Em áudio, vice-governador diz que servidor do Ibram cobrou propina
Em trecho de diálogo gravado pela sindicalista Marli Rodrigues, Renato Santana afirma que o Instituto Brasília Ambiental travou a licença de um comerciante. De acordo com ele, funcionário do órgão queria dinheiro do dono de uma loja em Vicente Pires que fornece pó de serra para o Zoológico usar na baia de animais
atualizado
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O novo grampo da sindicalista Marli Rodrigues tem potencial para fazer a crise do GDF alcançar outros órgãos além da Secretaria de Saúde. Em um trecho inédito da gravação divulgada pelo Metrópoles na quinta-feira (28/7), o vice-governador Renato Santana (PSD) menciona outro suposto caso de corrupção no Executivo distrital. Desta vez, no Instituto Brasília Ambiental (Ibram). Segundo Santana, um servidor do órgão teria cobrado propina para liberar uma licença.
Embora o vice-governador não cite o nome dos envolvidos, ele revela que a vítima seria o proprietário de uma loja de materiais de construção em Vicente Pires, que vinha encontrando obstáculos para continuar a comercializar “pó de serra” — resíduo extraído quando tábuas de madeira são cortadas. O produto é destinado ao Jardim Zoológico de Brasília.“Ele entrega esse pó para o zoo utilizar na baia dos animais. Quando esse pó está vencido, ele recolhe e entrega para uma associação de chacareiros, que usa esse material como adubo. Ele fez tudo legalmente. Foi no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), pagou taxa… E o Ibram ‘cozinhando o galo dele’”, diz Santana na gravação.
No relato, Renato Santana afirma que foi até a loja e analisou todos os documentos necessários para a realização da atividade. Depois, entrou em contato com o Ibram para saber qual seria o problema em relação ao estabelecimento.
“Ligo no Ibram e o cara de lá fala assim: ‘Não (liberamos ainda a documentação), porque a gente estava com uma dúvida. Tivemos que consultar a Terracap sobre a regularização das terras’. Eu disse: ‘Meu amigo, pera aí. Ele não está tentando abrir uma madeireira, não. Ele funciona aqui há 20 anos”.
Em seguida, Santana provoca Marli: “O que você acha que é isso?”. A dirigente sindical responde: “Propina”. O vice-governador emenda: “Exato”.
Ouça o diálogo:
Até a última atualização desta matéria, o Ibram não havia respondido aos questionamentos da reportagem sobre o caso. Renato Santana também não retornou os contatos do Metrópoles para falar sobre o episódio.
iPhone no bolo
A gravação faz parte de uma conversa de 2 horas e 45 minutos mantida entre Marli Rodrigues e Renato Santana. Também estava no encontro o ex-ouvidor da Vice-Governadoria Valdecir Marques de Medeiros. A gravação foi feita em abril deste ano, na casa onde Marli morava, no Núcleo Bandeirante.
Não foi a primeira vez e também não seria a última em que a sindicalista grampeou Santana. O encontro que os dois tiveram em um restaurante da Vila Planalto também foi registrado em áudio. O lugar: Traíra sem Espinha. Houve ainda uma gravação no gabinete do próprio vice, quando a pauta era BRB. A última vez ocorreu na casa de Valdecir, em Águas Claras. O recente vazamento do conteúdo abriu uma crise política no Palácio do Buriti.
Sem chance
No áudio gravado na casa de Marli, o assunto predominante foi a chegada das organizações sociais no DF. Em, pelo menos, duas oportunidades, o vice afirma que a chance de as OSs serem implementadas na capital federal é “zero”.