Alunos da UnB são alvo de ataque de radicais da direita
Manifestantes teriam soltado bombas no local e estariam munidos de arma de choque e cassetetes. Polícia Civil investiga o caso
atualizado
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A Universidade de Brasília (UnB) foi palco de uma manifestação de extrema direita na noite de sexta-feira (17/6). Um pequeno grupo se concentrou no Instituto Central de Ciências (ICC), onde teria atacado estudantes com discursos de teor homofóbico e racista. Os universitários ainda foram acusados de serem “vagabundos” e de “gastarem dinheiro público”. Bombas chegaram a ser estouradas no campus. A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) investiga o caso.
Os manifestantes estavam com bandeiras do Brasil e entoavam cantos de apoio ao deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato.
“A maioria de nós ficou olhando, perplexos com o que estávamos vendo. E, quando um grupo pequeno se contrapôs, uma mulher tirou, com um sorriso frio e nefasto, uma arma de choque. Sério, ela tirou e apontou para um estudante”, disse um universitário, em depoimento nas redes sociais.
“Tinham uns dois senhores com cassetetes. E um deles gritou: ‘Isso é só o começo, vamos voltar com mais'”, completou o desabafo. Segundo os relatos, os estudantes foram alvo de xingamentos como “vagabundos” e “maconheiros”.
A Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom) informou que uma ocorrência foi registrada sobre o caso. Dois estudantes, de 19 e 21 anos, relataram que estavam saindo da UnB quando foram abordados pelos manifestantes. Eles afirmaram à polícia que o grupo proferia xingamentos e discursos ofensivos contra os estudantes.
De acordo com a Divicom, as vítimas ainda disseram que os manifestantes ameaçaram agredi-los, e que os jovens chegaram a ser seguidos por um motociclista, que atacou o veículo em que estavam com um objeto desconhecido.
O movimento estudantil Reação Universitária emitiu uma nota de repúdio às agressões de sexta. No texto, reprovou “essa manifestação intolerável de abuso e truculência, que vem se somar ao recente histórico de agressões a que assistiu a universidade nos últimos dias”.
O deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF) também emitiu nota de repúdio sobre o assunto. Ele classificou o ato como “muito grave” e afirmou que o caso deveria ser investigado pela Polícia Federal para que os envolvidos “sejam identificados, presos e levados à Justiça para responderem por esse ato criminoso de atentado contra a democracia nacional”.
“Mas isso é o ovo da serpente que vem sendo chocado ao longo dos últimos tempos. Tempos estes de discriminação aos negros, homossexuais, pobres e petistas que vem a causar absurdos como o visto ontem (sexta) na UnB. Cabe à sociedade brasileira civilizada, independentemente da cor partidária, repudiar com veemência essa atitude criminosa e fascista desses facínoras”, completou Vigilante.
Em nota, a UnB informou que reitera a postura de respeito ao direito à diversidade nos seus quatro campi e repudia qualquer ato de intolerância e de agressão. A instituição ainda completou que “a segurança do campus foi acionada e retirou o grupo do ICC, sem a necessidade de uso de força ou violência”.
Convocação
Pelo Facebook, a ativista Kelly Bolsonaro, teria convocado manifestantes para o ato. O post, publicado na última semana, pergunta se alguém de Brasília estaria “afim de participar de uma ação na UnB”. Ela esteve na universidade na sexta.
Paralisação no segundo semestre
O episódio ocorreu dez dias após a realização de uma assembleia da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), em que foi sugerida a apresentação de uma proposta para que o segundo semestre da UnB não se inicie até que a presidente afastada Dilma Rousseff volte ao comando do governo. O Diretório Central dos Estudantes (DCE/UnB) convocou os alunos para uma pesquisa sobre a possibilidade de greve estudantil na instituição. No entanto, a maioria dos estudantes votou contra a proposta.
No último dia 8, um grupo de professores da instituição iniciou as discussões sobre a paralisação. Em assembleia da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) que reuniu 148 professores, o pós-doutor em bioética Volnei Garrafa sugeriu que a delegação da ADUnB apresente, no congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em Roraima, uma proposta para que o segundo semestre da UnB não se inicie até que a presidente afastada Dilma Rousseff volte ao comando do governo.
A página do Diretório Central dos Estudantes (DCE) no Facebook chegou a divulgar que a associação teria aprovado um indicativo de greve. No entanto, o presidente da ADUnB, Virgílio Arraes, esclareceu que a maioria dos docentes presentes na assembleia entendeu que a petista foi alvo de um golpe, e explicou: “Essa sugestão ainda será encaminhada. Vale lembrar também que a instituição tem cerca de 2,5 mil professores. As deliberações foram discutidas por apenas 142 pessoas”, apontou. O encontro do Andes está marcado para iniciar em 27 de junho.