Previdência aperta controle sobre benefícios
Várias medidas levarão a uma economia de R$ 8 bilhões em 2016, como a revisão da aposentadoria rural e do seguro defeso
atualizado
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O governo preparou um conjunto de medidas de reforço no controle dos benefícios da Previdência Social que deve garantir uma economia de R$ 8 bilhões em 2016. A estimativa de impacto das medidas já foi incluída no projeto do Orçamento enviado ao Congresso Nacional do ano que vem, mas o Ministério da Previdência ainda não anunciou oficialmente a estratégia.
Essas medidas são independentes da proposta de reforma das regras da Previdência que está sendo discutida pelo Fórum da Previdência e que não têm ainda data de encaminhamento aos parlamentares.
A lista das medidas, à qual o jornal o Estado de S. Paulo teve acesso, é encabeçada pela alteração do processo administrativo de atendimento do beneficiário do INSS para liberar mão de obra da perícia para fazer revisões em benefícios concedidos. O governo prevê ainda reavaliação dos benefícios por incapacidade temporária com duração superior a três anos.
A estratégia inclui tratativas com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que juízes fixem data para cessação do benefício. Hoje os benefícios temporários concedidos por demandas judiciais não estão sujeitos a revisão.
O governo também fará reavaliação dos benefícios por invalidez com foco em alguns grupos. Por lei, a reavaliação não pode ser feita com beneficiários em idade superior a 60 anos. As medidas atingem o chamado Benefício de Prestação Continuada de assistência social.
Esse benefício consiste em pagamento mensal de um salário mínimo a idosos com mais de 65 anos de idade e a pessoas portadoras de deficiência, de qualquer idade, que comprovem ter renda per capita do grupo familiar inferior a 1/4 de salário mínimo. Em dezembro de 2014, o benefício atendia 4,13 milhões de pessoas idosas e com deficiência, com valor total de R$ 36,17 bilhões. Em 2015, estão previstos R$ 41,5 bilhões para atendimento de mais de 4,3 milhões de beneficiários.
O governo vai proceder a uma revisão dos benefícios para evitar concessão indevida. Será atualizada a renda do beneficiário para verificar o enquadramento no critério de pobreza. Também será feito um pente-fino, com cruzamento de bases de dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Serão analisados casos em que há reversão de deficiência.
O CadÚnico é um instrumento de coleta de dados e informações com o objetivo de identificar todas as famílias de baixa renda existentes no País, para incluí-las nos programas sociais do governo federal. É a porta de entrada para 20 programas sociais, tais como o Bolsa Família, Tarifa Social de Energia Elétrica entre outros.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apontou também a previdência rural e o seguro defeso como pontos que devem ser revisados. Em rápida entrevista ao Estado, Levy afirmou que a equação previdenciária “não fica de pé” no formato atual. Para o ministro, as alterações feitas pela Medida Provisória 665 – que restringiu o acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial e ao seguro defeso – foi quase um paliativo.
O ministro levantou questionamentos sobre a sustentabilidade da Previdência Social, que deve ter em 2016 um rombo de quase R$ 125 bilhões. Segundo ele, em poucos anos, o governo passou a gastar R$ 3 bilhões com o seguro defeso, benefício pago a pescadores em período de reprodução das espécies. “Não sei exatamente qual a contribuição da pesca no PIB, mas R$ 3 bilhões para proteger os estoques de peixe é um número significativo”, disse, ressaltando que “não é evidente” que o mecanismo garante a proteção efetiva aos peixes.
Segundo Levy, apesar de o pagamento do benefício rural corresponder a aproximadamente um terço do total gasto, esse tipo de trabalhador corresponde a só 9% da população ativa do País.
A área econômica avalia como essencial o encaminhamento de medidas para a reforma da Previdência.
A reforma não terá efeito no curto prazo, mas é um importante sinal de sustentabilidade das contas públicas no médio e longo prazos. O governo pretende com a recriação da CPMF usar os recursos arrecadados para a Previdência com uma “ponte” até que a reforma tenha efeito.