Ministério da Fé e dos favores. Sandra Faraj nomeia 11 pastores em cargos comissionados
Cúpula da igreja comandada pelos irmãos Fadi e Sandra Faraj tem cargos no GDF e na CLDF. Um dos pastores pediu “contribuição” aos servidores
atualizado
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A deputada distrital Sandra Faraj (SD) aparelhou o quinhão de cargos que ela tem no GDF e na Câmara Legislativa (CLDF) com aliados e pastores da igreja comandada por ela e Fadi Faraj, seu irmão. Ao menos 11 integrantes do alto escalão da Comunidade Cristã Ministério da Fé estão lotados em cargos comissionados por indicação da deputada, investigada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios por supostos desvios de verba indenizatória.
Os religiosos estão espalhados por órgãos em que Sandra mantém influência, como a Administração Regional de Taguatinga e a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, além de própria CLDF. A distrital tem cerca de 400 aliados indicados nessas estruturas. Segundo pessoas ligadas à deputada, ao menos 350 frequentam o Ministério da Fé, que tem sede em Taguatinga e filiais no Plano Piloto, no Gama, no Recanto das Emas e em Santo Antônio do Descoberto (GO).
Nome de confiança da família Faraj, o pastor Ricardo Lustosa Jacobina foi um dos ungidos para ocupar cargo de destaque no GDF. Lustosa, que é o administrador de Taguatinga, recebe R$ 14,4 mil mensais pelo cargo comissionado.Outros dois pastores do Ministério da Fé são subordinados diretamente a Lustosa: Bruno Anderson de Lima Cardoso de Brito, assessor especial do gabinete do administrador; e Marcos Rafael Vieira Batista, assessor do gabinete (confira as remunerações abaixo).
Por meio de nota, a assessoria da Administração de Taguatinga afirmou que os servidores cumprem todos os requisitos para a nomeação e que os dados deles estão no Portal da Transparência.
“Dízimo” de 30%
Em fevereiro, Sandra Faraj foi acusada por uma empresária e por um ex-servidor do gabinete dela de embolsar verba indenizatória, conforme documentos obtidos pelo Metrópoles. Em uma segunda denúncia, outro ex-funcionário da deputada-pastora afirmou que a distrital cobrava até 30% dos salários de comissionados, numa espécie de “dízimo” pela graça de a pessoa ter conseguido um emprego.
Em outro controverso caso envolvendo a instituição comandada pela família Faraj, o público, o privado e a fé se cruzam. Em um vídeo recebido pela reportagem, Hugo Sousa Lima, subsecretário de Políticas de Combate ao Uso de Drogas, da Secretaria de Justiça (Sejus), convoca os servidores a contribuir com recursos financeiros para o Ministério da Fé.
Na gravação, enviada no início de fevereiro deste ano ao grupo no WhatsApp que reúne servidores da Sejus, Hugo “desafia” e “encoraja” fiéis lotados na pasta a apresentar, no culto de domingo, “ofertas de gratidão e honra por tudo que Deus tem feito”. Hugo, que é pastor na igreja dos Faraj, recebe R$ 12 mil mensais dos cofres públicos.
Veja o vídeo
No último dia 23, a reportagem foi à Subsecretaria de Prevenção ao Uso de Drogas para conversar com Hugo. No entanto, funcionários informaram que ele não se encontrava no local por motivos de saúde. Desde então, foram feitas várias ligações telefônicas para o subsecretário, que não retornou os contatos. O último foi feito na noite desta quinta (2).
Acionada para comentar o vídeo, a Secretaria de Justiça afirmou, por meio de nota, que “os servidores são contratados por capacidade profissional, e as denúncias são infundadas e inverídicas”.
Aliados também na CLDF
Os pastores do Ministério da Fé também batem ponto na Câmara Legislativa. Sandro Soares Siqueira, por exemplo, está lotado no gabinete de Sandra Faraj e recebe, mensalmente, R$ 7.090,96 para exercer o cargo especial CL-10.
Já no bloco Juntos por Brasília, do qual Sandra faz parte, trabalha a cantora evangélica Danielle Boia, que recebe, como comissionada, R$ 3.255,96. Dani, como é chamada, faz shows frequentes no Ministério da Fé.
Por meio de assessoria, tanto Sandra Faraj quanto o Ministério da Fé afirmaram que a deputada tem sido “vítima de uma perseguição política, religiosa e ideológica”, por conta da atuação parlamentar.
Questionado sobre quanto os pastores ganham por desenvolver as atividades religiosas, o Ministério da Fé se recusou a divulgar essa informação.
No último dia 24, a ONG Adote um Distrital protocolou um pedido de abertura de processo de cassação contra a deputada Sandra Faraj. O documento ainda será analisado pela Mesa Diretora.
Confira os membros da cúpula do Ministério da Fé que estão nomeados em cargos indicados por Sandra Faraj e os respectivos salários
Administração de Taguatinga
Ricardo Lustosa Jacobina (administrador) — R$ 14.430,49
Bruno Anderson de Lima Cardoso de Brito (assessor especial do gabinete do administrador) — R$ 4.684,66
Marcos Rafael Vieira Batista (assessor do gabinete do administrador) — R$ 5.855,82
Secretaria de Justiça
Anderson dos Santos Gomes (diretor de Prevenção ao Uso de Drogas) — R$ 4.684,66
Edvaldo Francisco de Souza (gerente de almoxarifado) — R$ 2.937,71
Hugo Sousa Lima (subsecretário de Prevenção ao Uso de Drogas) — R$ 12.007,79
Câmara Legislativa
Claudio Alves Cavalcante (cargo especial de gabinete CL-02) — R$ 3.880,64
Danielle Duarte Boia do Nascimento (cargo especial de gabinete CL-02) — R$ 3.880,64
Nazaré Felizarda Leite Silva (assessora comissionada CL-11) — R$ 10.016,72
Sandro Soares Siqueira (cargo especial de gabinete CL-10) — R$ 9.015,04
Willian Couto dos Santos (secretário parlamentar SP-05) — R$ 10.016,72