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“Tchau, Brasília!”: Mamonas Assassinas batem continência para a platéia do Mané Garrincha em show inesquecível

Maior sucesso da música brasileira em 1995/1996, grupo fez a última apresentação da turnê do primeiro disco, numa performance “encapetada”. Da capital, eles partem para Portugal, onde farão a sonhada turnê internacional

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Reprodução/Twitter
1 de 1 - Foto: Reprodução/Twitter

O caminho para o estádio Mané Garrincha nunca foi tão divertidamente tenso. Enquanto corria contra o relógio para chegar ao camarim dos Mamonas Assassinas, desviava de animados grupos de fãs, muitos formados por crianças, que, em coro, entoavam as letras das canções da maior sensação pop de 1996, com quase 3 milhões de CDs vendidos (Disco de Diamante) e todas as faixas tocadas à exaustão nas rádios, nas bocas e nas circunvizinhanças.

Um deles, só de garotos que nitidamente sonham em ser Dinhos, desenhava à minha frente um paredão humano saltitante, tornando o trajeto ainda mais íngreme. Com ingressos em punhos, eles enchiam o peito para cantarolar trechos de “Mundo Animal”.

Comer tatu é bom/ Que pena que dá dor nas costas/ Porque o bicho é baixinho/ E é por isso que eu prefiro as cabritas

As letras repletas de sacanagens, erros de português e uma felicidade enorme de existir editaram a trilha sonora até eu, finalmente, ficar diante dos bastidores do show, de público estimado pela produção em quatro mil fãs.

Volta marcada
Tinha a quase impossível missão de entrevistar a banda Mamonas Assassinas a pedido da editora do Metrópoles Olívia Meireles, confessa amante do grupo, que só não estava no show por conta do inevitável plantão de sábado.

A produção tinha avisado que o grupo viria a Brasília somente para realizar o show. Eles pousaram no Aeroporto, às 18h15, menos de duas horas antes do início da fuzarca e foram direto para o estádio. O avião Lear Jet 25, prefixo PT-LSD da empresa Madri Táxi Aéreo, decolará de volta com os Mamonas, às 22h05. Será preciso estar em São Paulo, no dia 3 de março, para arrumar as malas e seguir os compromissos apertados na agenda.

Reprodução/Flickr Dominique

A tensão era tanta que, ao pisar no backstage, nem percebi Dinho tomando uma “Cola-Cola” e puxando um brinde com a equipe:

Vamos comemorar. Vai ser o nosso último show

Dinho

Brasília encerra a vitoriosa (e exaustiva) turnê do primeiro disco dos Mamonas, marcada por 200 shows, até quatro por dia. Da capital federal, eles voltam para São Paulo e, depois, partem para Portugal numa primeira turnê internacional. Antes de entrar no estúdio para o aguardado segundo disco,terão as merecidas férias.

Apenas cinco minutos
Tento me aproximar sem interromper a intimidade. O clima é leve e divertido. A sensação é de estar entre amigos. Rapidamente, a fotógrafa da banda forma uma roda e me diz que tenho “longos cinco minutos”. Ela consegue reunir Dinho, Júlio Rasec e Bento Hinoto. Os irmãos Reoli sumiram no piscar de olhos. Faço uma pergunta-chave sobre a dimensão daquele sucesso e, numa metralhadora, eles respondem:

A gente sempre sonhou com isso. Mas nunca achamos que fosse tanto, nem tão rápido

Bento

Não sei por quanto tempo irão nos aguentar, mas sei que temos besteira para mais uns quinze discos

Júlio

Gosto de tudo nessa vida de artista. Viajar é legal, dar entrevista é legal, ser famoso é legal. Mas a melhor coisa do mundo é estar no palco

Dinho

E o palco estava chamando os garotos dos Mamonas. Eles correram para pôr o figurino. Eu precisava voltar na mesma velocidade para o estádio. Não queria ficar na cadeira individual e intransferível, como avisava o ingresso. Pedi para ir à pista, no meio da galera que estava a mil por hora.

