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“O Rodrigo tá fodido”, diz vice-governador em novos áudios. Ouça

Nas gravações obtidas pelo “Metrópoles”, Renato Santana se refere ao processo de transição do atual sistema de gestão da saúde para o modelo das organizações sociais. O vice mostra-se indignado com o fato de a decisão sobre a terceirização já ter sido tomada

atualizado

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renato santana
1 de 1 renato santana - Foto: Michael Melo/Metrópoles

No dia em que o vice-governador do Distrito Federal, Renato Santana, foi à Câmara Legislativa para dar explicações sobre conversas comprometedoras mantidas com a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, ele afirmou que esteve com a sindicalista apenas uma vez e tentou estabelecer um distanciamento da denunciante. Novos áudios obtidos pelo Metrópoles revelam, entretanto, que Santana foi gravado mais de uma vez pela mulher. Apontam ainda uma relação de confiança capaz de deixá-lo à vontade para dizer que o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) “tá fodido”.

Na conversa, Santana se refere ao processo de transição do atual sistema de gestão da saúde para o modelo das organizações sociais. O vice mostra-se indignado com o fato de a decisão sobre a terceirização já ter sido tomada. Diz que não entra na discussão do assunto, porque não quer ficar só com o “ônus” do processo e questiona de onde o governo vai tirar dinheiro para financiar as OSs.

Esse diálogo faz parte de uma conversa de 2 horas e 45 minutos mantida entre Marli Rodrigues e Renato Santana. Também estava no encontro o ex-ouvidor da Vice-Governadoria Valdecir Marques de Medeiros. A gravação foi feita em abril deste ano, na casa onde Marli morava, no Núcleo Bandeirante. Na ocasião, a sindicalista que decidiu investigar por contra própria um suposto esquema de pagamento de propina dentro do governo preparou vários cômodos da residência para registrar a conversa com o vice-governador.

O trecho gravado foi captado na cozinha de Marli. Ela escondeu um Iphone 6 dentro de um bolo kit kat, preparado por ela mesma e servido aos convidados. Se os interlocutores tivessem permanecido na sala, Santana não teria sido apenas gravado, mas também filmado em HD. No início da gravação a que o Metrópoles teve acesso na íntegra, é possível ouvir Marli recebendo o grupo. Ela oferece café, suco e o bolo batizado.

Não foi a primeira vez e também não seria a última em que a sindicalista grampeou Santana. O encontro que os dois tiveram em um restaurante da Vila Planalto também foi registrado em áudio. O lugar: Traíra sem Espinha. Houve ainda uma gravação no gabinete do próprio vice, quando a pauta era BRB. A última vez ocorreu na casa de Valdecir, em Águas Claras. O recente vazamento do conteúdo abriu uma crise política no Palácio do Buriti.

Sem chance
No áudio gravado na casa de Marli, o assunto predominante foi a chegada das organizações sociais no DF. Em, pelo menos, duas oportunidades, o vice afirma que a chance de as OSs serem implementadas na capital federal é “zero”.

Sabe qual é a chance, Marli, de o governo implantar a OS? É zero! Nós não conseguimos isso em um ano e três meses e não vamos conseguir em um prazo menor. Não vamos conseguir botar uma PPP no governo e sabe por quê? Porque tem 20 negos fora do governo se matando pelos nichos.

Renato Santana

Para reforçar sua teoria de que no DF as coisas são diferentes do restante do país, Santana cita uma conversa que teria tido com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). No trecho, ele faz uma comparação estranha e diz que no estado vizinho o tucano é quem “paga o MP” (Ministério Público). E que no DF, o MP é uma estrutura “fora da nossa folha”. Insinua com o raciocínio que as coisas na capital da República seriam mais amarradas porque o governo, em tese, não controla o Ministério Público.

Parcerias Público-Privadas
Em outro trecho, Santana solta o verbo ao se referir às parcerias público-privadas (PPPs). O vice explica os motivos que teriam levado a Secretaria de Economia Sustentável, então comandada pelo seu partido na figura de Arthur Bernardes, a recusar a gestão dos projetos. De acordo com Santana, as PPPs seriam administradas, na prática, por um “grupinho que está aqui fora e nem assina nada, está fora do governo”. Antes, afirmou com veemência: “Vai ter gente presa”.

Ainda de acordo com Santana, diante da negativa de Bernandes em ficar com as parcerias, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) teria tentado “empurrar” para Sérgio Sampaio, chefe da Casa Civil, mas ele não quis. “Tentou empurrar para a Leany (numa referência a Leany Lemos, secretária de Planejamento), e ela não quis”. Então, “empurrou lá no secretário de Fazenda”, completou.

Essa não é a única gravação em que Santana e Marli conversam sobre um suposto esquema de cobrança de propina no Executivo local. Em trechos já revelados pelo Metrópoles, o trio também trata do assunto em outra conversa, na casa de Valdecir, em Águas Claras. Em um deles, o vice-governador reclama de não ter espaço algum na gestão do Distrito Federal e revela conhecer o esquema de propina, que seria de 10%. Marli conta que já ouviu falar em 30%.

Os áudios caíram como uma bomba nos corredores do poder distrital. A reação do Legislativo foi imediata. A Câmara Legislativa, que estava de férias, foi convocada extraordinariamente e os trabalhos da CPI da Saúde, que apura irregularidades na área, foram retomados em pleno recesso. O Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e a Polícia Civil também investigam as denúncias. Tanto Marli quanto Santana foram convocados e prestaram depoimentos sobre as gravações. Valdecir foi exonerado na segunda-feira (25/7).

Ao ser acionado pela reportagem para comentar o novo grampo, o GDF disse que só vai se pronunciar após ter acesso à íntegra das gravações. Renato Santana não foi localizado nem retornou as ligações da reportagem.

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