Com bico quebrado, tucano é operado no zoológico de Brasília
Cirurgia foi possível graças à parceria da fundação com uma clínica particular
atualizado
Compartilhar notícia
As luzes estão acesas. A maca, arrumada e coberta com um lençol azul. Bisturis e equipamentos, esterilizados. A cirurgia pode parecer comum, mas são necessárias quatro pessoas para aplicar a anestesia e segurar o paciente: um tucano de 500 gramas. Típica da região dos trópicos, a ave é comum no Cerrado brasileiro e, apesar do porte, é um pássaro frágil, especialmente o bico — ou rostro.
“O bico é poroso. Isso faz com que quebre com facilidade”, afirma o médico veterinário e dentista Roberto Fecchio. Em 23 de maio, o profissional conduziu a cirurgia que deu ao tucano Pirata um novo bico. Ele explica que as aves podem perder essa parte do corpo por disputas de território, por bater em vidros de edifícios e por maus-tratos.
De acordo com Fecchio, o rostro é fundamental para o tucano comer. Também ajuda a controlar a temperatura do animal e a atração sexual. “Vamos colocar uma prótese que vai dar mais qualidade de vida e servirá no lugar do bico, mas é funcional, não é estético”, explica o médico.
Logo após a cirurgia, que dura cerca de uma hora, o tucano já pode se alimentar normalmente. A recuperação é quase que imediata e permite ao animal ter mais conforto nas atividades regulares.
A operação é feita por médicos veterinários do zoo em parceria com profissionais de uma clínica particular de cuidados a animais silvestres, que faz um trabalho voluntário para ajudar os bichos. Fecchio integra a equipe da rede privada, que já operou outras nove aves, entre elas cinco tucanos. Essa foi a primeira vez que a cirurgia foi realizada na Fundação Jardim Zoológico de Brasília.
Prótese
Um dos donos da clínica, Rodrigo Rabello conta que o objetivo é ajudar o animal e que há uma busca integrada por uma prótese de qualidade. “Existe uma rede de profissionais de várias partes do País para que a gente produza o material a ser usado.”
Segundo Rabello, em Brasília, uma equipe parceira da clínica faz imagens digitais do bico. Elas são enviadas a um designer em Mato Grosso, que as transforma em 3D. Em grupos de rede social, os médicos conversam entre si e avaliam o resultado.
Assim que aprovado, o material é mandado para Santos (SP), onde o dentista forense Paulo Minioto converte o arquivo para a impressão em 3D. Ele também cuida do acabamento e envia aos donos da clínica. A prótese é confeccionada com material à base de milho. “É biocompatível e biodegradável”, atesta Rabello.
A prótese tem cor branca, como um gesso. Os médicos avaliaram que, como o bico serve como atrativo sexual, deve ser pintado em tons alaranjados e pretos. A tinta usada, não tóxica, é uma mistura de resina com esmalte.
Como se trata de uma rede de apoio voluntária, não há custos para o governo de Brasília.
Recuperação
Pirata foi resgatado em 24 de dezembro pela Polícia Ambiental, que o encaminhou à Universidade de Brasília. Ele já estava com o rostro machucado quando a corporação o encontrou. Na instituição de ensino, o pássaro ficou aproximadamente duas semanas, antes de ser levado ao zoológico em 5 de janeiro.
Os veterinários da fundação buscaram opções viáveis economicamente e que conseguissem reestruturar o bico do animal. Segundo o diretor do hospital, médico veterinário Rafael Bonorino, o tucano está em observação e deverá ficar no zoológico após recuperado.