Uma plateia de 60 mil pessoas se emociona com Via Sacra de Planaltina
Iniciado pontualmente às 16h, espetáculo usou recursos cênicos eficazes para envolver o público, que interagiu em momentos da encenação
atualizado
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Faltando uma hora para o início da encenação da Via Sacra, no Morro da Capelinha, em Planaltina, a Polícia Militar já estimava em 50 mil o número de pessoas presentes no local para assistir ao espetáculo religioso – realizado ali desde 1973.
A maioria se dirigia ao topo do monte, onde ocorre anualmente a representação da crucificação e ressurreição de Jesus Cristo. Outros aproveitavam o tempo consumindo em tendas comerciais montadas na entrada.Os produtos à venda pelos ambulantes iam de quitutes como pastel e coxinha até refeições prontas, além de vestuário com temas religiosos.
Na hora prevista para o início da encenação, pontualmente, os 1,5 mil atores que participam da apresentação entraram pelos portões do Morro da Capelinha. A esta altura, a plateia havia de multiplicado. De acordo com a PM, 60 mil pessoas assistiram ao espetáculo.
Soldados do Império romano entraram em formação de tropa, acompanhados por sacerdotes, cidadãos vestidos a rigor, membros da elite judaica, dançarinas e prisioneiros – açoitados e espancados a poucos metros da multidão.
Celulares ligados
Os fiéis acompanhavam a entrada com atenção e sacavam os celulares para fotografar todos os personagens. Na primeira estação, ambientada no palácio de Herodes, Jesus aparece preso, chorando.
Do meio do público, o ator que interpreta Judas surge segurando um saco de moedas, também chorando, para logo desaparecer em meio à multidão.
Para ajudar o público na compreensão do espetáculo, um áudio contextualizava a história, informando os detalhes da trajetória de Cristo até sua prisão. Esse mesmo áudio servia de voz aos atores da encenação.
A produção se valeu de recursos cênicos eficazes para aumentar a tensão em momentos-chaves. São exemplos a trilha sonora dramática e o congelamento, por alguns segundos, de cenas relevantes na história.
Calor, desmaio e vaias
Na terceira estação, na qual ocorre o julgamento de Jesus, foi possível ter uma ideia do tamanho da encenação. Mais de 50 atores vestidos como cidadãos comuns entraram em confronto com cerca de 20 soldados romanos para tentar defender o filho de Deus.
Poucos momentos antes da cena, porém, um dos soldados romanos (que levava o estandarte do império) desmaia. Teve de ser carregado por colegas atores para a parte de trás do cenário, longe da vista do público. De acordo com a organização, o ator desmaiou por conta do excessivo calor.
É também nessa estação que o ladrão Barrabás é escolhido pelo povo para ser salvo da crucificação – no lugar de Jesus. O público parecia imerso no espetáculo e vaiou quando foi anunciada a escolha de Barrabás.
Cenas da paixão
Judas reaparece seminu, chorando e segurando uma corda. Em seguida, amarra no pescoço e desaparece de cena. Assim que Jesus é crucificado, a encenação passa a ocorrer em um monte verde elevado, paralelo à pista de pedestre, onde se encontra o público.
A plateia passa a acompanhar o martírio de Cristo caminhando, fazendo pausas em momentos marcantes da história, como naqueles em que ele cai, tem o rosto limpo por Verônica e é ajudado por Simão.
Enquanto o público assistia atentamente à paixão de Cristo, a PM prendia, no meio da multidão, um foragido com um revólver calibre .38. Somente quem estava nas proximidades se deu conta do ocorrido. O espetáculo seguiu para os momentos finais.
A imagem de Pietá
No alto de um monte, todos os atores se organizam de modo a ficar em torno de Jesus durante a crucificação. Um jogo de luz e fumaça marca a morte de Cristo e, após sua retirada da cruz, holofotes iluminam a cena dele no colo de Maria, numa reprodução da famosa Pietá.
Parte do público escalou o monte até a cerca que protege os atores para ver de perto a cena, que tem como trilha sonora uma versão instrumental de “Pedaço de Mim”, de Chico Buarque. Cristo é levado ao Santo Sepulcro. Maria, Maria Madalena e outras mulheres ficam no lado de fora. As luzes se apagam.
Começa a tocar música cristã e um mar de lanternas de celulares se acende, iluminando todo o local. As pessoas aplaudem e cantam enquanto balançam seus celulares. No som é anunciado o patrocínio do GDF e o clima de alegria dá espaço a um vaia geral.
Próximo das 20h, um anjo abre o Santo Sepulcro e revela a ressurreição de Cristo. Nesse momento, uma surpresa: vários anjos e Nossas Senhoras tomam conta do espaço cênico. Em seguida, ergue-se uma gigantesca imagem de Maria e Jesus sobe aos céus com a ajuda de um guindaste, ao som de “Aleluia”, de Haendel.