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Caçulinha, vou te contar um segredo, achei que não conseguiria te amar

Mas me lembrei que amor de mãe, essa rocha que brota das minhas entranhas, é uma construção

atualizado

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Arquivo Pessoal
Carolina Vicentin
1 de 1 Carolina Vicentin - Foto: Arquivo Pessoal

Filho, vou te contar um segredo: eu cheguei a achar que não conseguiria te amar. Não que eu fosse ser negligente, de jeito nenhum, mas achei que seria impossível amar outra pessoa como eu amo o seu irmão. Um ou dois dias depois que você nasceu, eu deitei na cama, alisando a minha barriga murcha, e chorei por isso.

Seu pai e sua avó vieram me consolar e me fizeram lembrar que o amor de mãe, essa rocha que brota das minhas entranhas, é uma construção.

Antes que você se sinta em desvantagem por ser o mais novo, devo dizer que o mesmo aconteceu quando Miguel era um bebezinho. Acontece que, na época, eu estava muito ocupada tentando entender por que ele não dormia à noite, ou por que às vezes chorava sem motivo aparente, e pouco parei para pensar que também estávamos construindo a nossa relação.

Aliás, Solano, eu diria que você se deu bem sendo o caçula. É verdade que você já nasceu tendo que dividir tudo e que também já levava uns chutes do seu irmão antes mesmo de sair da barriga. Mas posso te garantir que eu sou uma mãe melhor para você do que fui para Miguel nessa mesma fase.

Sou melhor, filho, porque aprendi a viver um dia de cada vez, sem ânsia de ter todas as respostas. Então tudo bem você acordar de hora em hora nas suas primeiras semanas de vida, eu estava lá para te dar peito e colo e, embora exausta, sem me perguntar quando é que eu voltaria a ter uma noite inteira de sono. Tudo bem também se tivermos muitas outras madrugadas difíceis pela frente.

Arquivo PessoalTudo certo você ficar no meu colo ou no de outras pessoas sempre que quiser, Solano. Hoje eu entendo de um jeito que não entendia antes a velocidade do tempo; eu sei que você vai crescer depressa e não quero perder nem um segundo sequer com bobagens do tipo “ele vai ficar viciado em colo”. Tudo bem você adormecer comigo na minha cama, tudo bem você chorar “sem motivo”, tudo bem você ser tímido ou extrovertido.

Curioso, filho, que, com essa tranquilidade, eu pude perceber e apreciar coisas que, de certa forma, perdi com o seu irmão. A forma como seus olhinhos buscam a minha voz, os sons da sua “conversa” de neném, o constante cheiro de leite na sua boca – e na minha roupa inteira, diga-se de passagem – tudo me parece bonito, tudo me dá vontade de guardar na memória.

Talvez por tudo isso, filho, te amar foi tão fácil.

Para longe de todos os meus medos, aprendi que o amor de mãe não se divide, ele só se multiplica. Quando eu penso que você era uma ideia e que, agora, está aqui com a gente, completando a nossa família, meu coração se enche de alegria. Solano, se algum dia você quiser ter filhos, já te digo: ter dois é muito melhor do que ter só um.

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