Brasil e Universidade do Texas firmam acordo para vacina contra zika
O do Instituto Evandro Chagas informou que o imunizante será feito a partir de trechos do vírus responsáveis por desencadear resposta imune
atualizado
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O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou nesta quinta-feira (11/2), a assinatura do primeiro acordo internacional para o desenvolvimento de vacina contra zika. A parceria foi feita entre a Universidade do Texas e o Instituto Evandro Chagas, no Pará. De acordo com Castro, a estimativa é que o produto esteja concluído em até dois anos. Terminado esse prazo, teriam início os testes. “Podemos ter a vacina em até três anos no total. Pesquisadores estão otimistas”, disse o ministro.
O pesquisador Pedro Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas, informou que o imunizante será feito a partir de trechos do vírus responsáveis por desencadear resposta imune. Esses fragmentos seriam inseridos em uma espécie de cápsula formada também com material do vírus, mas que não teria risco de provocar a infecção no paciente. “O Brasil ficará encarregado de fazer o sequenciamento do vírus e testes em animais”, contou Vasconcelos. O pesquisador afirmou que o sequenciamento do vírus realizado no Instituto já está na sua fase final. O governo brasileiro deverá investir US$ 1,9 bilhão nos próximos cinco anos.
Castro mais uma vez afirmou que não faltarão recursos para desenvolvimento da vacina. “Dinheiro não é o problema”, disse. De acordo com ele, a fase inicial das pesquisas não demanda grande aporte de recursos. Investimentos mais significativos serão necessários, avisou, no período dos testes para se avaliar a eficácia e segurança da vacina.
Além dos acordos de cooperação, o ministro citou duas missões de analistas internacionais e de um convite feito à diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Chan, para uma visita ao Brasil como exemplo de que o país estaria aberto a colaborações com a comunidade científica. Os entendimentos, disse, estariam sendo feitos tanto para decifrar as dúvidas que ainda envolvem a forma de atuação do zika e quanto para desenvolvimento de instrumentos que possam evitar o avanço da doença no país e nas Américas. “A doença se transformou numa ameaça internacional”, completou. A visita da diretora vai ocorrer entre os dias 23 e 24 deste mês. “Estamos bastante abertos”, completou. De acordo com ele, essa característica teria motivado críticas no cenário internacional.
Mortes
O ministro confirmou a informação, antecipada nesta quinta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo, da terceira morte de um adulto no País relacionada ao vírus zika. O caso, de uma mulher de 20 anos moradora do Rio Grande do Norte, foi comunicado à Organização Mundial da Saúde. O óbito ocorreu em abril, dias depois de a paciente entrar no hospital com queixas de problemas respiratórios. Na época, suspeitou-se de que ela poderia ter dengue grave. Exames deram inconclusivos. O Instituto Evandro Chagas continuou a fazer análises e identificou, no fim de janeiro, que a paciente tinha zika. “Assim como outras doenças infecciosas, não podemos afirmar de forma categórica que o vírus foi a única causa da morte. Mas ele estava presente”, disse o diretor do Ministério da Saúde Cláudio Maierovitch. Ele lembrou que o caso despertou atenção pelo fato de a jovem, que não apresentava problemas de saúde anteriores, ter tido uma evolução da doença muito rápida.
Embora tenha repetido a frase de que não faltam recursos para ações de combate ao Aedes aegypti e para pesquisas, o ministro confirmou a informação, dada pelo jornal O Globo de que os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo teriam enfrentado demora na entrega de kits de diagnóstico para dengue. De acordo com Castro, houve problema na aquisição de testes, mas o problema já foi solucionado. “Os kits estão sendo distribuídos em todo o País”, completou.
O ministro atribuiu também à falta de testes e treinamento específico o atraso da entrada em vigor da obrigação da notificação de novos casos de zika para autoridades de saúde, a notificação compulsória. De acordo com o ministro, antes da a regra entrar em vigor, seria necessária a capacitação e credenciamento de laboratórios em vários pontos do País para o uso de kits específicos. Não há ainda prazo para a regra começar a valer. “Mas a decisão já foi tomada.”
Olimpíadas
O Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC, na sigla em inglês) vai contratar dois especialistas em doenças infecciosas para aconselhar seus potenciais atletas olímpicos que estão preocupados com o surto do zika vírus no Brasil. O diretor executivo do USOC, Scott Blackmun, enviou uma carta para todos os potenciais atletas olímpicos possíveis em que reconhece as preocupações crescentes com a doença.
“Eu sei que o surto do zika vírus no Brasil é motivo de preocupação para muitos de vocês”, escreveu Blackmun. “Eu quero enfatizar que também é para nós e que o seu bem-estar no Rio neste verão é a nossa maior prioridade”.
A carta prossegue apresentando informações transmitidas pela Organização Mundial de Saúde e pelos Centros de Controle de Doença dos Estados Unidos sobre o zika, como de que o vírus é transmitido por mosquitos, aproximadamente 20% das pessoas infectadas apresentar sintomas leves, incluindo dores no corpo, e alertando que as mulheres que consideram engravidar têm maior motivo de preocupação porque o vírus pode causar microcefalia nos bebês.
Em entrevista à revista esportiva Sports Illustrated no início desta semana, a goleira da seleção dos Estados Unidos, Hope Solo, disse que não iria ao Rio se a Olimpíada ocorresse nesse momento. “Isso nos fez perceber que precisamos fornecer informações precisas para os nossos atletas”, disse Blackmun, em entrevista à agência de notícias Associated Press. Além dessas duas contratações, o comitê vai publicar atualizações sobre o tema no website USOC.org/RioTravelUpdates.
Hope Solo reiterou a declaração após a estreia dos Estados Unidos nas Eliminatórias da Concacaf para a Olimpíada – a sua equipe goleou a Costa Rica por 5 a 0.
Tudo o que posso fazer é falar por mim. Se os Jogos Olímpicos fossem hoje, eu não iria. Felizmente, os Jogos Olímpicos são daqui a seis meses. Então, eu acredito que temos algum tempo para ter nossas dúvidas e perguntas respondidas
Hope Solo
A carta alerta ser impossível garantir a proteção total dos atletas. “Não importa o quanto nos preparamos, haverá sempre um risco associado com a competição internacional. Cada país, cada local de competição, cada esporte irá apresentar riscos diferentes e exigem diferentes estratégias atenuantes”.
Blackmun disse que o USOC está acompanhando as atualizações frequentes sobre o zika. A carta destaca que “o teste rápido para determinar se um indivíduo está infectado é esperado para um futuro próximo”.
“Em primeiro lugar, queremos garantir que os nossos atletas tenham informações precisas, porque eles estão preocupados”, disse Blackmun. “Com base no que sabemos agora, a ameaça principal é com as crianças por nascer”.