GDF pagou R$ 31 milhões em serviços à JBS na última década
Só dos cofres do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) saíram R$ 12,6 milhões para quitar contratos com a Secretaria de Educação
atualizado
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Alvo de um escândalo que balançou a República, a JBS despejou dinheiro em campanhas de políticos do Distrito Federal. Como contrapartida, foi beneficiada em contratos milionários assinados com o Executivo local. Somente nos últimos dois anos e meio da gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB), a empresa, que confessou comprar políticos para defender os próprios interesses, levou a bolada de R$ 12,6 milhões em serviços para fornecimento de produtos da merenda escolar. Na delação premiada acertada entre o ex-executivo da J&F — holding controladora da JBS — Ricardo Saud com o Ministério Público Federal, ele conta que a empresa pagou propina a 16 governadores. Em uma planilha entregue ao MPF, consta o nome de Rollemberg, como noticiado pelo Metrópoles nesse domingo (28/5).
Em outro trecho da delação, Saud chega a especificar que o esquema de corrupção alcançou dois governadores do PSB no país, sem citar nominalmente quais seriam eles. Rodrigo Rollemberg foi um dos que recebeu aportes para disputar a corrida ao Palácio do Buriti. Em 2014, a JBS repassou ao então candidato R$ 852.832 como doação para campanha eleitoral. Desse valor, R$ 450 mil foram diretamente da empresa para Rollemberg. A quantia recebida está declarada na Justiça Eleitoral.
Nos últimos 9 anos, mais de R$ 31.070.135,37 foram pagos à JBS como contraprestação pelos serviços prestados ao GDF. Os repasses a políticos candangos cresceram na mesma proporção que os ganhos da empresa na capital da República. Em 2009 e 2010, período que compreende as gestões de José Roberto Arruda (PR) e Rogério Rosso (PSD), a JBS recebeu R$ 84 mil em contratos. No governo de Agnelo Queiroz (PT), o valor saltou para cerca de R$ 18,4 milhões.
Prorrogação de contrato
Boa parte das quantias recebidas pela JBS ao longo dos últimos anos teve origem em contratos firmados no âmbito da Secretaria de Educação do DF. A prestação de serviços no governo Rollemberg ocorreu a partir de um acerto entre o GDF e a JBS em 2014, ainda sob a gestão de Agnelo. Publicado no dia 13 de agosto, no Diário Oficial do DF, o Extrato de Contrato 79/2014 previa a aquisição de carne bovina pela pasta. O valor era de R$ 22.859.350,00.
Em 2015, ano em que o governo de Rollemberg teve início, houve a primeira prorrogação do contrato. O termo aditivo previa mais 12 meses de vigência, a partir de 21 de julho daquele ano, com “a supressão de 25% da quantia”. A manutenção da parceria foi feita sem licitação.
No ano seguinte, em 2016, a secretaria editou o segundo termo aditivo e prorrogou por mais um ano o contrato firmado. O valor estava previsto, desta vez, em R$ 20.170.699,44. A vigência terminará em 21 de julho deste ano.
Partidos da propina
Segundo Ricardo Saud, a JBS repassou dinheiro, de forma ilícita, em todo o país, a quatro governadores do PMDB; quatro do PSDB; três do PT; um do PP; dois PSB e dois do PSD. Em depoimento, ele afirmou ainda que a JBS corrompeu 1.829 candidatos a cargos eletivos, de 28 legendas, perfazendo um total de aproximadamente R$ 600 milhões em repasses ilícitos.
Segundo Saud e Joesley Batista, dono da JBS, praticamente todas as doações feitas pela empresa foram propina, inclusive as declaradas ao TSE. “Tudo tem ato de ofício. Tudo tem promessa”, disse Saud aos procuradores do MPF. Joesley ainda chegou a afirmar que “o caixa 1 era contrapartida, propina disfarçada”.
Problemas à vista
Preso desde 1º de julho de 2016, Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-deputado Eduardo Cunha, negocia um acordo de delação premiada com o MPF. Um dos cinco nomes apresentados por ele aos procuradores durante reuniões preliminares realizadas no início do ano pode trazer complicações para o governo atual.
Funaro teria em seu cardápio entregue ao MPF incluído Ricardo Leal, principal arrecadador da campanha de Rollemberg.
Outro lado
O GDF disse ao Metrópoles que atualmente o grupo JBS fornece insumos para a merenda escolar por ter vencido uma licitação. “Não houve qualquer ação do governo que tenha trazido benefícios ao grupo. Pelo contrário, houve um pedido da empresa para obter um regime especial tributário para comercialização de produtos de carne no Distrito Federal, sem a instalação de uma unidade fabril, o que foi recusado pelo Governo de Brasília”, destacou o GDF em nota.
Ainda de acordo com o governo local, a JBS teve sua inscrição fiscal suspensa no Distrito Federal por encerramento de atividades em 2015.