Responsável por emitir licenças ambientais, o Ibram pediu patrocínio a empresas que dependem de autorizações do órgão para tocar seus empreendimentos
Em dois ofícios, presidente do órgão pede patrocínio para financiar seminário com a participação de 60 pessoas
atualizado
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O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) pediu patrocínio a duas empresas que aguardam autorizações do próprio órgão vinculado ao Governo do Distrito Federal, que é responsável por fiscalizar e emitir licenças ambientais a empreendimentos públicos e privados.
Dois ofícios, enviados em 18 de janeiro, aos quais a coluna Grande Angular teve acesso confirmam que o Ibram pediu apoio financeiro à JC Gontijo e à Ciplan para financiar um seminário com participação de 60 pessoas, durante quatro dias. O evento, realizado em uma fazenda do Novo Gama, começou na quinta (21/1) e terminará neste domingo (24).
No documento endereçado a José Celso Valadares Gontijo, proprietário da JC Gontijo, a presidente do Ibram, Jane Maria Vilas Bôas, apresenta sua justificativa para o evento. “Após a elaboração setorial do plano operacional deste ano, vamos promover um seminário de integração para que o adensamento técnico, as sinergias internas e a melhor organização do fluxo do trabalho venham a trazer qualidade e dinamismo ao trabalho do Ibram”, afirma.
Em seguida, Jane faz um desabafo sobre a dificuldade em subsidiar a reunião com recursos do órgão. “Dado que não temos previsão orçamentária, formalizo aqui a solicitação de apoio financeiro para que possamos fazer a imersão necessária à geração de tais resultados, no período que vai da noite do dia 22 à tarde do dia 24 de janeiro de 2016, e que terá despesas de hospedagem e alimentação para 60 pessoas”, apela. Jane é muito ligada à fundadora do partido Rede Sustentabilidade, Marina Silva, de quem se considera uma irmã.
“Negócio criminoso”
A JC Gontijo é uma incorporadora que, no momento, desenvolve ambiciosos projetos de parcelamento de áreas no Distrito Federal, como os da Saída Norte, Condomínio RK, DF-140. A Ciplan, cimenteira de grande porte, coleciona problemas ambientais. O mais conhecido no DF é o da comunidade de Queima Lençol, na Fercal, por conta das partículas de cimento expelidas pelas chaminés da fábrica que poluem o local. Em 2005, a empresa assinou um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios para diminuir o prejuízo ao meio ambiente.
Ao tomar conhecimento dos pedidos de patrocínio, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) disse que vai entrar com uma representação junto ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e ao Tribunal de Contas do DF. “Isso é uma das coisas mais absurdas que já vi, um negócio criminoso. Espero que o governador Rodrigo Rollemberg tome a posição de afastar todos os envolvidos no caso”, disse o petista.
O presidente da construtora JC Gontijo, José Celso Gontijo, afirmou não ter conhecimento sobre o pedido de patrocínio formalizado pelo Ibram à sua empresa. “Estou de férias fora de Brasília e não tive qualquer informação sobre esse pedido de verba para a realização de seminário”, alegou.
A reportagem tentou entrar em contato com a Assessoria de Comunicação do Ibram, mas ninguém atendeu às ligações. Já a gerente da Ciplan, Maria Teixeira, afirmou que a empresa costuma trabalhar em parceria com órgãos públicos: “Fizemos um repasse de R$ 3 mil em forma de patrocínio. Inclusive, nossa empresa ajuda na construção e reforma de escolas, por exemplo. Não vemos problemas em dar esse tipo de suporte”, disse.
Colaborou Carlos Carone