Com desempenho medíocre e condenações judiciais, Liliane Roriz põe em risco herança política da família
Desgastada por ações na Justiça, deputada distrital está enfraquecida. Semana passada, a filha de Joaquim Roriz foi condenada pelo TRE por falsidade ideológica e compra de votos. Embora seja vice-presidente da Câmara Legislativa, ela não é considerada uma lider na Casa
atualizado
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Goste dele ou não, é inegável que Joaquim Roriz foi um grande líder. Enquanto esteve ativo na política, o ex-governador conquistou um volume expressivo de votos que lhe rendeu quatro mandatos pelo Distrito Federal: três à frente do Palácio do Buriti e um para o Senado. Foi ministro da República. Por Goiás, vereador e deputado federal. A popularidade dele foi tão significativa que transbordou para a família. Quando por motivos de saúde e em função das restrições da Justiça Roriz precisou passar o bastão, seus herdeiros na vida pública naturalmente vieram de dentro do seio de sua família.
Fez a filha Jaqueline Roriz primeiro deputada distrital, depois federal. Quando foi impedido pela Justiça Eleitoral, indicou para substituí-lo a mulher Weslian na disputa pelo governo do DF. Ele conseguiu transferir a ela nada menos que 30% do eleitorado brasiliense. E, agora, diante das circunstâncias, com Jaqueline inelegível por rolos judiciais, quem representa o clã na política é a caçula Liliane Roriz (PTB).
Na semana passada, no entanto, a esperança da família de manter-se na vida pública foi abatida por mais um sinal do errante e medíocre desempenho da parlamentar na política brasiliense. A única representante dos Roriz com mandato foi condenada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pelos crimes de falsidade ideológica e compra de votos na campanha de 2010. A defesa aguarda a publicação do acórdão para recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A condenção é a mais recente ação contra Liliane. Há, porém, outros processos que a tornam, inclusive, vulnerável à perda dos direitos políticos.
Aluguel de veículos
Em 2012, a distrital apresentou notas de pagamento do aluguel de veículos por um serviço que efetivamente não foi prestado. Com isso, não conseguiu comprovar o uso correto da verba indenizatória. Na época, a mulher declarada como locadora de um dos carros afirmou sequer conhecer a parlamentar.
O uso irregular da verba rendeu à distrital uma ação movida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Ela foi condenada, em primeira instância, a perder a função pública e ficar inelegível por cinco anos.
A defesa de Liliane recorreu da decisão e, em 25 de novembro do ano passado, o Tribunal de Justiça do DF e Teritórios (TJDFT) manteve a condenação por enriquecimento ilícito e danos ao erário. Ela teve que devolver R$ 7 mil aos cofres públicos. A sentença, no entanto, foi reformada e ela manteve os direitos políticos.
Apartamentos
Também em 2015, a Justiça condenou Liliane, as irmãs Jaqueline e Wesliane bem como o ex-governador por improbidade administrativa. Eles teriam facilitado um empréstimo no valor de R$ 6,7 milhões do Banco de Brasília (BRB) à construtora WRJ Engenheria, em troca de 12 apartamentos no Edifício Monet (foto acima), em Águas Claras. Os advogados da família entraram com recurso.
Liliane cometeu seus primeiros deslizes na política pouco tempo depois de se eleger pela primeira vez. Em 16 de junho de 2011, teve que pagar multa de R$ 2 mil por propaganda eleitoral irregular pintada em um muro. A ação foi proposta pelo Ministério Público Eleitoral e aceita pelo Tribunal Regional Eleitoral, que negou provimento ao recurso.
Sem prestígio
Se não bastassem os transtornos na Justiça, o desempenho de Liliane nas urnas mostra que a herdeira de Joaquim Roriz tem dificuldades de levar adiante o legado do pai. Em 2014, ela recebeu apenas 16.745 votos, sendo a 11ª colocada entre os 24 distritais eleitos para a Câmara Legislativa. A baixa votação comprometeu a agenda política de Liliane. Apesar de ser a vice-presidente da Casa, ela está fora dos principais temas da cidade.
O prestígio da parlamentar foi testado recentemente, na cerimônia que marcou a mudança dela de legenda. Aproveitando a janela partidária, Liliane saiu do PRTB e se filiou ao PTB. Seu embarque na nova sigla se deu após as negociações com Cristiane Brasil, filha do ex-deputado federal e delator do Mensalão Roberto Jefferson. Dos 24 distritais, seus colegas mais diretos, apenas Telma Rufino (sem partido) compareceu ao evento.
Com a recente mudança, Liliane tenta recuperar fôlego político. A possível saída do distrital Cristiano Araújo do partido aumentou as chances de ela, eventualmente, chegar à presidência do PTB, principalmente por conta da filiação dos pais à sigla.
Roriz tem duas filhas que tentaram herdar o legado dele, mas não estavam preparadas para isso. Elas aproveitaram o crédito do nome, mas se colocaram em confusões que podem levar ao desaparecimento do clã.
Leonardo Barreto, doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília (UnB)
“Elas não agregam ninguém em torno delas. A maior possibilidade é que sejam coadjuvantes e percam força”, sentencia Leonardo Barreto.
Para o especialista, as filhas não herdaram o talento do pai. “O problema da política baseada em relações familiares é que nem sempre as pessoas conseguem dar continuidade ao projeto do fundador do clã. São poucas as famílias que têm uma trajetória de sucesso igual aos Magalhães na Bahia, por exemplo”, completa Barreto.
O especialista destaca que a filha com maior potencial político era Jaqueline, mas a carreira dela foi interrompida em função do escândalo da Caixa de Pandora. Em 11 de setembro de 2014, Jaqueline se tornou inelegível após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manter a condenação dela por improbidade administrativa, com base na Lei da Ficha Limpa. E pelo que os fatos recentes indicam, Liliane está percorrendo o mesmo caminho.