Cerveja também no inverno. A Bock é uma das preferidas para a estação
O estilo Bock é um dos preferidos para o inverno e esse casamento com o frio não é por acaso. Afinal, estamos falando de bebidas mais maltadas e com alto teor alcoólico
atualizado
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Einbeck é uma cidade ao norte da Alemanha que, sinceramente, não teria nenhuma razão para brilhar, não fosse pelo fato de ser o berço do estilo de cerveja mais emblemático do inverno – o Bock. Lembrou da Kaiser Bock? Então, nada a ver.
A história começa na metade do século 13, quando o vilarejo ficou famoso na rota de mercadores da Idade Média por produzir uma cerveja mais forte e gostosa que as outras, feita com malte de cevada e trigo. De tão especial, a iguaria passou a ser importada e consumida em quantidades absurdas pelos ricos duques da Bavária.
Mais de dois séculos depois, em 1590, o Duque Guilherme V passou a fabricar sua própria cerveja inspirada no estilo daquelas de Einbeck, numa tentativa de diminuir os gastos do seu reino com a compra e transporte da bebida.
Apesar de celebrada pelos bávaros, a receita “genérica” não conseguiu capturar o verdadeiro espírito da original. O impasse só foi resolvido e a paz voltou a reinar quando um mestre-cervejeiro lá de Einbeck foi contratado para fazer uma nova receita. O desafio ficou nas mãos de Sr. Elias Pichler.
Missão dada, missão cumprida! Em 1614, Elias criou uma cerveja vermelha e forte que, até hoje, chamamos de Bock. A lenda conta que os bávaros transformaram a palavra “Einbeck” em “ayn pock” e, depois, em “ein Bock” (uma bock). E o bode, por que ele gosta de aparecer nos rótulos? Bode, por acaso, é a tradução em alemão para a palavra “bock” – então, o simpático caprino acabou sendo incorporado como mascote oficial.
Hoje em dia, o estilo Bock é um dos preferidos para o inverno e esse casamento com o frio não é por acaso. Afinal, estamos falando de bebidas mais maltadas e com alto teor alcoólico. Na Alemanha, o preparo das “vermelhas” começa um pouco antes da estação gelada.
É durante os festejos da Oktoberfest que os mestres-cervejeiros iniciam a produção das primeiras levas de Bock. Essa antecedência é necessária porque a bebida precisa passar alguns meses nos tanques de fermentação até ficar perfeita.
Em novembro, quando o frio começa a dar as caras no Hemisfério Norte, as Bocks pipocam nas prateleiras. Em dezembro, as “Weihnachtsstarkbier” ganham as mesas, são as ”Bocks de Natal” — mais fortes e com maltes mais tostados. Elas também são chamadas de Dunkler Bock.
De janeiro a março, quando o inverno está literalmente moendo os ossos por lá, aparecem os estilos mais fortes: as cervejas Doppelbock, com o dobro de teor alcoólico, e as Eisbock — versões ainda mais potentes, com até 12% de ABV.
Essa temporada cervejeira é tão importante que, todos os anos, no dia 19 de março, dia de São José, o primeiro barril de Paulaner Salvator (doppelbock) é aberto pelo prefeito de Munique em celebração ao santo. Quando finalmente chega a primavera, versões mais leves conquistam paladares cansados do frio. Entram em cena a Maibock (cerveja de maio) e a Helles Bock (Bock clara).
No Brasil, a hora é agora! Da Cervejaria Bamberg (SP) vale provar as sazonais Bambergerator (doppelbock) e a Maibaum (maibock). Já a Bierbaum (SC) faz as excelentes e premiadas Bierbaum Bock e a Bierbaum WeizenBock — produzida com trigo e fermentada em altas temperaturas. A Schornstein (SC) prepara uma versão robusta do estilo clássico, com 7% de teor alcoólico. Por fim, recomendamos a Cathedral Helles Bock para uma tarde mais amena.
Na mesa, pode se empanturrar com cortes de porco, cogumelos ou massas com molhos fortes. Não por acaso, comidinhas de festa junina também ficam ótimas com essas gostosuras.
*André Vasquez e Marina Cavechia são sócios e curadores do clube de cerveja por assinatura Ohmybeer.com.br