Projeto de alfabetização do DF leva garis para a sala de aula
Cerca de 50 trabalhadores do Serviço de Limpeza Urbana começam a entender o mundo por meio da leitura e da escrita
atualizado
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Ler um livro ou uma reportagem, orientar-se por placas, entender um comunicado. As situações cotidianas só passaram a fazer parte da rotina de 50 trabalhadores do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) nos últimos dois meses. Os garis, que aos poucos descobrem um novo mundo por meio da leitura e da escrita, fazem parte do curso de alfabetização promovido pela companhia de limpeza em parceria com a Sustentare Saneamento e a Universidade Católica de Brasília (UCB). A iniciativa teve início quando funcionários do SLU perceberam que alguns colaboradores tinham dificuldades para entender comunicados da empresa.
E, mesmo com apenas dois meses de aulas, a vida dos garis já é outra. “Agora entendo melhor as placas e vejo como as palavras são escritas do jeito certo”, conta Lilian da Silva Moraes, 30 anos. Segundo ela, até a vida pessoal teve mudanças. “Tenho mais paciência com meus filhos porque, se a professora tem calma para me explicar as coisas, também tenho de ser assim com eles”, conta Lilian.Alguns profissionais, como Lilian, já tinham alguma noção das palavras, mas há quem começou o aprendizado quase do zero. É o caso de Antônio Bonfim, de 65 anos. “Quando pequeno, precisava de dinheiro para estudar e acabei indo trabalhar. Sabia escrever só o meu nome. Agora, quero aprender mais. Já consigo saber as letras nas placas, só tenho um pouco de dificuldade de juntá-las”, conta, com um sorriso no rosto.
As aulas não mudam a percepção do mundo apenas para os estudantes. Os professores também têm sido tocados pela experiência Williane Carvalho é coordenadora na Sustentare, mas se voluntariou para o desafio de alfabetizar os garis. “É bastante diferente de ensinar crianças, pois eles são adultos e têm um contexto próprio. Passaram a vida toda falando de uma forma e, às vezes, encontram dificuldade de diferenciar a linguagem oral da escrita”, relata.
A metodologia do curso foi desenvolvida pela UCB, por meio do projeto filantrópico “Alfabetização Cidadã”, que atende jovens e adultos. Os professores utilizam situações próximas da realidade dos alunos para desenvolver a leitura. “Peço que escrevam sobre o dia a dia deles. Uso as letras do nome para ensinar novas palavras, por exemplo”, conta Williane.
Os resultados têm superado as expectativas da alfabetizadora. “Muitos já conseguem ler placas e escrevem pequenos textos. É uma emoção muito grande ver essa evolução e perceber que o mundo tem outro significado para eles”, diz Williane, emocionada.
Para garantir a participação dos garis, as lições são ministradas durante o expediente. Os participantes trabalham das 7h as 13h e, depois, vão para a sala de aula, das 14h às 15h20, duas vezes na semana. A formatura está marcada para o dia 8 de dezembro, e será na Universidade Católica.