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Bolsonaro: “Com boa reforma política, topo não disputar a reeleição”

Em entrevista à Veja, presidente diz que reeleição é “um dos grandes problemas do Brasil”. Ele também fala sobre caso Queiroz, filhos, Olavo de Carvalho, Lula e os problemas do país: “Não vou resolver na raça”

atualizado

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Igo Estrela/Estadão
Jair Bolsonaro
1 de 1 Jair Bolsonaro - Foto: Igo Estrela/Estadão

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) condicionou a possibilidade de disputar a reeleição ao Palácio do Planalto ao sucesso de uma reforma política, que, entre outras medidas, enxugaria o Congresso Nacional. A declaração foi dada durante entrevista à revista Veja.

“O que eu falei é que se a gente fizer uma boa reforma política eu topo ir para o sacrifício e não disputar a reeleição. Porque um dos grandes problemas do Brasil na política é a reeleição. O cara chega ao final do primeiro mandato dele, ou ele quer continuar no poder, que lhe deu fama e prestígio, ou ele quer continuar porque se o outro, o adversário, assumir vai levantar os esqueletos que ele tem no armário. Existe isso no Brasil”, afirmou.

Então, o meu caso é o seguinte: com uma boa reforma política, que diminuiria o número de parlamentares de 500 para 400, entre outras coisas mais, eu toparia entrar nesse bolo aí de não disputar a eleição

Jair Bolsonaro (PSL), presidente da República

Segundo o presidente, até agora ele conseguiu cumprir as promessas de campanha: “indicar um gabinete técnico, respeitar o Parlamento e cumprir o dispositivo constitucional da independência dos Poderes”. Mas admitiu sofrer grande pressão, por parte de grupos com os mais variados interesses.

“Tem aquela palavra mágica que a imprensa fala muito: governabilidade. Me acusam muitas vezes de não ter governabilidade. Eu pergunto: o que é governabilidade? Nós mudamos o jeito de conduzir o destino do Brasil. Hoje, cinco meses depois, eu sinto que a maioria dos parlamentares entendeu o que está acontecendo. Muitos apoiam a pauta do governo. E esse apoio está vindo por amor à pátria, por assim dizer”, destacou.

Para ele, o Brasil estava “indo no caminho da Venezuela” antes de sua gestão, e o mais difícil é apresentar as propostas prioritárias e fazer com que elas sejam compreendidas pelo Parlamento.

“A cabeça de um parlamentar era uma coisa, a cabeça de um presidente, agora com acesso aos números, é outra. Na Câmara, muitas vezes você tem uma informação de orelhada. Por isso, eu sempre fui contra a reforma da Previdência. O que faz a gente mudar? A realidade. O Brasil será ingovernável daqui a um, dois, três anos”, disse.

“Se a reforma da Previdência não passar, o dólar pode disparar, a inflação vai bater à nossa porta novamente e, do caos, vão florescer a demagogia, o populismo, quem sabe o PT, como está acontecendo na Argentina, com a volta de Cristina Kirchner. O Brasil não aguentaria outro ciclo assim”, completou.

Depois de aprovada a reformulação das regras para a aposentadoria dos brasileiros, disse Bolsonaro, o governo investirá na reforma tributária e nas privatizações: “Já dei sinal verde para privatizar os Correios”, revelou, afirmando que a empresa foi destruída pelas gestões petistas. “A bandalheira era tão grande que o fundo de pensão dos funcionários, que hoje está quebrado, fez investimentos em papéis da Venezuela. Com que interesse? Pelo amor de Deus! Então, temos de mostrar à opinião pública que não tem outro caminho a não ser privatizar os Correios. Será assim com outras estatais. Há muitos cabides de emprego dentro do governo”, afirmou.

Sobre o desemprego, Bolsonaro afirmou que “uma parte dos nossos milhões de desempregados não se encaixa mais no mercado de trabalho, por falta de qualificação”.

