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Quando o autismo vira um capítulo da história: conheça a trajetória do escritor e roteirista Gabriel Marinho

Jovem de apenas 26 anos estuda cinema e mora sozinho no Canadá. “Encaro a síndrome de Asperger como uma parte de mim, que não me define por inteiro”, diz

atualizado

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Gabriel Marinho
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O escritor e roteirista Gabriel Marinho vai completar 26 anos em março. A juventude, no entanto, parece ser um detalhe na vida do brasiliense, que estuda cinema numa universidade do Canadá desde 2012. Autor de quatro livros (dois publicados, um com lançamento previsto para abril e outro em negociação), ele traz em si uma maturidade que o lança à frente do tempo. São obras extensas, com narrativas complexas e bem construídas. Quem lê “O Mundo Sem Fim”, lançado quando tinha 19 anos, fica boquiaberto ao saber que as relações literais entre ficção científica e psicologia saíram da cabeça de um rapaz à flor da idade.

Como escritor, acredito que qualquer pessoa, independentemente da condição em que ela nasça, possui um olhar único. Esse olhar é exercitado, estimulado e alterado de acordo com a personalidade e as experiências de vida de cada um.

Gabriel Marinho

E a experiência de vida de Gabriel é singular. Diagnosticado aos 13 anos com síndrome de Aspenger (um transtorno de espectro autista), o menino vivenciou os revezes extremos da doença, como o isolamento e uma profunda depressão, até ser conduzido a um cotidiano de possibilidades, como este de morar sozinho no exterior, estudando em outra língua.

Meus pais nunca me puseram numa redoma de vidro. Mesmo sabendo da síndrome, fui criado como uma criança “normal”. Fui exposto aos perigos do mundo, cruzei com as pessoas “erradas”. De repente, me vi em encruzilhadas e fiz escolhas difíceis. Tudo foi um aprendizado. Pra mim, esse foi o meu diferencial

Gabriel Marinho

Pais soberanos
Além do tratamento clínico, os pais de Gabriel, Isolda (servidora pública e poeta) e Geraldo (contador e sambista), percorreram um caminho inverso de quem recebe o laudo de que o filho é portador da síndrome de Asperger.  Depois do choque, eles tomaram um decisão difícil: o menino precisa seguir a vida com as pernas. Aos 17 anos, lá estava Gabriel matriculado no curso de jornalismo.

Geralmente, os pais ficam tão inseguros que controlam o filho com Asperger. Acabam tomando as decisões por ele. Sei que esses pais têm boas intenções, porém, erram ao concluírem que o filho precisa viver cercado de cuidados para o resto da vida, sem descobrir o potencial que possui.

Gabriel Marinho

Mestra severa
Gabriel aprendeu que a experiência tem a forma de um mestre exigente. A do Canadá é como uma severa professora, que lhe cobra força, superação e sabedoria. A pressão é grande. Ele é o único aluno estrangeiro da turma, que ainda vence o inglês. No início, foi traumático. O curso (voltado para técnicas de roteiro) cobrava conhecimento da língua inglesa e da cultura geral.

Tudo me colocava em desvantagem em relação aos meus colegas. Apesar desta desvantagem, sempre estudei no mesmo ritmo frenético deles.  O estresse foi intenso. Tive que trancar um ano. Agora, está mais tranquilo.

Gabriel Marinho

Gabriel retomou os estudos com mais segurança.  Tem roteiros encaminhados para longa-metragem, sitcom e seriado. O talento nato para a escrita é um dom que ele não gosta de associar à síndrome. Teme que as pessoas liguem uma situação à outra e avaliem a criação por outro viés, que não seja o artístico. Em suas obras, não há personagens autistas nem discussões sobre o assunto.

O que define talento na literatura não é o distúrbio “X” ou o diagnostico “Y”, mas sim a maneira como você interpreta e se expressa a respeito do mundo em que vive.  É por isso que prefiro tratar a síndrome e a literatura de maneiras distintas.

Gabriel Marinho

Vida segue
Feliz em Toronto e sem planos para arrumar as malas e voltar ao Brasil, Gabriel quer ganhar o mundo com a escrita. Vai seguir levando tudo que construiu e viveu. Cada vez que o tempo avança, o autismo parece ficar pra trás, como um capítulo virado de uma bela história.

Encaro a síndrome de Asperger como uma parte de mim, que não me define por inteiro. Não digo que gosto, mas também não digo que odeio. Aceito e convivo bem com isso, o que é o mínimo que eu poderia fazer.

Gabriel Marinho

 

Os Livros de Gabriel

  • O mundo depois do fim (2009)
  • Breve sonho de esperança (2010)
  • Constelação de um céu nublado, que vai sair pela editora Modo entre março e abril desse ano.
  • Escrito, o quarto é outro romance, que está em negociação.

 

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