Irmã de homem morto em delegacia: ele nunca mostrou tendência suicida
Maria Rosimeire da Silva, 51 anos, conta que o irmão tinha problemas com alcoolismo, mas nunca tinha falado em tirar a própria vida
atualizado
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A família de Giovânio Alves da Silva, 43 anos, está em choque. O homem, preso no domingo (13/8) por dirigir embriagado, foi encontrado morto na madrugada desta segunda-feira (14) em uma cela da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas). Segundo a Polícia Civil, ele se enforcou. Os familiares, no entanto, ainda tentam entender o que aconteceu: “Ele tinha problemas com a bebida, mas nunca demonstrou nenhuma tendência suicida. Isso tem que ser apurado, precisamos saber a verdade”, afirma a irmã de Giovânio, Maria Rosimeire da Silva, 51 anos.
De acordo com a parente, a família soube da prisão de Giovânio por volta da 0h desta segunda (14). Maria Rosimeire afirma que o delegado da 27ª DP ligou e informou sobre a necessidade de pagamento de fiança. “Perguntamos se podíamos quitar em cheque, mas ele disse que não. Como já era madrugada e não tínhamos dinheiro em casa, decidimos resgatar o Giovânio no dia seguinte”, contou ao Metrópoles.
Após a notícia, os familiares foram até a delegacia e ficaram sabendo que o irmão estava em uma cela com outro preso, acusado de homicídio. No entanto, o homem afirmou que estava dormindo e não tinha visto nada. Giovânio teria gritado por familiares durante toda a noite.
Sem apontar culpados, os familiares agora pedem que o caso seja apurado. “Como colocam uma pessoa que nunca foi presa ao lado de um acusado de homicídio? Como o preso que estava ao lado dele não viu nada? É tudo muito estranho, isso precisa ser investigado”, afirma a irmã.
Maria Rosimeire conta que Giovânio Alves da Silva era o caçula de cinco irmãos e trabalhava na Gráfica e Editora Ideal, prestando serviços ao Senado Federal há mais de 20 anos. Ele era solteiro, não tinha filhos e morava sozinho no Recanto das Emas. Segundo a irmã, o homem tinha problemas com alcoolismo.
“Alguns vizinhos nos disseram que ele tinha parado de beber há dois meses. Ontem, como foi Dia dos Pais, pode ter acontecido alguma coisa que o fez recair. Mas ele chegou até a ir à missa na manhã. Estamos abalados, sem saber o que fazer”, diz Maria Rosimeire.
A família está realizando os trâmites para a liberação do corpo do homem, que deve ser enterrado em Angical (BA). O pai de Giovânio, que tem 84 anos, ainda não foi informado da morte do filho porque tem problemas cardíacos e pode passar mal.
Luís Cláudio Rodrigues
O caso de Giovânio Alves da Silva ocorre exatamente um mês após a morte de Luís Cláudio Rodrigues — encontrado morto em uma cela da 13ª DP (Sobradinho) após ser preso por embriaguez. O carro que ele dirigia envolveu-se em acidente com o de um policial militar, por volta das 15h, em 14 de julho. De acordo com a Polícia Civil, o teste de bafômetro dele apontou 1,35 miligramas de álcool por litro de ar expelido.
Depois que o delegado plantonista da unidade arbitrou o pagamento de fiança para a família, um dos agentes da corporação foi até a cela e o encontrou sem vida. Segundo a polícia, ele teria se enforcado com a própria camisa.
Em depoimento à corregedoria, uma testemunha contou que ficou na unidade das 15h30 às 18h30. Por volta das 18h, ela garante ter visto um escrivão sair da DP e dizer a seguinte frase para o atendente: “O cara tá ruim! Ajuda aqui, deu merda!”. Em seguida, afirmou que o delegado teria dito, também em voz alta: “Porra, já é a terceira vez que acontece isso aqui. Não dá para entender por quê”.
O advogado que representa a família dele, Paulo César Feitosa, prepara um dossiê para denunciar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos. O resultado do laudo feito pelo Instituto Médico Legal (IML), obtido com exclusividade pelo Metrópoles, aponta que ele se matou por enforcamento.
Os parentes contestam o documento, embora não tenham tido acesso a ele ainda, e defendem que a morte foi decorrência de violência policial. “Existem casos reiterados de excessos praticados por policiais. Esse é um modus operandi da polícia e vamos denunciar”, explicou o advogado.