Coelho maluco
O relógio marcava 19h55. De repente, os primeiros acordes, luzes, fogos artificiais e gritos ensurdecedores. Um empurra-empurra anunciava a entrada de Dinho, vestido de coelho maluco, cantando a debochada “Chopis centis”.

Vamos pular Brasília

Dinho

O pedido, totalmente desnecessário já que os fãs estavam literalmente no ar, acelerou a energia da massa, que acompanhava na garganta a música – palavra a palavra. Ao vivo, o som dos Mamonas era mais punk-rock do que se possa imaginar. “Jumento Celestino” mostrou a afinidade do rock com o baião, com direito a Dinho xaxando no palco.

Banda de feras

Nessa segunda canção, era possível ver o peso e a importância da banda, que orbitava em torno do vocalista pop, desejado pelas fãs enlouquecidas à beira do palco. As cordas elétricas de Bento Hinoto (guitarra e violão) e de Samuel Reoli (baixo) ladeavam um Dinho performático, enquanto a bateria de Sérgio Reoli e o teclado de Júlio Rasec se destacavam na retaguarda em dois “elevados” de madeira.

Podia até ser besteirol, mas era rock´n´roll porrada, que veio, sem piedade, com “1406” (“Você não sabe como parte um coração, ver seu filhinho chorando querendo ter um avião”), com toda a banda pulando no palco na mesma sintonia da platéia. Quem quis bateu cabelo em “Cabeça de Bagre” e “Débil mental” (à la Sepultura).

Sessão baixaria
mamonas3O auge do show, no entanto, veio com o bloco baixaria, como denominou um Dinho encapetado no palco. “Mundo Animal” e ”Sabão Crá-Crá” puxaram a infância feliz dos fãs para o gramado do Mané Garrincha, enquanto “Robocop gay”, com Dinho de vestido de chita justo e peruca loira, aguçou o lado teatral, arrancando gargalhadas da plateia. O final da canção falou por si. A famosa “Melô do Piripiri”, de Gretchen, encaixou-se nos últimos acordes e levou Dinho a rodopiar os fartos quadris.

Delírio total!
A farra parecia não ter fim quando Dinho resolveu fazer um strip-tease ao som do tema da personagem “A Pantera Cor de Rosa” (o mesmo que Rita Cadillac fazia no “Cassino do Chacrinha”). Com uma sunga preta cavada, uma gravata e um chapéu com largos chifres de boi, ele cantou “Bois Don’t Cry”, numa homenagem explícita ao maior ídolo da fossa, o genial Waldick Soriano.

Uma hora e dez minutos depois, com a platéia aos pés da banda, Mamonas, irreverentes, mandaram um axé na veia. “Xô, Satanás”, de Asa de Águia, explodiu como um hino à felicidade.

Ao final, o megahit “Pelados em Santos” ou o “Melô da Brasília Amarela” impulsionou Dinho a descer para o gramado e cantar no meio da platéia brasiliense, despedindo-se de forma apoteótica. Delírio total.

Vamos ficar escondidos aqui atrás porque vocês vão pedir bis mesmo

Dinho

O bis anunciado veio com “Vira-Vira” num dueto cômico com Júlio Rasec, escondendo os cabelos vermelhos com um lencinho e fazendo a Maria Portuguesa.

Tchau Brasília

Dinho

A despedida de Dinho seguiu-se uma batida de continência da banda para a platéia soberana, da cidade mais rocker do Brasil.

Feliz, confesso, saí do gramado direto para o “Chopis Centis” e fui comprar o CD “Mamonas Assassinas”.

Observação: essa reconstituição do show é fictícia, mas embasada por pesquisas em vídeos, depoimentos, entrevistas e reportagens da época. O texto foi escrito no português pré-Acordo Ortográfico de 2009. 

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