PF mira Novacap após delator falar em “acesso irrestrito” à empresa
Policiais federais cumpriram mandado de busca e apreensão na estatal responsável pelos contratos da obra do Mané Garrincha
atualizado
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Responsável por contratar a obra do Estádio Mané Garrincha, a Novacap foi alvo de uma ação da Polícia Federal nesta quinta-feira (1/6). Com autorização da Justiça, a corporação cumpriu um mandado de busca e apreensão na sede da empresa. Em delação, Rodrigo Lopes, ex-executivo da Andrade Gutierrez, disse que a Via Engenharia (parceira da empreiteira na reforma da arena brasiliense) tinha “acesso irrestrito” à Novacap.
De acordo com a PF, a ação desta quinta é um desdobramento das investigações iniciadas a partir da prisão, na semana passada, dos ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT), do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) e mais sete pessoas, entre elas o dono da Via, Fernando Queiroz, e o ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli.
Agentes permaneceram por cerca de duas horas na empresa, entre 8h e 10h, nas salas da presidência e das assessorias jurídica, de informática e ambiental.
De acordo com os delatores, a participação da Via nos desvios do Mané Garrincha era tão abrangente que não se restringiu a ajudar na elaboração do edital da obra da arena. Segundo Rodrigo Lopes, a influência da empresa sobre a Novacap foi “determinante” para que o consórcio ganhasse o processo para a reforma do Mané.Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF) – em 29 de setembro de 2016, no âmbito da Operação Lava Jato –, Lopes disse que a Via Engenharia tinha acesso à comissão de licitação, presidentes e diretores da Novacap, o que possibilitou o direcionamento do processo. “Isso foi feito com a inserção de cláusula que descrevia exatamente a obra executada pela Andrade Gutierrez na reforma do Maracanã, ou seja, reforma de estádio envolvendo um número determinado de assentos”, afirmou Rodrigo Lopes.
Outra cláusula restritiva envolvia o que ele chama de “pele de vidro”, referindo-se à fachada de vidro do estádio e o volume de concreto a ser usado. Itens que garantiriam a entrada do consórcio na licitação. A certeza de vencer o processo também vinha de um acordo com a Odebrecht e a OAS.
Acerto entre empreiteiras
Durante reunião entre Rodrigo Lopes, representando a Andrade Gutierrez, e dois ex-executivos da Odebrecht, o diretor de contratos Ricardo Ferraz e o diretor de mercado João Pacífico, ficou acertada a “cobertura” da Odebrecht no processo.
Pela OAS, a garantia de que o contrato seria da Andrade e da via, foi acertada em reunião com José Lunguinho, diretor comercial da empreiteira; Rodrigo Lopes, Clóvis Primo e Carlos José da Andrade, todos da Andrade, além de Fernando Queiroz, dono da Via Engenharia. Governador do DF à época, José Roberto Arruda acompanhava e dava suporte para todo o processo, de acordo com o delator.
Arruda teria feito uma intervenção a favor da OAS, alegando que a empresa viabilizaria parte dos recursos financeiros para a obra por meio da compra de um terreno localizado no Eixo Monumental, quadra 901. Não deu certo. O consórcio fechou mesmo entre a Via e a Andrade, e a obra do Estádio Mané Garrincha, orçada em cerca de R$ 600 milhões, custou mais de R$ 1,5 bilhão.
O gasto bilionário pode ser acrescido em mais de R$ 12 milhões. Conforme mostrou reportagem do Metrópoles, ainda existem restos a pagar em três contratos da obra do Mané Garrincha. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Novacap informou que está contribuindo com as investigações da Polícia Federal.
Panatenaico
Na delação de Rodrigo Leite, outro ex-executivo da Andrade Gutierrez, o ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli aparece como um dos beneficiados de propina paga durante os aditamentos contratuais da reforma do arena. Ele teria recebido R$ 500 mil.
A Via Engenharia tinha papel de protagonista no caso. Segundo Leite, o pixuleco era entregue a Martorelli por Alberto Nolli, funcionário da Via. O dono da empreiteira brasiliense, Fernando Queiroz, também foi preso na Operação Panatenaico, suspeito de fraudar a licitação para a construção do estádio em troca de pagamento de propina aos ex-governadores Agnelo Queiroz e José Roberto Arruda.
Martorelli, Fernando Queiroz e os demais presos da Panatenaico foram soltos nesta quarta-feira (31/5), depois de decisão do desembargador Federal Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Veja fotos do dia em que a Operação Panatenaico foi deflagrada
Cartel
Na delação, Rodrigo Lopes disse que existia um cartel de empreiteiras na capital federal ao menos desde 2006. Antes mesmo de ser eleito, Arruda ofereceu um “cardápio” de obras à Andrade Gutierrez e pediu propina de R$ 500 mil. Além disso, ainda acertou pagamento de 5% sobre o recebimento dos respectivos futuros contratos, das obras citadas, que foram licitadas.