“Se eu tivesse que matar um frango, morreria de fome”, diz Constantino
O fundador da Gol Linhas Aéreas enfrenta o tribunal do júri pelo homicídio do líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito
atualizado
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O Tribunal do Júri de Taguatinga retomou, nesta terça-feira (9/5), o julgamento do empresário Nenê Constantino, 86 anos. O fundador da Gol Linhas Aéreas é acusado de ser o mandante do assassinato do líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito, morto em 2001.
O empresário foi o terceiro réu a ser ouvido durante o dia. Logo no início de seu depoimento, afirmou que era inocente, não conhecia a vítima e não sabia quem tinha matado Márcio. “Só soube da morte dele dois dias depois. Se eu tivesse que matar um frango, morreria de fome”, chegou a dizer o acusado.
Constantino relatou que cedeu um terreno de uma antiga garagem para funcionários morarem, mas que outras pessoas começaram a usar o local, incluindo o líder comunitário.O réu assumiu que chegou a visitar o terreno e que houve um bate-boca, mas sem agressão. “Ofereci ajuda para que pudessem se mudar”, contou Nenê Constantino. O empresário disse conhecer outros três acusados, João Alcides Miranda e Vanderlei Batista Silva, além do genro Victor Bethônico Foresti. Porém, afirmou desconhecer João Marques dos Santos.
Após responder às perguntas feitas pelo juiz, Constantino alegou estar com a saúde frágil e que só responderia aos questionamentos dos seus advogados de defesa. Assim, não foram feitas indagações pela promotoria.
A defesa do empresário perguntou sobre outro ocupante do terreno, conhecido por Padinho e que, segundo os acusados, seria o provável mandante do crime. Constantino afirmou conhecer o citado e que ele seria sócio de Márcio. “Ele era um motorista da empresa, mas foi demitido por problemas com bebida” disse o empresário sobre Padinho.
Segunda sessão
O segundo dia de sessão teve início por volta de 10h50 com a oitiva da sétima e última testemunha, o ex-diretor de RH da empresa de Constantino, Fernando Salles. Ele não deu muitos esclarecimentos.
Em seguida, foi chamado o primeiro réu, João Marques dos Santos, que usou o direito de permanecer em silêncio e só respondeu às perguntas de seu advogado. Segundo ele, a delegada do caso, Mabel de Faria, o obrigou a assumir participação no homicídio.
“Ela fez um tipo de ensaio das perguntas, sem gravar. Disse que se eu não assumisse, poderia me indiciar até por pedofilia”, disse Santos, que está preso há um ano e oito meses por agredir a esposa em Pernambuco.
O réu Vanderlei Batista Silva falou em seguida. Ele tem 75 anos e trabalhou por mais de três décadas em empresas de Constantino. Vanderlei é acusado de participar da morte de Márcio.
Em seu depoimento, porém, alegou ter visto o líder comunitário apenas uma vez, quando tentou negociar a saída dos ocupantes da garagem. No episódio, ele acabou detido por porte de arma. No dia da morte da vítima, Vanderlei disse acreditar que estava na cidade goiana de Mara Rosa, onde tinha residência e chegou a ser vereador.
Discurso confuso
Com discurso confuso, o réu por diversas vezes afirmou não lembrar dos eventos da época. Entretanto, confirmou que chegou a abrigar João Marques, outro envolvido no crime, em uma casa em Águas Lindas (GO) e ofereceu a ele um emprego em Mara Rosa. A mudança foi feita por João Alcides Miranda, que trabalhou por anos com Vanderlei.
Ainda segundo o réu, a relação com a família Constantino era intensa. Vanderlei chegou a comprar um carro Mercedes do genro de Nenê, Eduardo.
Depois foi a vez do depoimento do aposentado João Alcides Miranda, 69 anos, que começou às 15h40. O acusado afirmou que a acusação contra ele é “mentirosa”. Ele disse ainda que não sabe quem matou as vítimas. O réu é acusado de providenciar a arma de fogo para os crimes.
Ao longo do depoimento, o aposentado chorou duas vezes, ao falar da relação com a família e como estão reagindo ao processo. Miranda acusou a ex-chefe da Delegacia de Polícia Especializada (DPE) Mabel Alves Faria Correia de tê-lo induzido a falar o que queria ouvir: “Ela me coagiu”.
O empresário Vitor Foresti, 50 anos, foi o último a disse ser inocente. Foresti é genro de Constantino e foi preso em 2009, acusado de oferecer uma casa e emprego para os filhos de uma testemunha do caso. “Soube dessas acusações apenas quando fui preso e me arrependo muito de não ter me defendido na época. Mas estou à disposição para esclarecimento de dúvidas, o que não fiz em 2011.”
Por volta das 18h, o juiz João Marcos Guimarães Silva encerrou a sessão, que deve ser reiniciada às 9h de quarta (10).
Constantino passou mal à noite
No primeiro dia de julgamento, na segunda (8), Constantino passou mal após sofrer um pico de pressão e foi liberado de comparecer a todas as sessões, devido à idade avançada. Ele terá que se apresentar apenas quando os demais réus forem depor, como nesta terça (9).
Mesmo sem a presença de Constantino, o júri pôde ouvir os relatos da delegada Mabel de Faria, que conduziu as investigações do assassinato de Márcio Leonardo de Sousa Brito. Segundo ela, o empresário foi o mandante do assassinato. Ele responde por homicídio qualificado.
A vítima era um líder comunitário e, com cerca de mais 100 pessoas, ocupou um terreno onde funcionou uma garagem da Viação Pioneira, de propriedade do fundador da Gol. O crime teria sido encomendado para intimidar o grupo que estava no local.