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Padre Moacir: “Não vamos deixar que as ações de Satanás afetem a fé”

Paróquia São Pedro recebeu R$ 950 mil de três empresas, duas delas investigadas na Lava Jato. Doações, feitas a pedido do ex-senador Gim Argello e do ex-governador Agnelo Queiroz, foram para a festa de Pentecostes de 2014

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1 de 1 padre moacir - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Um dia após passar pela provação de ter o nome citado na Operação Lava Jato, o padre Moacir Anastácio de Carvalho celebrou uma missa na Paróquia São Pedro, em Taguatinga Sul. Embora abalado com o escândalo, o religioso reuniu centenas de fiéis para a tradicional Missa da Libertação, na noite desta quarta-feira (13/4). Nas quase três horas de cerimônia, o padre, que pode complicar ainda mais a vida de políticos e empreiteiras acusadas de corrupção, não mencionou o esquema investigado pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal e lembrou que é hora de focar na Festa de Pentecostes. O evento ocorrerá entre 8 e 12 de maio.

Foi justamente a Festa de Pentecostes que fez o líder religioso aparecer como mais novo personagem da Operação Lava Jato. Em 2014, a Paróquia São Pedro recebeu doações de empresas como a Andrade Gutierrez (R$ 300 mil) e a Via Engenharia (R$ 300 mil) — as duas empreiteiras que integraram o consórcio responsável pela construção do Estádio Mané Garrincha. A obra da arena, segundo delação de Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, foi usada para desviar recursos públicos e financiar campanhas políticas. Uma terceira doação, de R$ 350 mil, foi feita pela OAS Engenharia, empresa envolvida na Lava Jato. Esse foi exatamente o elo que levou os investigadores à instituição de Taguatinga.

Segundo padre Moacir, os R$ 950 mil doados por essas três empreiteiras foram usados pela paróquia para realizar a festa de Pentecostes. Em entrevista ao Metrópoles, o líder religioso admitiu que a quantia foi arrecadada após a intervenção de políticos. No caso, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), preso na terça (12), e o ex-governador Agnelo Queiroz (PT). O Ministério Público Federal do Paraná cobrou explicações do responsável pela Paróquia São Pedro, que enviou um documento aos investigadores.

Missa
O rosário da Lava Jato, no entanto, parecia não interessar os fiéis na noite de quarta (13). A multidão chegou antes das 19h e só foi embora no fim da missa, por volta das 22h. Durante as quase três horas da Missa da Libertação, falou-se sobre “a união da igreja em momentos de dificuldade”, sobre “rebater o mal com o bem” e “não deixar que as ações de satanás afetem a fé”.

Na abertura da celebração,o padre Moacir lembrou a importância de contribuir para o evento de Pentecostes. Depois dos pedidos de doação e de cantar pelo menos cinco hinos de louvor, o religioso recebeu aplausos dos fiéis. Ele permaneceu no altar durante toda a homilia, mas a maior parte do sermão ficou a cargo do padre Carlos Alexandre, também da Paróquia.

A reportagem do Metrópoles assistiu à missa e conversou com mais de 10 frequentadores. Todos defenderam padre Moacir Anastácio. “A igreja vive de doações. Sei que ele vai apresentar todas as notas dos eventos que realizou”, disse Alaíde Queiroz Rodrigues, 37 anos, estudante de direito, que estava com os três filhos e o marido. Moradora de Taguatinga Norte, ela frequenta a paróquia há 10 anos.

Daniel Ferreira/MetrópolesOutra fiel disse à reportagem que nem a imagem da igreja, nem a do padre ficam manchadas. “Ele fala a linguagem do povo. Todo mundo se identifica. Venho aqui há 12 anos e tenho certeza que padre Moacir mostrará como usou as doações”, afirmou a mulher, que preferiu não se identificar. “Venho à igreja para ouvir a palavra de Deus e assim continuarei a fazer. O Pentecostes é um evento caro. Vivemos de doações, não temos um patrocinador”, defendeu.

De acordo com a assessoria de imprensa do padre Moacir, ele só voltará a se pronunciar depois que entregar todos os documentos pedidos pelo Ministério Público Federal do Paraná. Uma coletiva de imprensa deve ser convocada até sexta-feira (15).

Explicações
Outros citados pelo padre Moacir se explicaram nesta quarta-feira (13). Paulo Guimarães, advogado do ex-governador Agnelo Queiroz, informou à reportagem que o petista se limitou a fazer chegar às empresas a demanda social e religiosa da igreja, que precisava do dinheiro para a realização da festa de Pentecostes de 2014. “Várias outras empresas foram informadas sobre a ajuda de que a paróquia precisava. A participação do ex-governador se encerra aí. Ele somente levou o fato ao conhecimento das empresas”, afirmou Guimarães.

“Se as empresas decidiram doar um valor determinado, isso é uma conveniência dos doadores com a paróquia. O ex-governador não tem nada a ver com o procedimento de doação ou com a quantia que as empresas decidiram doar”, completou o advogado. No que diz respeito à menção de Agnelo Queiroz na delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez, Guimarães alegou que é preciso ter conhecimento sobre o inteiro teor das apurações para depois emitir qualquer tipo de comentário.

Em nota, a Via Engenharia confirmou que doou R$ 300 mil para o evento Pentecostes em 2014. “A doação, não dedutível para fins de tributação, foi realizada por meio de transferência bancária à conta em nome da Paróquia São Pedro, devidamente registrada e contabilizada pela empresa, de acordo com a legislação fiscal e societária vigente”, disse. A empreiteira informou ainda que construiu uma “sólida relação com a sociedade local” pelas diversas obras realizadas pelo DF, e que participa anualmente de projetos com fins sociais.

Já a Andrade Gutierrez afirmou, por meio de sua assessoria, que não comentará o assunto. A reportagem tentou contato com um dos procuradores do Ministério Público Federal do Paraná. No entanto, o órgão informou que eles não falam sobre processos em andamento.

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