Delator confirma propina de R$ 2 milhões da Via Engenharia para Agnelo
Em depoimento no dia 26 de abril de 2017, Rodrigo Leite, da Andrade Gutierrez, detalhou que a propina foi fechada em 4% do total da obra
atualizado
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A delação de Rodrigo Leite Vieira, da Andrade Gutierrez, coloca a Via Engenharia no meio das negociações e pagamentos de propina para a reconstrução do Mané Garrincha. O colaborador confirmou que a empreiteira brasiliense pagou R$ 2 milhões a Agnelo Queiroz (PT) no final de 2014, quando o petista governava o Distrito Federal. Segundo Rodrigo, o valor seria uma parte da negociação de 4% em propina a ser dada ao então número um do Palácio do Buriti sobre o valor líquido da obra – o estádio custou R$ 1,5 bilhão aos cofres do GDF.
O depoimento de Rodrigo Leite embasou o inquérito da Polícia Federal, ao qual o Metrópoles teve acesso, que desencadeou na Operação Panatenaico. A ação da PF culminou na prisão de Agnelo, do ex-governador José Roberto Arruda (PR) e do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB). Designado pela Andrade para tratar de assuntos referentes ao Mané Garrincha, o gerente comercial Rodrigo Leite disse em depoimento que lidava diretamente com Cláudio Monteiro, ex-secretário da Copa; Maruska Lima, ex-presidente da Terracap, e Nilson Martorelli, ex-diretor da Novacap. Os três também foram presos na Panatenaico.
O relato de Rodrigo Leite às autoridades data de 26 de abril deste ano. Ele contou que, ao começar a atuar na obra, foi informado sobre a existência de um esquema de pagamento de propina no empreendimento por dois superiores. Os então superintendente comercial da Andrade no Centro Oeste, Rodrigo Lopes, e gerente comercial da empresa para o Governo do Distrito Federal, Carlos José, lhe revelaram que os pagamentos ilegais eram de cerca de 4% sobre o valor líquido da obra.Somente em 2014, disse Leite à força-tarefa da Lava Jato, foram feitos 12 pagamentos a título de propina. Rodrigo Leite garantiu que a Via Engenharia, integrante do consórcio ao lado da Andrade Gutierrez, pagou R$ 2 milhões a Agnelo Queiroz. O delator teria, então, conversado com Luiz Fernando Almeida Domênico, sócio da Via, para saber os custos que a Andrade teria com esse pagamento ao então governador petista. Mas o depoimento não revela essa informação.
Veja as fotos da Operação Panatenaico:
Pagamento no canteiro de obras
De acordo com o relato de Rodrigo Leite, o intermediário de Agnelo Queiroz era Jorge Salomão, também preso na operação da PF, com quem ele combinaria, por telefone, valores a serem repassados em propina ao petista e os locais de pagamento. No dia 7 de julho de 2014, por exemplo, Salomão teria recebido R$ 50 mil no canteiro de obras do estádio.
Outra revelação de Rodrigo foi o pagamento de propina em cima de aditivos firmados no contrato: algo em torno de 1% do valor total. A negociação teria sido feita no restaurante Botarga, no Lago Sul. Segundo Rodrigo Leite, a porcentagem renderia cerca de R$ 50 milhões em repasses ilícitos, mas a conta não fecha: para que o percentual de 1% dê esse resultado, o valor total dos aditivos deveria ser de R$ 5 bilhões.
O relator, porém, ignorou a estranha matemática e passou a detalhar a divisão da propina sobre os aditivos da obra. Segundo ele, R$ 500 mil foram para Maruska Lima e R$ 500 mil para Nilson Martorelli, à época presidentes da Terracap e da Novacap, respectivamente. A Andrade Gutierrez, segundo o delator, teria ficado responsável pelo pagamento de R$ 250 mil para cada, mas entregou apenas R$ 175 para Maruska, por meio de um homem conhecido como “professor Pedro”. Para isso, foram firmados contratos fictícios com uma empresa de consultoria técnica no BRT do Gama. O delator disse que também foram pagos R$ 100 mil na casa de Martorelli, no Lago Sul.
O advogado de Agnelo Queiroz, Paulo Guimarães, informou que o ex-governador “nega enfaticamente todas as acusações contidas nos depoimentos dos delatores da Andrade Gutierrez, como esta relacionada ao recebimento ilícito de 2 bilhões de reais”. A Via Engenharia declarou que, no momento, não vai se manifestar.