My Web Day, o manual da propina da Odebrecht
Controlado por Maria Lúcia Guimarães, o guia detalha o gerenciamento de contratos da empresa, identificando os tipos de contrato, natureza do serviço, período de vigência, além de outros caminhos
atualizado
Compartilhar notícia
Primeira funcionária da Odebrecht a firmar um acordo de delação premiada e contar o que sabe sobre o complexo esquema de pagamentos de propinas da empreiteira envolvendo agentes públicos, políticos e licitações na Petrobras em outras áreas do governo federal, Maria Lúcia Guimarães Tavares mantinha em sua residência o manual completo do software desenvolvido pela própria empreiteira e que foi usado para gerenciar a contabilidade das propinas das empresas do grupo.
Rotulado de My Web Day, o sistema fazia parte do dia a dia de trabalho de Maria Lúcia na sede da empreiteira, em Salvador (BA). Em sua residência foi encontrado o manual de 62 páginas que detalha as funcionalidades do sistema de informação desenvolvido pela própria Odebrecht para uso interno na década de 1990.
Maria Lúcia fechou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato. Suas revelações deram suporte para a 26ª etapa da investigação, deflagrada na terça-feira. O impacto da Xepa acabou levando a própria Odebrecht admitir fazer o que chamou em nota de ‘colaboração definitiva’. Oficialmente, é a primeira vez que a grande empreiteira coloca seus executivos no caminho da delação.
Gerenciamento
My Web Day permite, dentre outros, o gerenciamento de contratos da empresa de forma minuciosa, identificando os tipos de contrato, natureza do serviço, período de vigência, além de outros caminhos. Trabalhando na Odebrecht desde 1977, e desde 2010 no setor de Operações Estruturadas, Maria Lúcia Tavares revelou que o sistema era utilizado por ela e seus superiores para fazer a “contabilidade paralela” da empresa.
“Esclarece que seu dia normalmente iniciava com uma checagem de seu e-mail funcional para verificar pendências; que então logava em um sistema chamado My Web Day, da Odebrecht, que era utilizado apenas pelo setor de Operações Estruturadas até onde sabe; que se outros setores da empresa utilizavam o My Web Day não era com a mesma finalidade”, afirmou Maria Lúcia. Nos próprios informativos internos da Odebrecht há o registro de que o sistema teria sido encerrado totalmente em 2012 e substituído por um outro mais moderno desenvolvido em conjunto com a empresa americana Oracle.
Maria Lúcia foi presa em 22 de fevereiro deste ano, na 23ª etapa da Lava Jato denominada Acarajé, em referência a uma das expressões utilizadas por ela e outros funcionários da Odebrecht para designar os pagamentos de propinas em dinheiro vivo da empreiteira. Na ocasião, sua casa foi alvo de buscas, e a PF encontrou, além de inúmeras planilhas e registros da “contabilidade paralela”, o manual do sistema desenvolvido para aprimorar a gestão da empreiteira e que acabou sendo desvirtuado para operar a movimentação de dinheiro ilícito.