Ex-senador Gim Argello é preso em nova fase da Lava Jato
Segundo Delcídio, Gim e outros parlamentares cobravam dinheiro de empreiteiros investigados na Lava Jato para que eles não fossem chamados para depor na CPI da Petrobras
atualizado
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A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (12/4) a 28ª fase da Operação Lava Jato. A ação foi batizada de Vitória de Pirro. O ex-senador Gim Argello foi preso em sua casa, no Lago Sul. Do total de mandados, dois são de prisão temporária, um de prisão preventiva, 14 de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento. O filho dele, Jorge Argello Júnior, foi levado coercitivamente para depor. Os dois foram levados pelos agentes por volta das 9h15.
O preso com mandado preventivo é o ex-senador. O nome de Gim apareceu na delação do senador Delcídio do Amaral. Segundo Delcídio, Gim e outros parlamentares cobravam dinheiro de empreiteiros investigados na Lava Jato para que eles não fosses chamados para depor na CPI da Petrobras. Por volta das 15h, o ex-parlamentar embarcou em um avião da Polícia Federal no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek em direção a Curitiba, onde irá se juntar aos demais presos da Operação Lava Jato.Os mandados de prisão temporária cumpridos no DF são contra Valério Neves, secretário-geral da Câmara Legislativa, e o lobista Paulo Roxo. As medidas foram cumpridas na capital de São Paulo, capital do Rio de Janeiro, Lago Sul e Taguatinga.
Segundo a PF, as investigações apuram a existência de indícios concretos contra o ex-senador, integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Senado Federal e também da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito instaurada no Congresso Nacional, ambas com o objetivo de apurar irregularidades no âmbito da Petrobras S/A no ano de 2014.
De acordo com as investigações, Argello teria atuado de forma incisiva no sentido de evitar a convocação de empreiteiros para prestarem depoimento, mediante a cobrança de pagamentos indevidos travestidos de doações eleitorais oficiais em favor dos partidos de sua base de sustentação.
Depoimento em dezembro
Em dezembro do ano passado, Argello prestou depoimento à Polícia Federal sobre denúncias feitas contra ele pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, um dos delatores da Lava Jato. O dono da UTC Engenharia afirmou que pagou R$ 5 milhões para o petebista evitar uma convocação na CPI mista da Petrobras. No termo de declaração, há detalhes de como teria ocorrido a negociação.
Os pagamentos, segundo o relato de Pessoa, teriam sido feitos em 2013, quando Argello ocupava a vice-presidência do colegiado. O empreiteiro explicou que esteve, em três oportunidades, na casa de Gim, no Lago Sul. Em uma primeira reunião, o dono da UTC pediu ajuda ao então senador para blindar as construtoras durante o processo de investigação da CPI. Gim teria prometido “avaliar” a questão.
Durante uma das conversas, o empreiteiro perguntou se o ex-senador garantiria que não seria convocado para depor. “100% ninguém garante, mas 90% sim”, teria dito Argello a Ricardo Pessoa. Ainda de acordo com o depoimento do empreiteiro, quatro partidos teriam recebido o dinheiro. O DEM teria ficado com a maior parte, R$ 1,7 milhão; o PRTB e o PMN teriam recebido R$ 1,15 milhão cada; e o PR, mais R$ 1 milhão.
Na ocasião do seu depoimento, Argello disse ao Metrópoles que a denúncia do empreiteiro não fazia sentido. “A CPMI indiciou o Ricardo Pessoa e todas as suas empresas. Se ele afirma ter pago para não ser convocado, quanto ele pagaria para não ser indiciado? O relatório final da comissão pode comprovar o que estou falando”, disse o ex-senador.
Ele destacou, ainda, que Pessoa conhecia o cenário político do DF e fez doação de campanha para diversas correntes políticas: “Ele fez doações para políticos que lideravam as pesquisas à época. Posso afirmar que, pelo menos, R$ 50 milhões foram doados a candidatos em todo o Brasil”.
Custo alto
Vitória de Pirro, nome dado à nova fase da Lava Jato, remete a expressão histórica que representa uma conquista obtida mediante alto custo, popularmente adotada para vitórias consideradas inúteis. “Em que pese a atuação criminosa dos investigados no sentido de impedir o sucesso da apuração dos fatos na CPI/Senado e CPMI/Congresso Nacional, tal fato se mostrou inútil frente aos resultados das investigações realizadas no âmbito da denominada Operação Lava Jato”, explica em nota o Ministério Público Federal.
Os fatos investigados nesta fase apuram a prática dos crimes de concussão, corrupção ativa, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Os presos serão encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba/PR, enquanto aqueles conduzidos para depoimentos serão ouvidos nas respectivas cidades onde forem localizados.
Na última fase da Lava Jato, a Operação Carbono 14, deflagrada em 1º de abril, prendeu o empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André (SP) e o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. O ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman foram conduzidos coercitivamente – quando o investigado é levado para depor e liberado. (Com informações da Agência Estado, UOL e G1)