Gim recebeu propina parcelada em seis vezes, diz delator da Lava Jato
Empreiteiro disse que os valores teriam sido pagos no formato de doações políticas
atualizado
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Os pagamentos que o ex-senador Gim Argello (PTB) teria solicitado de empreiteiros para não serem chamados a depor na comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Petrobras foram transferidos de formas pouco ortodoxas. De acordo com depoimento do delator da operação Lava Jato e ex-presidente da empreiteira UTC Ricardo Pessoa, ele pagou R$ 5 milhões ao ex-parlamentar divididos em seis prestações.
Esses valores, segundo Pessoa, foram pagos no formato de doações políticas para uma campanha no Distrito Federal. Pessoa disse não se recordar de todos os partidos que receberam dinheiro, mas citou o DEM e o PRTB.
Não me preocupei em ver quantos partidos eram. Estava mais preocupado em fazer os parcelamentos para poder fazer frente a essa despesa que, na nossa opinião, era muito grande. Então dividimos isso em seis parcelas, sendo a primeira de R$ 1,5 milhão ou R$ 2 milhões
Ricardo Pessoa
Esses valores, segundo ele relatou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, eram resultado de uma negociação com Gim que, à época, era vice-presidente da comissão mista que investigava corrupção na estatal. Ao pagar esse valor, Gim teria dado “90% de garantia” de que Pessoa não seria chamado a depor na comissão. “Garantir 100% ninguém garante. Mas (o Gim falou): 90% eu garanto”, afirmou Pessoa.
O ex-senador Gim Argello está preso desde abril na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele é acusado de cobrar de empresários para não serem convocados na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Petrobras. Além de Ricardo Pessoa, Léo Pinheiro, da OAS, e o lobista Júlio Camargo também acusaram o ex-senador de fazer essas cobranças.De acordo com Pessoa, ele teve três encontros com o ex-senador nos meses de maio e junho de 2014. No primeiro, foram acertadas pendências pessoais entre os dois e a proposta de R$ 5 milhões foi apresentada. A reunião ocorreu de noite em uma casa de Brasília que Pessoa não soube precisar se era a casa do ex-parlamentar ou do filho dele. Na segunda, ele topou a proposta do ex-senador, apesar de reclamar que o valor era alto demais – o que motivou o parcelamento do total.
O terceiro encontro, segundo relatou o delator, foi o único que ocorreu de tarde. Nesse, ficou decidido que Paulo Roxo, emissário de Gim, é quem iria procurá-lo para encaminhar as doações eleitorais.
Pessoa afirmou, durante depoimento que foi anexado aos autos da investigação sobre Gim, que seu critério para fazer doações era garantir acesso à formulação de leis e a projetos. Com esse propósito, em 2014 sua empresa realizou R$ 54 milhões de doações. A exceção teria sido o caso de Gim. “A diferença (nesse caso) foi a contrapartida para não ser chamado na CPI”, contou.
Silêncio
O também delator da operação Lava Jato, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, foi interrogado na tarde da última quarta-feira (24/8), em Curitiba. Como a sua delação pode ser anulada, devido a um trecho que teria vazado onde ele compromete o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, ele preferiu ficar calado. Quando os delatores assinam acordo com o Ministério Público, eles são obrigados a responder a todas as perguntas.