“Não fui coletar valores, fui pegar recibos de doações”, diz Valério
Ex-secretário-geral da CLDF depôs ao juiz Sérgio Moro nesta segunda-feira (29/8). Ele é réu na Lava Jato e na Operação Drácon
atualizado
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Apontado como operador do ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF) no mega esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato, o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves negou irregularidades. Valério prestou depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, na manhã desta segunda-feira (29/8). “Não fui coletar valores, fui pegar recibos de doações”, disse (veja vídeo abaixo).
De acordo com o ex-servidor da CLDF, nas eleições de 2014, ele foi o responsável pela contabilidade e a coordenação política da Coligação União e Força, que disputou o GDF com José Roberto Arruda (PR) num primeiro momento e, depois, com Jofran Frejat (PR), quando o ex-governador desistiu da candidatura. Valério afirmou que foi designado pela coligação para “fazer a parte de recibo eleitoral”. “Não tenho nada a ver com essa história, nunca me foi informado a origem de nada”, acrescentou.Valério, que é réu em uma ação penal da Lava Jato, negou que tivesse transportado dinheiro em espécie e também assegurou que nunca participou de encontros com empresários. No entanto, admitiu que se encontrou com o presidente da UTC Engenharia, o empreiteiro Ricardo Pessoa, algumas vezes. “Uma vez foi um encontro de 15 minutos. Levamos dados de pesquisas e as contas do partido. Ele olhou, fez um calendário de doações e escreveu em um papel os valores.”
Empreiteiros
O juiz Sérgio Moro também perguntou sobre se houve contato com outras pessoas ligadas a empreiteiras investigadas na Lava Jato, e Valério confirmou que chegou a ver ao menos dois deles: Júlio Camargo, da Toyo Setal; e Leo Pinheiro, da OAS. Em uma ocasião, o ex-secretário-geral da CLDF disse que estava na casa de Gim Argello quando Camargo e Pinheiro estavam lá. “Mas ficamos em outro ambiente e não participamos da conversa.”
Contudo, Valério revela que chegou a tratar, “duas vezes”, de uma doação de R$ 2 milhões com Camargo. “Eu não tinha função de discutir valor ou de cobrá-los”, completou. Mas admitiu que, após virem à tona as denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, teve a “suspeita de que poderia haver alguma coisa (errada). Mas certeza, nunca”.
Sobre a relação com Gim Argello, Valério contou que conhece o político de Taguatinga, onde os dois moraram. Mesmo após passar anos na região administrativa, o ex-servidor da CLDF disse que nunca se encontrou com o padre Moacir Anastásio, que recebeu R$ 950 milhões em doações para a Paróquia São Pedro, em Taguatinga — parte desse valor foi transferido pela OAS, a pedido de Gim Argello. “Nunca vi o padre Moacir, nunca falei com ele na minha vida, nem pessoalmente nem por telefone.”
Prisão na Lava Jato e Operação Drácon
Valério Neves chegou a ser preso temporariamente na 28ª fase da Lava Jato, chamada Vitória de Pirro, em abril. Em agosto, prestou depoimento no âmbito da Operação Drácon, que investiga um suposto esquema de pagamento de propina a distritais em troca da liberação de recursos para o pagamento de contratos na saúde publica. Nessa ação, ele também é réu.
Roxo fala em ameaças
Outro réu preso em abril que prestou depoimento nesta segunda (29) foi Paulo César Roxo, lobista que assessorou Gim Argello. Roxo denunciou ter sido coagido por um delegado federal em oitiva feita logo após a detenção.
“Eu fui coagido, chantageado, intimidado ostensivamente de maneira pouco usual, acima do que é aceitável, entendo eu, pelo código de conduta da carreira do servidor público. O tempo todo sendo dito que se eu não colaborasse, não falasse o que o delegado queria ouvir, que a minha prisão seria convertida em definitiva – várias vezes isso, não foi uma ou duas. O tempo todo dizendo que eu precisava colaborar, que eu precisava isso”, disse Roxo, que responde por concussão, corrupção passiva, lavagem de capitais e obstrução à investigação.
As declarações do lobista motivaram uma nota de repúdio da PF. Veja a íntegra do documento:
A Polícia Federal foi surpreendida na tarde de hoje com declarações de Paulo César Roxo Ramos, réu na ação penal correspondente à 28ª fase da Operação Lava Jato, onde alega ter sido “coagido, chantageado e intimidado ostensivamente” em seu interrogatório.
Os depoimentos prestados em sede policial por Paulo César Roxo Ramos foram gravados em áudio e vídeo e seguiram todos os parâmetros legais para um ato desta natureza. Todas as suas declarações foram dadas com a mais absoluta tranquilidade e sem nenhum tipo de obstrução, sendo sempre a ele garantido direito constitucional de permanecer em silêncio e não responder às perguntas, sempre na companhia de seu advogado constituído.
Todo o material correspondente aos depoimentos do réu está à disposição do Ministério Público Federal e da Justiça Federal para as providências que se entender cabíveis ao caso.
A Polícia Federal repudia as alegações de Paulo Cesar Roxo Ramos uma vez que não refletem a postura de seus servidores que primam por uma atuação técnica, responsável e garantidora de todos os direitos fundamentais do cidadão.