Inocente, mãe é obrigada pela Justiça a dividir a guarda do filho
Reportagem do Fantástico mostrou o drama de Liliane, uma mulher que ficou afastada do filho depois de uma denúncia de maus-tratos
atualizado
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Uma reportagem exibida pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo (5/3), mostrou o drama de uma mãe que ficou quase dois anos afastada do filho, depois de uma denúncia falsa de maus-tratos. Após uma decisão da Justiça, a dona de casa está sendo obrigada a dividir a guarda da criança com a família que a acolheu.
Segundo a matéria de Marcelo Canellas, quando o bebê de Liliane Guratti Teixeira estava prestes a completar um ano, o conselho tutelar bateu na casa da dona de casa, na periferia de Londrina, por causa de uma denúncia de maus-tratos, em setembro de 2011.
Ele não era maltratado. Pelo contrário. O menino era gordo, a coisa mais linda
Liliane Guratti Teixeira
Entre as queixas apontadas pelo conselho tutelar, estava o uso de drogas. Mesmo negando as acusações e com um exame que deu negativo para todos os entorpecentes, nenhum agente público acreditou na palavra de Liliane.
A mãe buscou incessantemente ser ouvida pelo Ministério Público, psicólogas e assistentes sociais, para provar que o filho lhe foi tirado injustamente e que ela tinha todas as condições de criá-lo com dignidade.
“Eles me humilhavam. Falavam que ele estava com uma família muito poderosa, que eu não ia pegá-lo de volta”, lembrou Liliane.
O juiz responsável pelo caso, Ademir Richter, encaminhou o garoto a um casal inscrito no programa Família Acolhedora – iniciativa que capacita pessoas para receberem, por um período determinado, crianças em situação de risco. Ricos, bem sucedidos e dirigentes de uma instituição beneficente, o casal acabou pedindo a guarda definitiva do bebê.
O processo de destituição familiar já estava adiantado quando Liliane descobriu o paradeiro do filho. Após uma batalha judicial, ela conquistou o direito de visitá-lo em maio de 2013. Os encontros ocorriam na sala do juiz, sempre diante de muitas pessoas. A família que pediu a adoção da criança recorreu dessa decisão.
Em nota, o Ministério Público do Paraná afirmou que as condutas do magistrado no processo de adoção estão sob investigação da 4ª Promotoria de Justiça de Londrina. O juiz também responde a um ação civil pública em que é acusado de burlar a fila de adoção em outros 11 casos.
Os advogados de Ademir Richter enviaram ao Fantástico um comunicado de quatro páginas. Nele, dizem que foi o Ministério Público de São Paulo o responsável por pedir que o filho de Liliane fosse tirado dela, por causa das denúncias falsas de maus-tratos. Segundo os advogados, o juiz apenas acolheu a decisão e encaminhou o garoto para um abrigo.
Na resposta, afirma ainda que foi a pedido do abrigo que Richter direcionou o bebê para uma família acolhedora. O juiz disse que sempre atuou com isenção e prudência, buscando o melhor para a criança. Também repeliu com firmeza as acusações da ação civil pública que o acusa de pular a fila de adoções.
A promotora Yara Raquel Faleiros, que atuou ao lado do juiz, também está sendo investigada pela promotoria de Londrina. Ela também responde a ação civil pública que apura irregularidades em 11 adoções. Yara é acusada de não ter fiscalizado o processo e de não ter denunciado a atuação do juiz Richter.
Com a remoção do juiz do caso e a nomeação de uma outra juíza para o lugar dele, Liliane finalmente foi ouvida. A magistrada se convenceu de que a dona de casa foi punida porque é pobre. Como o garoto já tinha laços afetivos com a família adotiva, ela decidiu pela guarda compartilhada.
Agora, o menino mora com o casal, mas passa parte da semana com Liliane. “Acho que ela tentou fazer o melhor. Não pensou em mim, nem na outra parte. Pensou mesmo na criança”, comentou a mãe.