Vice-governador fala em esquema de propina no GDF. Ouça áudio
Em gravação a que o Metrópoles teve acesso, Renato Santana diz que dinheiro da Secretaria da Fazenda destinado à pasta de Saúde é desviado por meio do pagamento de propinas de 10% sobre contratos. Na mesma gravação, presidente do SindSaúde revela que o percentual pode chegar a 30%
atualizado
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Em uma gravação, o vice-governador do Distrito Federal, Renato Santana, e a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues, falam sobre um suposto esquema de propina instalado no GDF. Uma quadrilha estaria desviando recursos da Secretaria de Fazenda destinados à pasta da Saúde.
A notícia caiu como uma bomba nos corredores do poder distrital. No áudio exclusivo, ao qual o Metrópoles teve acesso, Santana revela que tomou conhecimento de um grande esquema de corrupção, no qual os contratos da Saúde só seriam fechados mediante o pagamento de 10% de propina. Marli, no entanto, diz que ouviu falar que o percentual pode chegar a 30%.
O diálogo entre Santana e Marli foi gravado em um apartamento de Águas Claras. Na ocasião, também estava presente Valdeci Rodrigues, ex-funcionário do SindSaúde — o encontro teria sido na residência dele. Em um dos trechos mais polêmicos, o vice-governador reclama de não ter espaço algum na gestão do Distrito Federal e revela conhecer o esquema de propina, que seria de 10%. Marli conta que já ouviu falar em 30%.
Ouça o áudio:
Veja a transcrição de parte do diálogo:
Renato Santana: Autorizou o [inaudível] a pegar 10% de propina. Eu não autorizei, mas o assunto chegou pra mim. Eu me sinto… Seria um escroto não te falar.
Valdeci Rodrigues: Tá desse nível o negócio…
Marli Rodrigues: Tá desse nível? Então você tem que perguntar pra ele, se ele autorizou 30% de propina. Você tem conhecimento disso? 10% você tem conhecimento.
Renato Santana: De 10%, eu tenho. Da Fazenda. Por isso que eu tô te falando, se você tem uma chave…
Marli: Sabe o que que eu acho? Eu vou abrir essa porra, eu vou abrir essa porra. A propina corre solta ali. Se você conhece 10%…
Valdeci: É 30%???
Marli: É 30%. E tem muita gente envolvida nessa história. Sim, eu tô falando da Saúde, agora, se partir pra outros locais que a gente também conseguiu identificar, você vai encontrar muitas coisas mais, entendeu? Então, fique longe de tudo isso. Só pense, mantenha-se ímprobo de tudo isso, porque um governador que sabe que estão roubando o governo dele é conivente. Ele é conivente, é refém de uma Câmara. É refém da Câmara ou não é? Totalmente.
Nota de repúdio
O vice-governador Renato Santana publicou nota, na qual diz que “repudia ter sido alvo de gravação ilegal de conversas com terceiros”.
Segundo Santana, “assim que teve conhecimento de suposta cobrança de 10% por pagamentos efetuados na Secretaria de Fazenda, reportou imediatamente as denúncias para o próprio governador Rodrigo Rollemberg. Com relação aos relatos da presidente do SindSaúde, a dinâmica será semelhante, desde que ela aponte os agentes objeto da denúncia trazida durante a gravação”.
A sindicalista Marli Rodrigues não retornou os contatos da reportagem para comentar as denúncias.
A divulgação do áudio ocorre no momento em que o GDF tenta implantar um novo modelo de administração da saúde pública do Distrito Federal, com a transferência de parte da gestão para entidades privadas, as organizações sociais. Essa mudança colocou em rota de colisão o SindSaúde e o GDF, uma vez que o sindicato se opõe à terceirização do setor.
Nota de Rollemberg
Na noite desta sexta (15/7), Rollemberg publicou nota e diz que “determinou à Controladoria-Geral do DF que tomasse todas as providências” em relação ao caso. “O vice-governador Renato Santana chegou a se referir à possibilidade de haver irregularidades na Secretaria de Fazenda, mas a apuração feita pelo governo não identificou o nome citado por ele no quadro de servidores da pasta”. Ainda segundo o socialista, “o governo de Brasília tem confiança que o Ministério Público apurará os fatos e tomará as medidas exigidas nesse caso”. Apesar da declaração, no áudio não é possível identificar o nome de quem estaria autorizando o pagamento de propina.