Planalto classifica situação da petista como “dramática”
“Eu vou lutar até o fim”, afirmou Dilma, de acordo com relato dos que estiveram com ela, no Palácio da Alvorada
atualizado
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A autorização da Câmara dos Deputados para a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff não pegou de surpresa o Palácio do Planalto, o PT e nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o tamanho da derrota impressionou o governo. O Planalto dá agora como praticamente certa a admissão do processo na Comissão Especial a ser instalada no Senado e considera a situação “dramática”, mas já começou a ofensiva para tentar barrar a deposição da presidente no plenário da Casa.
“Eu vou lutar até o fim”, afirmou Dilma, de acordo com relato dos que estiveram com ela, no Palácio da Alvorada. “A luta continuará até o último instante nas ruas, na Justiça e no Parlamento. Não podemos descansar. Quem pensa que eu vou renunciar pode tirar o cavalinho da chuva”, emendou a presidente, que acompanhou a votação no Alvorada, onde se reuniu com Lula – que ontem completou um mês de nomeação suspensa na Casa Civil – e com ministros do PT.
Apesar da declaração de resistência, nos bastidores o Planalto avalia que a guerra será ainda mais dura. Em conversas reservadas, dirigentes do PT diziam ontem que a única chance de sobrevivência de Dilma reside na ampliação do desgaste do vice-presidente Michel Temer.
Na noite de ontem, quando a votação do impeachment na Câmara já indicava a derrota do governo, o comentário no Alvorada era de que Temer “não vai ter paz” de hoje em diante. Dilma, mais uma vez, mostrou inconformismo com o fato de a sessão ser conduzida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara que é réu da Operação Lava Jato, acusado de desvio de recursos da Petrobras.
“Mesmo que Temer venha a ser um presidente interino, não vai aguentar três meses no cargo”, previu o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Ele é sócio de Cunha e nós vamos expor toda sua fragilidade.”
Renan
O governo aposta agora no presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para evitar que prazos de tramitação do processo sejam atropelados. A Advocacia-Geral da União (AGU) ainda avalia se recorrerá da decisão da Câmara ao Supremo Tribunal Federal. “Tudo vai depender dos sinais de Renan”, disse um ministro ao Estado.
Auxiliares da presidente admitiram, porém, que a situação ficou mais difícil por causa da larga margem de votos com que o impeachment foi aprovado na Câmara. Na prática, ocorreu o que o Planalto temia, uma goleada de “7 a 1”. Até recentemente, ministros admitiam que um governo sem 172 votos na Câmara – número que era necessário para barrar o impeachment – não tem como administrar o País.
Além disso, a tradicional política da distribuição de cargos não funciona no Senado da mesma forma que na Câmara. Atualmente, a senadora Ana Amélia (PP-RS) é o nome mais cotado para presidir a Comissão Especial que avaliará o caso e já se declarou a favor do impeachment. Ministros do “núcleo duro” do Planalto calculam que o governo tem, hoje, 28 dos 81 votos no plenário.
Na pior crise dos 36 anos do PT nem mesmo a ideia de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para convocar novas eleições tem consenso no governo e no partido.
A estratégia, porém, é defendida por muitos no Planalto como uma espécie de “contragolpe” no duelo com Temer. “Qual a legitimidade terá um vice-presidente que não foi eleito pelo voto popular?”, perguntou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias. “Impopularidade não é motivo para impeachment porque, se fosse assim, quantos governadores cairiam?”
Muitos dos que pregam a tese de novas eleições avaliam que a medida é boa para Lula. Em conversas reservadas, há quem diga no PT que o ex-presidente também pode se beneficiar do impeachment de Dilma, caso ele ocorra, porque o partido baterá na tecla de que houve um “golpe” e Lula terá tempo de construir uma narrativa para a sucessão.
“Qualquer governo que nasça de golpe não é reconhecido pelo PT”, afirmou o presidente do partido, Rui Falcão.
Logo cedo, antes das várias reuniões, Dilma fez a sua pedalada matinal, só que um pouco mais tarde do que de costume. Saiu por volta das 7h, mas preferiu encurtar o passeio de bicicleta, que durou 45 minutos. O trajeto incluiu a tradicional passada no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer, hoje o seu maior algoz.