Para analistas, ajuste da economia será duro com Dilma ou Temer
Previsões para o PIB são de que o Brasil vai ter um novo ano de recessão, independentemente do cenário político que se desenhe a partir deste domingo (17/4)
atualizado
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A polarização que se acirrou na arena política nos últimos dias não se reproduz na seara econômica. Apesar de os especialistas visualizarem cenários completamente distintos a partir do impeachment, há praticamente um consenso: o estrago na economia é extenso e profundo e não há ajuste fácil para nenhum dos dois lados que se dividem no impeachment, previsto para ser votado na Câmara neste domingo (17/4).
O economista Nelson Marconi, coordenador executivo do Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), define a situação. Quer seja com a permanência da presidente Dilma Rousseff no comando do país ou com uma eventual chegada do hoje vice Michel Temer, a retomada do crescimento só será viável pelo duro caminho de reformas que precisam de aprovação do Congresso. “E é o Congresso que está aí, né? É preciso ver quem tem uma capacidade maior de articulação para fazer essas reformas”, diz.O Congresso assumiu um papel de responsabilidade na economia brasileira pela vasta lista de desequilíbrios macroeconômicos que precisam de reformas e apoio dos parlamentares para serem corrigidos. No topo da preocupação está a questão fiscal. Este ano, o relatório Prisma, pesquisa realizada pelo Ministério da Fazenda com bancos, corretoras e consultorias, projeta um rombo fiscal do governo central de R$ 100,4 bilhões.
Com Dilma ou Temer na Presidência da República, será preciso muita negociação com os parlamentares para desenrolar o nó político do país e, consequentemente, destravar a economia. “Em relação ao Congresso, eu sou muito cético”, diz Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. “É preciso esperar para ver.”
Recessão
As previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) são de que o Brasil vai ter um novo ano de recessão, independentemente do cenário político que se desenhe a partir deste domingo. Por ora, as previsões iniciais mostram que a queda na economia deve ser mais branda se o PMDB chegar ao poder.
A Macroplan, que consolidou projeções de uma dezenas de consultorias e ouviu analistas e especialistas de diferentes correntes, sintetiza a perspectiva atual: “Para a maioria, haverá alívio se Dilma sair e deterioração se ela ficar, mas ninguém tem a ilusão de que a economia vai ser recuperar facilmente”, diz Claudio Porto, presidente da Macroplan.
A vantagem, com Temer, acreditam, é iniciar um processo de retomada da confiança na economia brasileira. “A melhora na confiança será relativamente rápida”, afirma Sergio Vale, economista-chefe de MB Associados.
No conjunto de ações esperadas de Temer estão a aceleração do programa de concessões em infraestrutura e o maior controle dos gastos públicos. “Um lado da história (do ajuste do Temer) é recessivo: é aumento de imposto e corte de gasto”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada.
No caso de a presidente Dilma Rousseff sobreviver à votação na Câmara dos Deputados, o receio dos analistas é que ela possa fazer uma guinada para a esquerda na política econômica como forma de responder ao apoio dos movimentos sociais durante o processo de impeachment.
O cenário de uma mudança brusca na economia não é um consenso. Uma parte dos economistas acredita que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve surgir como a força principal do governo Dilma e comandar um repactuação com partidos de centro para colocar em prática uma política econômica bastante parecida com a adotada em seu primeiro mandato.