Marcos Valério quer falar sobre delação de Delcídio
Segundo a defesa do lobista, material que corrobora o depoimento do senador será compartilhado com o Ministério Público Federal (MPF) por envolver políticos com foro privilegiado
atualizado
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A defesa de Marcos Valério Souza disse que o lobista afirmou, no depoimento que prestou nesta terça-feira (21/6), em Belo Horizonte, que se comprometeu a corroborar trechos da delação feita pelo senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) à Operação Lava Jato. Segundo o advogado de Valério, Jean Robert Kobayashi Júnior, o material será compartilhado com o Ministério Público Federal (MPF) por envolver políticos com foro privilegiado.
“O nosso acordo é que vamos chamar já um representante do MPF. Vai compartilhar, vai ser ouvido junto. Aquilo que for de competência da Justiça Federal o MPF vai tomar para ele. O que não for, vai ficar com o MP estadual”, disse o advogado.Segundo fontes que participam das negociações, Valério teria prometido entregar documentos sobre o mensalão mineiro, gênese do mensalão federal, que envolve nomes importantes do PSDB como o ex-governador de Minas Gerais (1995-1999) e ex-presidente nacional da legenda Eduardo Azeredo, condenado a 20 anos e dez anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e peculato. Valério está preso desde 2013, condenado por envolvimento no mensalão federal.
Delcídio, que foi relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Petrobrás, em 2014, disse em delação à Procuradoria-Geral da República, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), teria atuado dentro da comissão para beneficiar o Banco Rural, pivô tanto do mensalão mineiro quanto do mensalão federal.
Segundo Delcídio, quando a comissão determinou a quebra de sigilo do Banco Rural, utilizado para a lavagem de dinheiro do esquema, “curiosamente” começou a surgir “um certo incômodo por parte do PSDB”. Um dos incomodados seria Aécio, que teria enviado emissários para pedir a prorrogação da quebra de sigilos do banco.
Delcídio, disse que posteriormente o próprio Aécio, na sede do governo de Minas, teriam lhe dito que o tempo extra foi uma estratégia para “maquiar” os dados do Banco Rural que “atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais (na época)”. Azeredo é o único tucano condenado pelo mensalão mineiro. Aécio não foi investigado.
Dados
A delação de Delcídio, contudo, sugere que o esquema teria ido além da campanha de Azeredo. “A maquiagem consistiria em apagar dados bancários, comprometedores que envolviam Aécio Neves, Clésio Andrade, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcos Valério ‘e companhia'”.
Segundo o jornal O Tempo, de Belo Horizonte, Valério teria prometido aos promotores mineiros entregar os originais dos contratos com o Banco Rural que comprometeriam os tucanos, além de confirmar a delação de Delcídio. “Algumas coisas que o Delcídio falou ele vai confirmar”, disse o advogado de Valério.
O empresário cumpre pena de 40 anos de prisão no complexo penitenciário Nelson Hungria, em Contagem (MG). De acordo com o advogado, seu objetivo é conseguir uma transferência para uma cadeia da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), onde o regime é menos duro. “Umas das coisas (que Valério pede) seria a transferência para uma Apac”, disse Kobayashi.
Aécio, por meio de sua assessoria, voltou a negar as declarações de Delcídio, disse desconhecer o teor do depoimento de Valério, cobrou provas das acusações e afirmou que sua inocência será comprovada pelas investigações.