Vá assistir a peça “BR Trans”, ela vai pautar as conversas do país
A obra, que está em cartaz no CCBB em Brasília, é escrita e estrelada pelo ator Silvero Pereira
atualizado
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Está em cartaz no CCBB a peça “BR Trans”, escrita e estrelada pelo ator Silvero Pereira, que divide o palco com o músico Rodrigo Apolinário. E eu acho bom você ir ver, porque esse cara e essa peça vão pautar as conversas sobre cultura no país e você vai entender por quê.
Em 2002, ele integrou o coletivo As Travestidas e iniciou um trabalho de investigação do universo T (travestis, transexuais e transformistas) como exercício dramatúrgico, o que resultou em uma série de peças sobre o assunto. A que atingiu a maior repercussão foi exatamente BR Trans, feita em 2015 e indicada a prêmios naquele ano.
Por meio de um edital, esse cearense de Mombaça se mudou para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para escrever o texto que é mais do que ‘sobre ser trans’. É também uma investigação do que é o Brasil para essas pessoas, com suas semelhanças e diferenças do norte ao sul. A peça acabou por ser publicada em formato de livro pela editora Cobogó.
Silvero destaca os avanços e retrocessos das duas pontas: no Rio Grande do Sul, as Ts já têm direito à cirurgia de adequação e a uma ala carcerária específica, mas no Ceará, não. Em compensação, a primeira travesti doutora em pedagogia do Brasil foi da Universidade do Ceará, a Luma Andrade, em 2013.Com direção de Jezebel de Carli, o sucesso da peça levou Silvero muito longe. Para os Estados Unidos e a Alemanha, no Brazil Festival in Dresden. Mas como todo artista sabe, a gente dá a volta ao mundo para fazer sucesso no nosso próprio quarteirão, e Silvero também a apresentou em Mombaça (CE) e convidou as travestis da sua cidade para assisti-la. Terminou o espetáculo dedicando-o a elas.
“Se eu estou sendo aplaudido aqui é por conta de histórias que vocês, nessa cidade, durante a minha infância inteira, me negaram. E eu acho que vocês devem aplaudir então as meninas aqui presentes”, agradeceu. Hoje ele recebe notícias de que elas começaram a ser tratadas diferente, a partir das pessoas que assistiram a peça.
Nessa jornada, quando Glória Perez começou a pesquisar sobre transgeneridade para a sua novela, foi natural cruzar o caminho de Silvero e de BR Trans. Porém, o convite para integrar o elenco junto com Lilian Cabral e Humberto Martins foi fruto do seu talento como ator e de como ele nos sensibiliza como ser humano.
O personagem Nonato não estava na sinopse da novela “A Força do Querer”, Glória o fez especialmente para Silvero. Ele é contratado como motorista para vigiar a jogadora inveterada, entretanto seu visual não passa despercebido. Um cabelo comprido, traços afilados e um jeito de se comportar que tem um je ne sais quoi diferente.
Nesta semana, Nonato vai admitir ao patrão que é uma travesti e que se chama Elis Miranda. Ela precisou se masculinizar para arrumar emprego. Através da personagem, Glória vai mostrar a diferença entre a personagem Ivana, que é um homem trans, e Elis, que é uma travesti.
Elis não tem pretensões de colocar silicone ou se hormonizar. Nos próximos capítulos será mostrado sua família, sua casa e seu drama ficará mais concreto. Ela não é uma figurante na história do garoto trans. É um personagem completo, com núcleo e cenário, que fala de uma circunstância próxima, mas independente da transgeneridade.
Ao bater um papo com o Silvero, na mesa de um café, eu vi uma chama acesa. Agora, no palco, essa chama vira um vulcão em erupção e a gente sai de lá com o coração iluminado.
- BR Trans fica em cartaz até dia 21 de maio. Você ficará extremamente frustrado se perder.