Segundo Joesley, todas as doações da JBS eram contrapartida a propina
Empresário diz que os R$ 400 milhões doados regularmente foram para disfarçar ajustes ilícitos, o que lança suspeita sobre todas as doações
atualizado
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Nenhuma doação feita pelo grupo JBS nas últimas eleições, e registrada nas contas apresentadas à Justiça Eleitoral, foram lícitas. A revelação bombástica consta no primeiro termo da delação premiada firmado pelo empresário Joesley Batista ao Ministério Público Federal.
Em vídeo, ele declara que os R$ 400 milhões doados regularmente a políticos (candidatos a presidente, senador e deputado) eram “contrapartida a ajustes ilícitos”. “O caixa 1 era contrapartida, propina disfarçada”, reconheceu. Segundo ele, além dos R$ 400 milhões declarados, o grupo JBS distribuiu mais R$ 100 milhões como caixa 2 no último período eleitoral.
Veja vídeo com a declaração de Joesley sobre as doações eleitorais:
O modo de atuação teria sido modificado, segundo o empresário, porque a chefia e a assessoria jurídica perceberam que uma hora a empresa seria chamada a prestar explicações pelo volume de negociatas envolvendo representantes do Poder Público. Pela colaboração à Justiça, os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo JBS, terão imunidade completa.
Não serão presos, não usarão tornozeleira eletrônica e permanecerão no comando de suas empresas. Em contrapartida, além das gravações que Joesley fez com o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PMDB-MG), terão de entregar todos os negócios ilegais feitos pela companhia. A multa acertada pelo acordo de leniência foi de R$ 250 milhões. Mas é possível que esses valores mudem.
Dinheiro para o DF
Conforme já revelado pelo Metrópoles, no anexo 9 de sua delação, Joesley Batista detalhou a relação mantida com o presidente Michel Temer (PMDB). Ele contou que se reuniu com o chefe do Executivo mais de 20 vezes desde que se conheceram, em 2010. À época, Joesley teria atendido o primeiro pedido de Temer: R$ 3 milhões em propina, sendo R$ 1 milhão em doação e R$ 2 milhões à empresa Pública Comunicações, por meio de duas notas fiscais.
Em outra matéria, o Metrópoles destaca que a recente confissão dos donos da JBS de que operam no mundo do crime pagando propina a políticos e servidores do alto escalão há pelo menos 10 anos, coloca em suspeição todas as doações feitas pelo grupo. Em 2014, a campanha de Rodrigo Rollemberg (PSB) ao governo do Distrito Federal recebeu R$ 852.831,75 da empresa. A quantia foi repassada em 41 transações atípicas. Chama atenção que os valores variam de R$ 6,54 a R$ 450 mil.
Em nota, a assessoria do governador informou que “toda doação de campanha recebida pelo então candidato Rodrigo Rollemberg aconteceu de forma legal. As contas de campanha já foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral”.
Ainda na campanha 2014, o grupo investiu nas candidaturas de dois postulantes a distritais e um a deputado federal, que acabaram eleitos. Ronaldo Fonseca (PROS) recebeu R$ 75 mil da JBS, por meio de repasse da direção nacional do partido. Para Rodrigo Delmasso (Podemos), foram R$ 34.695: a empresa foi a doadora original do dinheiro repassado em quatro vezes pelo ex-deputado federal Vitor Paulo Araújo dos Santos. Julio Cesar (PRB), o mais votado para a Câmara Legislativa, conseguiu R$ 9.545 da JBS. O valor também foi repassado a ele pelo ex-deputado Vitor Paulo.
Ao Metrópoles, Ronaldo Fonseca afirmou que não sabia até hoje de quem era a doação. “Quando terminaram as eleições, fiquei com dívidas e o diretório fez os repasses. Não conheço os donos da empresa e nunca pedi dinheiro para eles. Achava até hoje que era dinheiro do fundo partidário. Estou sabendo por vocês que era doação da JBS”, justificou o deputado. A assessoria de imprensa de Rodrigo Delmasso esclareceu que os recursos chegaram até ele por meio de material de campanha e que o deputado só ficou sabendo a origem da doação quando fez a prestação de contas. Em nota, Julio Cesar disse que recebeu repasses oficiais, devidamente contabilizados e aprovados pelo TRE.