências do DF poderiam ter os problemas resolvidos nos centros de saúde ou nas UPAs. Pelos planos do Buriti, Ceilândia será a primeira região administrativa a receber o novo modelo de administração.
Em localidades da maior e mais populosa região administrativa do DF consideradas mais vulneráveis — como Setor O e o Condomínio Privê —, a meta é ampliar a cobertura de saúde da família para 100%. Cada equipe dessa modalidade é formada por um médico, um enfermeiro, dois técnicos de enfermagem e cinco agentes comunitários de saúde.
Seleção
A primeira etapa para a escolha das organizações sociais é determinar aquelas aptas a assumir os serviços. O próximo passo é fazer um chamamento público, quando se definirá o orçamento a ser destinado para as entidades. Diferentemente da licitação, em que cada empresa apresenta seu preço, no chamamento público o Executivo fixa um valor e cabe a cada organização social exibir um projeto baseado naquele recurso. Vence quem apresentar a melhor proposta. A expectativa é que o custo desse processo chegue a R$ 244 milhões.
Em troca das chamadas OSs, o governo promete rapidez nos atendimentos. Garante que haverá melhor gestão dos recursos, principalmente materiais, já que a rede estará livre dos processos licitatórios obrigatórios para a substituição de equipamentos, reposição de medicamentos e pequenas reformas. A contratação de pessoal também poderá ser feita sem a realização de concursos públicos.
O Executivo insiste, ainda, em dizer que não se trata de privatização. Trata o modelo como “gestão compartilhada”. Por isso, garante que os servidores integrantes da rede não serão prejudicados. Segundo a Secretaria de Saúde, os funcionários poderão continuar em suas funções, caso haja interesse da Saúde e da organização social. Se não permanecerem nas unidades geridas pelas organizações sociais, serão remanejados para outros órgãos da pasta, sem risco de demissão. O governo garante, ainda, que nenhum direito adquirido será retirado. (Informações da Câmara Legislativa e da Agência Brasília)