“Chorei ao sair do hospital”, diz médico sobre ferido em protesto
Daniel Sabino é médico da rede pública e se compadeceu com a história de Clementino, o homem que perdeu a visão após ser atingido por tiro
atualizado
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Passado quase um mês desde que atos de violência marcaram um protesto na Esplanada dos Ministérios contra o governo de Michel Temer (PMDB) e as reformas da Previdência e Trabalhista, um médico que ajudou uma das pessoas que se feriu na manifestação usou as redes sociais para desabafar.
Daniel Sabino estava no protesto e viu quando o piauiense Clementino Nascimento Neto ficou ferido após ser atingido por uma bala de borracha na face. Ele resolveu acompanhá-lo até o hospital, onde mais tarde soube-se que Clementino havia perdido a visão de um dos olhos.
O médico, que trabalha na rede pública, relatou ter chorado ao sair do Hran e questionou autoridades e representantes do governo, que, segundo ele, não se preocuparam com a vítima.
A vítima, segundo o médico, só foi submetida à cirurgia 10 dias depois de internada. “Ele perdeu a visão e nada trará isso de volta. Se coloca todo um discurso de ódio a favor da repressão, mas isso tem consequências na vida de quem sofre esse tipo de violência”, afirmou Daniel Sabino, que acompanhou todo o desenrolar da situação por solidariedade à vítima. A história de Clementino fez Daniel usar o Facebook para um desabafo.
Clementino Nascimento tem 35 anos. É de Goianésia (GO) e, em 24 de maio, estava em Brasília apenas para participar da manifestação. Depois da cirurgia, com ajuda de familiares voltou para a cidade natal com a mulher.
A repercussão do caso fez a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) anunciar que pretende organizar uma audiência pública na Câmara dos Deputados, na próxima quarta-feira (21/6).
O objetivo do encontro é discutir assuntos relacionados à repressão em manifestações. Daniel Sabino já demonstrou interesse em participar da audiência, caso ela realmente ocorra. O médico também segue monitorando a situação de Clementino.
Violência
O protesto que levou 45 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios ocorreu no dia 24 de maio. O clima esquentou por volta das 13h40, quando um grupo de manifestantes furou o bloqueio montado pela Polícia Militar na altura do Palácio da Justiça.
A situação fugiu do controle duas horas depois. Oito ministérios foram depredados e dois incendiados. Ao todo, 49 pessoas, entre policiais e manifestantes, ficaram feridas. A violência fez o presidente Michel Temer convocar tropas federais para ocupar o centro da capital.