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Demissão de emissário da propina põe Bispo Renato numa encruzilhada

Alexandre Braga Cerqueira, secretário executivo da Terceira Secretaria da CLDF, é apontado por testemunhas como interlocutor de distritais na suposta cobrança de propina envolvendo contratos da iniciativa privada com a GDF. Bispo Renato avalia se a demissão do apadrinhado amenizará a crise na Casa ou causará mais problemas

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Alexandre Braga Cerqueira
1 de 1 Alexandre Braga Cerqueira - Foto: Facebook/Reprodução

A ventania que levanta poeira na Câmara Legislativa desde a divulgação de grampos clandestinos da distrital Liliane Roriz (PTB) deve ganhar força nesta semana. E, no olho desse furacão que atinge ao menos seis distritais, um deles encontra-se num dilema. Pressionado a exonerar o servidor apontado como emissário da propina supostamente cobrada a mando de parlamentares, Bispo Renato Andrade (PR) ainda estuda o que fazer. Mas qualquer decisão terá consequências imprevisíveis.

Certo é que, se o parlamentar evangélico mantiver Alexandre Braga Cerqueira no cargo de secretário executivo da Terceira Secretaria, corre o risco de ampliar o desgaste da própria imagem caso o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) encontre provas das irregularidades. Por outro lado, se dispensar o funcionário comissionado que ele mesmo indicou para o posto, o distrital do PR despertará a fúria de Cerqueira, que poderá voltar a artilharia contra os deputados.

Agora, Bispo Rento tenta se desvencilhar do apadrinhado, atribuindo qualquer atitude criminosa à própria conduta do servidor. Por meio de sua assessoria, o distrital evangélico afirmou ao Metrópoles neste domingo (21) que, “caso sejam descobertas ilicitudes ou pedido de propina, Alexandre o fez por conta própria, e não como representante do Bispo Renato Andrade ou de qualquer outro deputado da Mesa Diretora”. A equipe do distrital não falou sobre uma eventual exoneração, mas ressaltou que o parlamentar “tomará as medidas necessárias relacionadas à investigação e também ao servidor.”

Conforme o Metrópoles revelou no último sábado (20), Alexandre Braga Cerqueira é apontado por testemunhas como sendo o responsável por cobrar propinas supostamente a mando de distritais. Os áudios gravados por Liliane Roriz sugerem que um grupo de seis deputados seria o beneficiário do esquema envolvendo a liberação de recursos para a saúde pública. São eles: os integrantes da Mesa Diretora — a presidente Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS), Júlio César (PRB) e Bispo Renato —, além de Liliane, que renunciou à vice-presidência no último dia 17, e Cristiano Araújo (PSD).

Desde que o Metrópoles revelou a identidade do suposto interlocutor dos distritais no escândalo, o clima na Câmara Legislativa ficou ainda mais tenso. Agora, a exoneração ou a manutenção de Alexandre Braga Cerqueira no cargo é encarada como um divisor de águas na crise.

Cerqueira, que recebe R$ 17 mil mensais na CLDF, é funcionário da Casa há 20 anos e também tem ligações com o ex-distrital Aylton Gomes, réu na Operação Caixa de Pandora. Hoje, responde a Bispo Renato Andrade.

Michael Melo/Metrópoles

 

Achaque a empresário
Pessoas ligadas à investigação no MPDFT confirmam que Alexandre Braga Cerqueira procurou o empresário Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores, para pedir uma “contribuição” após distritais assegurarem a liberação de recursos. Segundo depoimento do empresário ao Ministério Público, o servidor falava em nome de deputados distritais.

O defensor público André de Moura afirma que o depoimento de Assad ao MPDFT e ao Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF) é semelhante ao conteúdo de um dos grampos feitos por Liliane. Nesse áudio, o ex-secretário-geral da CLDF Valério Neves afirma que Bispo Renato e Júlio César, líder do governo na Casa, teriam tentado fazer uma negociação com o empresário. De acordo com o que Neves diz, Assad poderia intermediar contratos com a Secretaria de Educação, mas não teria levado a cabo o “compromisso”. “O Afonso disse que não poderia garantir nada”, diz Valério Neves em um dos trechos. Valério pode depor nesta segunda (22) na CLDF.

O depoimento de Afonso Assad ao MPDFT reforça essa versão. O empresário conta que os dois parlamentares o teriam procurado para um almoço. O encontro ocorreu em dezembro de 2015, em uma churrascaria. Na ocasião, Bispo Renato e Júlio César teriam convidado o empresário para entrar no esquema. “Queriam que o Afonso desse uma contribuição para eles pagarem dívidas de campanha”, garante o defensor André de Moura.

Conforme o relato de Assad ao MPDFT e ao MPC-DF, os distritais destinariam R$ 15 milhões para a Educação e outros R$ 15 milhões para a Saúde. “Eles não falaram como seria feita a divisão (no caso de propina), mas o Afonso disse que não pagaria, pois não trabalha com isso, prefere dormir de cabeça tranquila”, completa André de Moura.

Ainda segundo a denúncia investigada pelos procuradores, os supostos desvios gravados por Liliane teriam sido feitos com a sobra orçamentária da Casa de 2015. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — acabou realocado para a Saúde. O valor foi destinado ao pagamento de serviços vencidos em UTIs da rede pública. O R$ 1 milhão restante foi repassado à educação. Essa destinação de verba teria sido a razão que motivou Cerqueira a procurar Assad para cobrar propina.

Outro lado
Neste domingo (21), a reportagem tentou novamente localizar Alexandre Braga Cerqueira em três telefones celulares e um fixo, mas ele não atendeu nem retornou os contatos até a publicação desta reportagem. Por meio de um interlocutor, Afonso Assad disse que não quer comentar o caso.

O deputado Júlio César (PRB) afirmou que só vai se pronunciar sobre o caso quando tiver acesso ao processo. No momento, ele disse desconhecer as informações. Por meio de nota conjunta, os demais integrantes da Mesa negaram envolvimento com atos ilícitos. A assessoria de Cristiano Araújo afirmou que ele não vai se pronunciar por não saber o conteúdo da investigação que ocorre na Justiça. Valério Neves não foi encontrado pela reportagem.

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