Durval Barbosa afirma que repassou R$ 60 milhões a Arruda e nega que tenha mais vídeos da Caixa de Pandora
Delator do maior escândalo de corrupção na capital do país é o primeiro a ser ouvido nas audiências da ação penal que tem 19 réus. Nesta quinta (18), ele repetiu versões apresentadas anteriormente e afirmou que não tem outras gravações
atualizado
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Ao contrário do que foi dito por uma testemunha da Caixa de Pandora, de que Durval Barbosa teria mais vídeos de negociação de propina, o delator do maior esquema de corrupção da capital do país negou que tenha outras gravações: Se eu tivesse mais, poderiam pedir um mandado de prisão para mim. A declaração de Barbosa foi feita na tarde desta quinta-feira (18/2) durante a primeira audiência de instrução da ação penal sobre formação de quadrilha no esquema.
A audiência começou às 14h no auditório do Fórum Verde, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), presidida pelo juiz da 7ª Vara Criminal de Brasília, Paulo Carmona. Único a ser ouvido nesta quinta, Durval Barbosa entrou na sala às 15h48. E reafirmou detalhes do episódio, como o uso político do antigo Instituto Candango de Solidariedade (ICS) e o repasse de R$ 60 milhões ao ex-governador José Roberto Arruda.
O delator começou o depoimento falando que o ICS foi usado para que os réus arrecadassem dinheiro e contratassem cabos eleitorais, entre 2003 e 2006, período que antecedeu a eleição de Arruda ao Governo do Distrito Federal.Sobre as contratações no governo, afirmou que, a partir de 2003, algumas empresas já entravam nas licitações com a certeza da vitória. “Colocavam outras só para figurar”, afirmou. Questionado pelo MP sobre a arrecadação de propina que fez entre 2003 e 2006, Durval afirmou que repassou a Arruda, nesse período, aproximadamente R$ 60 milhões. O dinheiro foi entregue diretamente ao ex-governador ou a interlocutores, segundo Durval.
O processo corre na 7ª Vara, localizada no 5º andar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), mas como são 19 réus, com um batalhão de advogados, a audiência é realizada no auditório do Fórum Desembargador Joaquim de Souza Neto, conhecido como Fórum Verde, com capacidade para 63 pessoas.
Segundo a denúncia, entre 2006 e 2010, os réus “se associaram com o objetivo de cometer crimes contra a administração pública, com divisão de tarefas”. Para os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), “a poderosa quadrilha implantou um esquema de corrupção com a finalidade de cometer crimes, crescer politicamente e ter enriquecimento dos integrantes”. Entre os réus, estão Arruda, o ex-vice-governador Paulo Octávio, que acompanhou a audiência ao lado dos advogados, Durval Barbosa e outros ex-integrantes do governo do DF.
Durval respondeu primeiro aos questionamentos dos promotores do Gaeco, em seguida, começou a ser questionado pelos advogados dos réus e pelo juiz Paulo Carmona.
Entre as perguntas dos promotores ao delator estavam principalmente questões sobre a arrecadação de propina, o direcionamento de empresas que atuaram no governo, com a condição de repassarem altas quantias a políticos, e o reconhecimento de dívidas autorizadas pelos réus. “Uma pesquisa mostrou que Paulo Octávio estava muito acima na pesquisa para assumir a cabeça de chapa nas eleições de 2006. Precisávamos de dinheiro e ações para empatarmos, e, assim, Arruda se cacifar para sair como candidato ao GDF. Deixei claro que não poderia pedir mais de 10% (de propina dos contratos fechados pelas empresas), que é o que se pratica no mercado. Mas também passei dinheiro a Arruda a título pessoal, inclusive dólares para ele viajar”, afirmou Durval.
Durval ressaltou ainda que, em troca de apoio político, foram realizados pagamentos de propina a ex-deputados, entre eles Eurides Brito, Benício Tavares, Odilon Aires, Leonardo Prudente, Júnior Brunelli e Benedito Domingos. “Esses foram constantes. O Benedito foi comprado por R$ 6 milhões”, disparou.
Os representantes do Gaeco também questionaram Barbosa sobre a participação dos réus na suposta formação de quadrilha. Segundo o delator, Arruda era o comandante. Sobre Paulo Octávio, Barbosa afirmou que encontrou com ele três vezes na vida. “Nunca me pediu para pagar ninguém e nunca me deu ordem, porque Arruda me proibiu de falar com ele, mas não digo que ele não participou”, detalhou. Com relação a José Geraldo Maciel, ex-secretário de saúde e ex-chefe da Casa Civil, afirmou que era responsável por fazer as articulações políticas para Arruda.
Depois de seis horas do início da audiência, já reclamando do cansaço, os advogados dos réus começaram a fazer os questionamentos. Ao perguntar quando Barbosa conheceu o ex-secretário de Educação do DF José Luiz da Silva Valente, réu na ação, a defesa de Valente confundiu o nome do cliente e perguntou quando o delator conheceu “Luiz Inácio Lula”… O clima no auditório, que estava tenso, foi de piadas, inclusive se o próximo questionamento seria sobre um triplex.
Para o MPDFT, não restam dúvidas de que os réus se juntaram para lesar os cofres públicos. “Essa foi uma audiência importante. Todos os elementos foram corroborados com o depoimento do Durval. De fato, existiu uma organização criminosa voltada para o desvio de recursos e para o pagamento de propina a deputados em troca de apoio político e apoio em interesses que era da organização”, ressaltou Clayton Germano, coordenador do Gaeco.
A defesa de Arruda nega que o ex-governador tenha recebido os R$ 60 milhões e quer ter acesso ao patrimônio de Durval Barbosa. “Esse valor se converteu em bens para ele. Queremos ter acesso ao patrimônio dele, mas até agora não conseguimos”, afirmou o advogado Paulo Emílio Catta Preta.