Governo admite derrota em votação do impeachment e mira no Senado
Presidente Dilma deverá fazer um pronunciamento à imprensa condenando a decisão e advertindo que vai lutar até os últimos momentos pela preservação de seu mandato
atualizado
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O governo já admitiu derrota na votação que define a autorização para a abertura do processo de Impeachment realizada neste domingo (17/4), na Câmara dos Deputados. Fontes do governo já avaliam que as chances de mudar o resultado “são zero”. A expectativa é que a presidente Dilma faça um pronunciamento à imprensa condenando a decisão e advertindo que vai lutar até os últimos momentos pela preservação de seu mandato no julgamento do Senado.
“A situação está muito difícil. O efeito manada está acontecendo e estamos perdendo votos. Nossa última conta já estava em 130. Agora, é trabalhar pelas abstenções e faltas”, afirmou um governista que articula o placar do impeachment. Para derrotar o processo, são necessários 172 votos ou evitar que a oposição reúna o mínimo de 342 votos.
Desânimo
No Congresso, o desânimo tomou conta dos governistas. Com pouco mais da metade dos votos declarados, aliados do Planalto que estão em plenário já demonstram sinais de jogar a toalha. Em número menor, aqueles que estão declaradamente ao lado da presidente agora estão sentados e em silêncio. A cena contrasta com a efusão do grupo pró-impeachment.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), concedeu entrevista coletiva e reconheceu a “derrota momentânea” do governo na votação. “Perdemos porque os golpistas foram mais fortes, comandados por Cunha”, em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por aceitar o pedido em dezembro passado.
A luta está apenas começando. A derrota é momentânea, as ruas estão conosco e temos condições de virar o jogo no Senado. Essa é uma agressão à legalidade democrática.
José Guimarães
Ainda segundo o líder, nesta segunda-feira (18) começará uma “guerra prolongada”. Segundo ele, os deputados de oposição não têm “autoridade moral” para falar em ética e corrupção. “O governo reconhece essa derrota provisória porque a guerra não terminou. Os golpistas venceram na Câmara mas a luta continua nas ruas e no Senado”, disse, não descartando ainda recorrer à Justiça.
O deputado petista descartou durante a entrevista que o governo vá adotar a tese de convocar eleições gerais. “Não tem nada de eleição geral. A luta é nas ruas e no Senado”, afirmou. Terminada a entrevista, que aconteceu no Salão Verde da Câmara, o deputado foi ao Palácio do Planalto para, segundo ele, dar um abraço na presidente. (Pedro Venceslau e Bernardo Caram)
Desânimo
O vice-líder do governo, Orlando Silva (PCdoB-SP), veio aos jornalistas para anunciar que, numericamente, seria difícil reverter a votação sobre a abertura de impeachment. “Este resultado sinaliza que a oposição vencerá. PP, PR e PMDB do Paraná não cumpriram a palavra. Dificilmente haverá reversão”, disse Silva.
Ao ser informado do comentário de Orlando, outro vice-líder, deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), se irritou e veio aos jornalistas dizer que o colega estava errado e não sabia fazer contas. “Nós estamos no jogo, sim. Se o deputado Orlando admite a derrota, ele não sabe fazer contas”, disse, aos gritos
Alguns deputados mais animados, como Paulo Pimenta (PT-RS) e Maria do Rosário (PT-RS), que acompanhavam os votantes em pé e próximo ao único microfone usado para declarar o voto, também já demonstram menos entusiasmo. São poucos os que usam alegorias em cor vermelha, sinalizando apoio à presidente, e reagem apenas com poucas palmas aos votos contrários ao impeachment.
Os votos de Goiás, do Distrito Federal e São Paulo abriram vantagem para os pró-impeachment, estagnando os votos do governo na casa dos 50, o que fez com que os governistas ficassem em silêncio. Entretanto, os deputados da região Nordeste ainda não haviam começado a votar. O governistas esperam alcançar mais votos com a apuração de Ceará e Bahia.
Já enfrentando algumas traições, alguns deputados que representam o governo estão receosos se será possível alcançar os 172 votos para barrar o impeachment. Outra desvantagem é no número de ausentes. O governo contava com pelo menos 20 ausentes, o que favoreceria a ala contra o afastamento da presidente. No momento, entretanto, apenas dois deputados constam como ausentes no plenário. (Com informações de O Globo e Agência Estado)