É normal ficarmos “desmemoriadas” depois da maternidade?
Depois de muitas queixas do meu marido, resolvi perguntar para uma especialista e descobri que isso é muito comum
atualizado
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Cenas corriqueiras na minha vida:
– Amor, vai trabalhar até mais tarde hoje?
– Vou… eu tinha te avisado ontem. Tu não te lembra?
– Sabe aquele livro que eu estava lendo?
– …
– Aquele do Fulano, que escreveu a Trilogia de Tal.
– …
– Tu não presta atenção em nada que eu falo!
Eu, senhoras e senhores, sou a distraída das conversas. A que parece não conseguir registrar novas informações. A desmemoriada. Desde que eu virei mãe ou, mais precisamente, desde que virei mãe de dois, meu HD tem apresentado algumas falhas estranhas.
A “perda de memória” na gestação e no pós-parto é uma queixa comum das mulheres. No primeiro caso, ela ocorre como uma espécie de preparação. “Isso acontece num contexto em que a mulher está gradativamente mudando seu foco do mundo externo para o seu mundo interno, num movimento natural de preparo para a chegada do bebê”, explica a psiquiatra Aline Sant’Anna Ferreira Borsato, especialista em questões relacionadas à maternidade.Parece que as coisas mais corriqueiras passam desapercebidas, como se meu cérebro estivesse liberando espaço de dados “menos importantes” para armazenar outras mil informações acerca das crianças e do trabalho (desculpe, amor, mas isso não é uma exclusividade minha).
Embora os hormônios da gestação possam contribuir para essa “lentidão” mental, eles não são, isoladamente, os responsáveis pelo cenário, diz Aline. Segundo a psiquiatra, a perda de memória só se torna um problema se for acompanhada de outros sintomas, físicos ou psíquicos. “Se a mulher apresentar sentimento de tristeza, desânimo, falta de energia, ansiedade, insônia, é importante que passe por uma avaliação psiquiátrica”, recomenda. Via de regra, o profissional que faz o pré-natal fica atento a esses sinais.
E tem volta? Aline garante que sim, mas que o prazo para isso varia muito. “Com o passar do tempo e à medida que a mulher consegue conciliar a maternidade com as outras demandas da sua vida, a sensação de falta de memória vai se tornando menos intensa, até não mais existir”, afirma.
Por aqui, ainda estamos em busca da memória perdida.