PGR deve levar meses para analisar menção a Rollemberg na Drácon
Procuradoria-Geral da República conduzirá investigação própria sobre a suspeita de participação do governador Rodrigo Rollemberg em desmandos na saúde pública. Parte do inquérito que cita o nome do socialista foi enviado ao órgão pelo MPDFT nesta semana
atualizado
Compartilhar notícia
A análise da suspeita de participação de Rodrigo Rollemberg (PSB) em desmandos na saúde pública — que pode resultar em uma investigação contra o governador — corre o risco de se arrastar por meses na Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão recebeu do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), no último dia 6, parte do inquérito da Operação Drácon. Rollemberg é mencionado em áudios que tratam de supostos esquemas de corrupção nas secretarias de Fazenda e de Saúde.
O problema é que os documentos enviados pelo MPDFT para a PGR estão no material bruto, que ainda não foi analisado. Desse modo, segundo informam fontes da Procuradoria-Geral, toda a investigação terá de ser feita pelo próprio órgão.O ofício que foi enviado pelo MPDFT diz apenas que o material mostra que “pode” haver participação do governador, mas não contém conclusões. De acordo com a assessoria de imprensa da PGR, esse tipo de investigação costuma levar meses.
Quem deve ficar por conta do caso na PGR é o novo vice-procurador-geral, José Bonifácio Borges de Andrada, que foi nomeado nesta quinta-feira (8/9). Andrada entrará na vaga deixada por Ela Wiecko, que pediu exoneração do cargo após a divulgação de imagens de um evento realizado em junho, em Portugal, onde apoiou estudantes que fizeram uma manifestação contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em nota, o GDF afirmou que considera normal o envio dos documentos para a PGR, já que as gravações mencionam autoridades com foro. O governo também reafirmou que apoia as investigações.
Os primeiros grampos
As primeiras gravações que apontavam para um possível esquema de propina e de desvio de dinheiro na saúde pública do DF vieram à tona em julho deste ano. Conversas entre a presidente do SindSaúde-DF, Marli Rodrigues, o vice-governador Renato Santana e o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim vazaram e apontaram diversas suspeitas.
Entre elas, o superfaturamento na compra de kits contra a dengue por R$ 55 cada. O preço médio de mercado dos produtos, segundo Marli afirmou à CPI da Saúde, seria entre R$ 8 e R$ 22. O fato, que será investigado pela PGR, envolve o nome do governador e do chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio.
À época do depoimento de Marli aos deputados, na Câmara Legislativa, o GDF havia confirmado a compra dos kits por R$ 55 somente na gestão de Agnelo Queiroz (PT). Afirmou ainda que, no atual governo, foram comprados kits nos valores de R$ 8 e R$ 9.
As gravações de Liliane
Em agosto, uma nova leva de grampos jogou gasolina na fogueira da crise. A deputada distrital Liliane Roriz (PTB) teria começado a gravar conversas com colegas no fim de 2015, quando os parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — acabou realocado para a saúde.
Na ocasião, Liliane teria questionado a então presidente da Câmara, Celina Leão (PPS), sobre a mudança na votação. No áudio, é possível ouvir Celina falando que o “projeto” seria para um “cara” que ajudaria os deputados.
Celina disse ainda que Liliane não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no projeto. Já mandei o Valério (Neves, ex-secretário-geral da CLDF) falar com você.” Após as denúncias e a Operação Drácon, a Justiça determinou o afastamento de toda a Mesa Diretora da Casa.