Alta da inflação eleva pressão sobre Banco Central
A tarefa de controlar a inflação fica mais difícil por causa da piora do quadro fiscal
atualizado
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Desde 2013, o Banco Central (BC) promoveu sucessivos aumentos de juros no País, o que levou a taxa básica, a Selic, ao maior patamar em nove anos: 14,25%. A inflação, no entanto, não perdeu fôlego – pelo contrário. Pressionado pelos preços administrados, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassou a barreira dos 10% no acumulado em 12 meses até novembro. Esse movimento agora levanta dúvidas sobre a eficácia da política monetária, ao mesmo tempo em que coloca o BC em uma encruzilhada.
Há dois caminhos possíveis: elevar os juros e enfraquecer ainda mais a economia, que já enfrenta a pior recessão desde 1990, ou manter a Selic estável e perder de vista o centro da meta de inflação, que é de 4,5% ao ano.
Para complicar o cenário, o BC parece estar isolado nessa missão. A tarefa de controlar a inflação fica mais difícil por causa da piora do quadro fiscal. Entre janeiro e outubro, o resultado primário do governo central foi negativo em R$ 33 bilhões. É o pior resultado da série histórica iniciada em 1997.
A dificuldade do BC em controlar a inflação e fazê-la convergir ao centro da meta ressuscitou o debate sobre se a economia brasileira teria passado a sofrer da chamada “dominância fiscal”: se os juros perderam o efeito para domar a inflação e suas expectativas em meio à desordem das contas públicas.
Os economistas não entraram em um consenso sobre a tese. “O BC não vai ter como fugir e terá de subir os juros na próxima reunião, em janeiro”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “Acho muito difícil que a inflação venha para baixo, e o debate de dominância fiscal deve ganhar força.”
Futuro
Inicialmente, a promessa do governo era cortar a inflação quase pela metade: trazê-la ao centro da meta em 2016. No entanto, economistas já esperam que o IPCA supere o teto da meta, de 6,5% No relatório Focus, analistas projetam um índice de 10,44% para 2015 e de 6,7% para 2016.
“O sistema de preços no Brasil está desancorado”, afirma José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV. “Temos visto nas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) uma dificuldade enorme do Banco Central de se comprometer com o horizonte de tempo que será necessário para a convergência da inflação para 4,5%.”
Na última reunião do Copom, que decidiu pela manutenção dos juros em 14,25% ao ano, dois dos oito integrantes votaram por uma alta de 0,5 ponto porcentual da Selic, criando incertezas sobre os próximos passos da autoridade monetária.
Na ata, o Banco Central apontou para um possível aumento no encontro de janeiro. Essa indicação, somada ao resultado da inflação de novembro, aumentou as apostas de que o BC se prepara para subir os juros na próxima reunião.
Para a Tendências Consultoria Integrada, a autoridade monetária deve fazer dois aumentos de 0,5 ponto porcentual, em janeiro e em março, e um de 0,25, em abril. “O BC até poderia optar por uma convergência mais longa, mas o fato é que ele se comprometeu a evitar o estouro da meta no ano que vem e a garantir a convergência para 4,5% em 2017”, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências. “Diante desse compromisso, terá de subir juros, mesmo que isso reforce o cenário de queda do PIB. Não há alternativa.”