Difícil aprender desse jeito. Alunos da rede pública reprovam qualidade do ensino e estrutura das escolas
Pesquisa da Codeplan mostra que 70,5% de quem frequentou o colégio está insatisfeito com as condições das salas de aula. E a situação não deve melhorar muito, admite secretário
atualizado
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O ano letivo de 2015 na rede pública de ensino do DF só termina nesta sexta-feira (15/1), mas a Secretaria de Educação já pensa na volta às aulas, em fevereiro, uma vez que há muita coisa para fazer e poucos recursos. Um desafio para a área, que entra 2016 com a tarefa de melhorar o ensino e aumentar o grau de satisfação de pais e alunos. Uma pesquisa realizada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) mostra que 70,5% dos brasilienses que frequentaram as escolas no ano passado avaliaram a qualidade dos colégios como regular (34,18%), ruim (16,73%) ou péssima (19,59%).
A qualidade das aulas também não agradou. E não foi reprovada por pouco. Para 51,97% dos entrevistados, o ensino na rede pública é regular (33,99%), ruim (9,48%) ou péssimo (8,50%). O secretário de Educação, Júlio Gregório, assume que a situação das escolas não é boa.“A rede pública de ensino ficou muito tempo sem a devida atenção. Temos ciência que alguns colégios estão em condições ruins, causando uma má impressão aos usuários”. Entretanto, o responsável pela pasta adianta que, por enquanto, não haverá melhorias de grande porte.
Devido ao momento financeiro, questões estruturais terão prioridade. Se um colégio estiver com a pintura descascada e problemas da rede elétrica, por exemplo, o foco será apenas a parte elétrica. Será assim enquanto não tivermos fôlego para investimentos maiores.
Júlio Gregório, secretário de Educação
Para o secretário de Educação, a impressão deve melhorar com os resultados dos vestibulares. “Com as recentes notas no Enem e do PAS, essa percepção tende a ser mais positiva. Ainda assim, seguiremos com incentivos na formação de professores para que os índices melhorem no próximo ano”, acredita Gregório.
Precisa melhorar
Mãe de uma aluna do Centro de Ensino Médio Setor Oeste, Ana Carla Fernandes, 47 anos, afirma que a filha, estudante do 1º ano, reclama de algumas condições do colégio. “Segundo ela, existem salas que não contam com ventiladores, a iluminação não é ideal e os banheiros estão depredados. Diria que o ensino é regular, mas a estrutura precisa melhorar”, avalia a dentista.
A adolescente confirma as dificuldades. “Sentimos muito calor sem os ventiladores, o que atrapalha. Também temos receio com a segurança. Já teve um assalto dentro da sala de aula”, reclama Ana Beatriz Costa Machado, de 16 anos.
O especialista em educação e professor da Universidade de Brasília (UnB) Célio Cunha alerta que as condições longe do ideal podem atrapalhar a educação dos jovens.
“Faltam escolas e prédios que propiciem o ambiente adequado para o processo pedagógico. Uma boa qualidade de investimentos reflete uma educação de qualidade. A falta deles prejudica o ensino. Além disso, os jovens, conectados com o mundo por meio da internet e outros canais, têm contato com bons exemplos de educação dentro e fora do país, o que leva a um sentimento ainda maior de insatisfação com o colégio que frequenta”, afirma.
A visão é compartilhada também pelos professores da rede pública. “Nossas escolas, infelizmente, são muito carentes. Pouco investimento foi feito nos últimos anos, tanto no crescimento da rede, com contratação de professores e expansão do ensino integral, por exemplo, quanto na infraestrutura. Além das salas de aula, o ideal seria que houvesse quadras cobertas, laboratórios, ambientes multiuso para que a educação fosse mais completa. Com melhores condições, o número de aprovados em instituições de ensino federal, por exemplo, seria maior”, considera Cláudio Antunes, coordenador do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro).
Porém, um dos motivos de insatisfação dos pais e alunos com a rede pública de ensino são as greves dos professores. Em 2015, os docentes cruzaram os braços por 29 dias. Por isso, o ano letivo só termina nesta sexta. “Sei que os professores reivindicam melhores condições, mas eles têm que encontrar uma outra forma de fazer isso, sem prejudicar os alunos. Precisei contratar um professor particular para o meu filho não perder o estímulo de estudar para o vestibular”, conta a servidora pública Joelma Alcântara, 53 anos.
Reparos grandes e pequenos
A percepção dos usuários condiz com a avaliação feita pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal. Em novembro do ano passado, o órgão convocou uma audiência com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para debater a situação precária de prédios e obras locais, incluindo escolas.
Pelo relatório feito por especialistas, 80% dos colégios da rede pública necessitavam de reparos, pequenos e grandes.
O estudo foi feito pela Codeplan por telefone, no período entre 23 de outubro e 02 de novembro do ano passado. Foram realizadas 2.385 entrevistas, numa amostra baseada no cadastro da Central de Atendimento ao Cidadão (CAC). Dos 476.293 números registrados na central, oito mil foram sorteados.