Revista promove cultura do DF e reintegração de pessoas em situação de rua
Traços reproduz no DF uma ideia que já funciona em 123 cidades do mundo. A publicação será vendida em vários pontos da cidade a partir da próxima semana
atualizado
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A revista Traços começa a circular na próxima semana no Distrito Federal com a intenção de defender duas boas causas ao mesmo tempo. A primeira é divulgar e discutir a cultura na capital, numa tiragem mensal de 10 mil exemplares, vendida a R$ 5 a unidade. A outra é ajudar pessoas em situação de rua a recuperarem a autoestima e se reintegrarem à sociedade, tornando-os parceiros no projeto. Caberá a eles vender a revista em pontos determinados, como shopping e bares.
Em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, foram selecionadas 50 frequentadores dos Centros Especializados para a População em Situação de Rua (Centros POP). Há um mês, o grupo — cujos integrantes são chamados de porta-vozes — recebe treinamento em oficinas duas vezes por semana (foto no alto).
“Eles aprendem como abordar uma pessoa, o que é jornalismo, como trabalhar em grupo, que precisam seguir um código de conduta…” enumera André Noblat, diretor da publicação, que conta na equipe com jornalistas como José Rezende Jr. e o fotógrafo Bento Viana. Além disso, uma única coisa foi pedida a todos eles: que leiam mais.
Atividade inclusiva
Para cada exemplar comercializado, o vendedor embolsa R$ 4 e deve reservar R$ 1 para adquirir um novo exemplar a ser revendido. “O pagamento de R$ 1 por revista é para que eles entendam que não se trata de esmola, mas de uma atividade inclusiva e que poderá abrir portas para outras oportunidades”, explica o diretor da publicação..
Na aproximação com os possíveis beneficiários, os idealizadores do projeto se depararam, com todo tipo de problema, especialmente o uso de drogas. A prioridade, porém, foi dada aos que deixaram mais evidente o desejo de sair da situação em que vivem atualmente. Além dos 50 selecionados, outros 23 inscritos formam uma lista de espera para ocupar vagas no caso de desistências.
A ideia não é nova. Existe em pelo menos 123 cidades do mundo, inclusive em São Paulo. Mas André Noblat levou 10 anos alimentando o plano de concretizá-la no Distrito Federal. Além da necessidade de patrocínio, havia a determinação de só levá-lo adiante quando houvesse possibilidade de se criar um cinturão de apoio ao projeto. “Tínhamos Buenos Aires como um modelo ideal. Lá, a prefeitura conseguiu criar esse cinturão de atendimento aos participantes. Em São Paulo, por exemplo, onde esse apoio não existe, o projeto enfrenta vários problemas”, conta André.
Lançamento oficial
Traços será apresentada oficialmente nesta quarta em evento, às 19h30, no Museu Nacional. Na próxima semana, poderá ser comprada na mão dos porta-vozes. A lista de pontos de venda ainda está sendo fechada, mas a maioria deverá se concentrar no Plano Piloto. “Fizemos essa opção por causa do poder aquisitivo da população e porque é no Plano que a maioria desses porta-vozes exercem a mendicância”, diz André Noblat.
O primeiro número traz entrevista com o bandolinista Hamilton de Holanda na matéria de capa, além de reportagem sobre ocupações culturais em Brasília. Inclui também um artigo da jornalista Míriam Leitão sobre mães de pessoas com deficiência e um ensaio fotográfico de Bento Viana. Até agora, os porta-vozes participam de discussões sobre a pauta, mas a ideia é que a partir do terceiro ou quarto número eles também possam produzir conteúdo.
Durante o lançamento, no Museu Nacional, a criatividade dos novos “jornaleiros” já poderá ser conferida numa mostra de fotos feitas por eles durante as oficinas de treinamento.