Pisando em campos minados
O presidente também criticou a formação dos universitários brasileiros: “muitos só têm o diploma”, e admitiu erros na condução do Ministério da Educação (MEC), um campo minado, segundo o presidente. “Errei no começo, quando indiquei o Ricardo Vélez como ministro. Foi uma indicação do Olavo de Carvalho? Foi, não vou negar. Ele teve interesse, é boa pessoa. Depois liguei para ele: ‘Olavo, você conhecia o Vélez de onde?’. ‘Ah, de publicações.’ ‘Pô, Olavo, você namorou pela internet?’, disse a ele”, contou. “Depois, tive de dar uma radicalizada. Em conversas aqui com os meus ministros, chegamos à conclusão de que era preciso trocar, não se pode ter pena, e trocamos”, completou.

Apesar da declaração, Bolsonaro afirmou que o nível de influência de Olavo de Carvalho no governo é “nenhum”. “O Olavo foi uma pessoa importante na minha campanha. Ele vinha disseminando os ideais da direita havia muito tempo, uma visão que abriu a cabeça de muita gente. Então, de alguma forma, ajudou na minha eleição. Mas raramente eu converso com o Olavo. Ele tem a sua liberdade de expressão, e ponto”, resumiu.

Segundo Bolsonaro, há muita disputa pelo poder com sabotagens “onde você nem imagina”. Ele citou como exemplo o Ministério da Defesa, que estaria aparelhado por civis, antes de o presidente nomear militares para postos de comando. “Havia lá uma mulher em cargo de comando que era esposa do 02 do MST [Movimento Sem Terra]. “Tinha ex-deputada do PT, gente de esquerda… Pode isso? Mas o aparelhamento mais forte é mesmo no Ministério da Educação”, afirmou.

Outro campo minado, o partido do presidente, o PSL, foi formado há pouco mais de um ano, “pegando qualquer um”, nas palavras de Bolsonaro. “É um partido que foi criado, na verdade, em março do ano passado e buscava pessoas, num trabalho hercúleo no Brasil. Então, nós fomos pegando qualquer um: ‘Quebra o galho, vem você, cara, vamos embora’… O pessoal chegou aqui completamente inexperiente, alguns achando que vou resolver o problema no peito e na raça. Não é assim”.

“Existe possibilidade de o senhor mudar de partido?”, questionaram os entrevistadores. “Quando a gente se casa, a gente jura amor eterno. Está respondido?”, concluiu.

Filhos
Na entrevista, o presidente afirmou ainda que, embora tenha “muita impetuosidade”, o filho vereador Carlos (PSC-RJ) segue autorizado a atualizar a conta do pai no Twitter, mesmo que ambos entrem em atrito vez ou outra, “em função da velocidade com que ele quer resolver as coisas”. Bolsonaro admitiu ainda que se preocupa com o pedido de quebra de sigilo feito pelo Ministério Público nas contas do filho senador Flávio (PSL-RJ). “Se alguém mexe com um filho teu, não interessa se ele está certo ou está errado, você se preocupa”.

Ele também falou sobre Fabrício Queiroz, o ex-assessor do filho e amigo da família investigado pelo Coaf e pelo Ministério Público. “Aí vem o Queiroz. Realmente tem dinheiro de funcionário na conta dele. O Coaf disse que há movimentações financeiras suspeitas e incompatíveis com o patrimônio do Queiroz. Mas quem tem de responder a isso é o Queiroz”, ressaltou. “Estou chateado porque tiveram os depósitos na conta dele, ninguém sabia disso, e ele tem de explicar. Eu conheço o Queiroz desde 1984. Foi meu soldado na Brigada de Infantaria… Existe essa amizade comigo, sim. Pode ter coisa errada? Pode, não estou dizendo que tem. Mas tem o superdimensionamento porque sou eu, porque é meu filho. Ninguém mais do que eu quer a solução desse caso o mais rápido possível”, completou.

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