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“Aprender a sair da mesa quando o amor já não estiver sendo servido”

Sim, nascemos crus. E, até mesmo para vivenciar o amor, precisamos conhecê-lo, aprender a amar e ser amado. Mas nossas referências podem ter sido insuficientes

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Amiga, eu sei o tamanho da sua dor. Sei como ela faz desatinar, toma-lhe o norte. Sei do seu desejo de amar, do quanto essa referência é uma falta que lhe toma o peito. Sempre tomou. Era para ser simples, doce, mágico. Mas existe a realidade, e ela é dura: nem todos enxergam valor em nosso tesouro.

Às vezes, nem nós mesmos sabemos mensurar. Por isso cometemos certos equívocos. Como, por exemplo, privilegiar quem não merecia, dar-lhe um lugar de destaque sem perceber as verdadeiras intenções. Mas como conter-se diante de uma possibilidade de cura, depois de tantas feridas? Como regular algo que jorra tão fortemente de dentro do peito?

Talvez a questão seja a desmedida. As queixas dos que passavam desembocam na mesma foz: excesso de amor, impossível de ser correspondido à altura. É muita sede, muita fome de partilha. E, quando estamos guiados por esse falta, exigimos na mesma medida em que queremos oferecer. Tememos que acabe, e precipitamos o fim. Cumprimos a sina do abandono.

Aprender a amar
Sei que a origem de sua dor vem de antes da mocidade. Talvez as relações tenham sido apenas uma estratégia para aplacar uma dor anterior. O mal de precisar muito do outro para perceber os valores que tem. Típico de quem não aprendeu a se amar, a não se perceber.
Sim, nascemos crus. E, até mesmo para vivenciar o amor, precisamos conhecê-lo, aprender a amar e ser amado. Mas nossas referências podem ter sido insuficientes.

A rejeição é o foco da dor humana. Atravessa a todos nós, em maior ou menor grau. Queremos a aceitação do outro para que nos sintamos dignos da existência. E, por mais que façamos, na tentativa de mostrar nosso valor, o que buscamos no outro é a espontaneidade. E assim nos colocamos à mercê: há quem manipule nossos sentimentos, cresça por nossa vulnerabilidade.

Amor é liberdade
Não se culpe por nada. A dor de amor só lhe toca porque você está tentando, está disposta a acertar. Acredite: os que passaram são excelentes professores, até quando agiram com tirania. Eles são oportunidades para que os velhos erros não sejam repetidos. Mas não se angustie por ainda não ter acertado. Chegará sua hora. Eu acredito nisso.

Mas compreenda que a sua dor original não será sanada por quem aparecer daqui por diante. Esses serão apenas amparo, incremento para que você suporte o peso de sua história. Somente. Não exorcizarão os fantasmas de quem deveria ter sido suficientemente bom em sua vida, e não foi.

Tomara que os que cheguem possam ensinar outras formas de amar. Com mais segurança, em paz diante da espera. Quando apertamos muito algo entre as mãos, iremos deforma-lo. Ou então escapará por entre os dedos. Amar é criar solto, com liberdade para ir e vir. Assim como se faz com os filhos. Não é esse aí o dito “amor incondicional”? Todo amor é incondicional, pois não tece exigências para acontecer. Se não é assim, não é amor.

É chegada a hora da despedida. E fazer desse exercício também um aprendizado. A hora de ir embora sempre chegará, cedo ou tarde. Quando aprendemos a reverencia-la, o que é bom fica ainda melhor. Mas, como cantou Nina Simone, “você tem de aprender a sair da mesa quando o amor já não estiver sendo servido”. Sigamos.

Com amor, João.

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