Obra de artista carioca no Ministério da Educação está destruída e sem chance de restauração
Desenho de 15 metros quadrados feito por Gilda Reis Neto Puletti, uma das artistas mais queridas por Oscar Niemeyer, está esquecido no 9º andar do ministério
atualizado
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O mural da artista Gilda Reis Neto Puletti que, nos anos 1960, enfeitava o salão nobre do ministro da Educação com pompa e circunstância, está desmanchando. Não fosse o vidro usado para proteger o que restou da obra, talvez estivesse totalmente esquecido dentro da sala que acomoda os assessores de comunicação do Ministério da Educação.
Os semblantes das crianças retratadas no painel de 15 metros quadrados que ocupa uma parede do 9º andar do MEC estão desconfigurados. A mulher que os acompanha no desenho – e um dia lançou um olhar sério aos visitantes do recinto – não tem mais feições. Toda a pintura de seu rosto descascou. As curvas geométricas e cores em tom pastel do quadro são hoje um retrato do descaso do Poder Público com seu patrimônio.
Um histórico de abandono
O arquiteto Oscar Niemeyer encomendou o painel à artista carioca nos anos 1960. Algumas décadas depois, o ministro da Educação deixou de trabalhar no 9º andar. Os funcionários que passaram a ocupar o ambiente se incomodaram com a desigualdade ressaltada no painel e o esconderam com tapumes.
Apenas em 1992 o desenho voltou a ver a luz. Carlos Xavier, da equipe de preservação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), percebeu a obra de arte escondida atrás das madeiras. O painel estava repleto de infiltrações e havia vários pedaços do mural espalhados pelo chão. Logo em seguida, o MEC tentou contratar uma equipe para recuperar a obra, mas não obteve sucesso. Decidiu apenas proteger o mural com portas de vidro.
Falta de interesse
Em 2012, o desenho estava ainda mais destruído, por conta de uma reforma feita na sala para recuperar a fiação elétrica. De acordo com o Ministério da Educação, uma nova tentativa de recuperação da obra foi frustrada. A justificativa é que nenhum dos especialistas consultados para fazer a restauração quis executar o serviço.
O restaurador José Roberto Furquim contesta a informação prestada pelo MEC. Conhecido por restaurar obras de locais como o Palácio do Itamaraty, ele conta que apresentou três propostas, a pedido do próprio ministério, e não recebeu nenhuma resposta. “Passei meses elaborando um projeto de recuperação, mas ninguém quis levar adiante”, garante.
Ele admite que o custo da recuperação – R$ 70 mil – deve ter “afugentado” o MEC. “Um custo módico, se comparado ao valor da obra”, defende.
A obra é o único mural da artista que ainda está de pé – mesmo que em frangalhos. Nos outros quatro locais da cidade que abrigavam os painéis de Gilda, os desenhos foram pintados sem dó. Será esse o destino do que resta do painel no Ministério da Educação?
Confira uma galeria de fotos do mural destruído: