O que passa na cabeça de gays e héteros quando não usam camisinha

Lembro de uma cena da novela “Avenida Brasil”, em que Suelen, personagem de Ísis Valverde, depois de ter transado com todo o Divino — bairro em que se desenrolava a história –, juntava todos os caras com quem foi para a cama para fazer um anúncio importante. Os homens daquela situação pensaram a mesma coisa, “Meu Deus, que ela não esteja grávida, e, se estiver, que não seja meu”.

Eu estava assistindo com um amigo que, exatamente nessa hora, fez um comentário que me pareceu genial. “Se um cara que eu transei me chamasse para conversar, e com todos os outros com quem ele já transou ao mesmo tempo, eu só pensaria numa coisa: ele vai contar que tem Aids. Hétero nunca pensa que pode pegar Aids, né? Eles só pensam que a mulher pode engravidar”. Eu nunca tinha pensado sobre isso…

Realmente, naquela circunstância, ninguém, nem um único personagem, expôs qualquer preocupação no sentido do risco de ter se contaminado com HIV ou qualquer outra doença sexualmente transmissível. Se todos aqueles caras estavam com medo de serem o pai daquela criança, devia ser porque nenhum deles transou com camisinha e, ao que nos transparece, evitar uma gravidez indesejada é o principal problema que pode advir de um sexo sem proteção.

É óbvio que o fato do sexo homossexual não gerar fecundação é uma questão a menos para nos preocuparmos, entretanto, o medo de contaminação de uma DST deveria estar em primeiro lugar na lista de cuidados de quem faz sexo, independente de orientação sexual.

Não consigo deixar de ver nessa situação um ar de preconceito. Ainda há subconscientemente ou conscientemente a aproximação do vírus do HIV com os homossexuais por conta de uma “maldição” e um estilo de vida frequentemente pressuposto como promíscuo muito antes de saber se ele o é ou não.

Heterossexuais ainda se sentem imunes à contaminação pelo HIV, ou pelo menos o consideram menos provável de acontecer em comparação à natalidade inesperada. Apesar de que hoje todo mundo sabe que os riscos que se corre são todos iguais, qualquer que seja a orientação sexual. Camisinha sempre!

A ficção, neste caso, está apenas repetindo a voz mais estridente do senso comum. Gays, quando transam sem camisinha, correm para os postos de saúde fazer exame de DST e héteros vão direto para as farmácias comprar teste de gravidez e pílulas do dia seguinte. Lésbicas, até onde eu sei, é o grupo mais livre de ambos os riscos.

No fim daquele caso, Suelen acabava casando com Roniquito, o jogador do time do Divino que precisava de uma álibi para que ninguém descobrisse que era gay, e único cara que definitivamente não havia ido para a cama com ela. Mas nem ele pergunta para a moça se ela está preocupada em ter contraído alguma DST de todos aqueles homens, ou se talvez ela estaria preocupada que ela possa ter passado alguma coisa para o filho. Dá licença, mas tudo isso é bem estranho…