Bloco dos BVs. Zika vírus pode ser transmitido pela saliva e pela urina, diz Fiocruz
Forma ativa do vírus foi encontrada em amostras de fluidos de pacientes contaminados. Possibilidade de transmissão ainda está em análise, mas alguns especialistas dão dicas para se prevenir do vírus
atualizado
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A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, anunciou, na manhã desta sexta-feira (5/2), um avanço nas pesquisas com relação ao zika. De acordo com a instituição, o vírus está presente de forma ativa na urina e na saliva de pacientes contaminados. O que ainda não foi comprovado é se o vírus seria transmitido por meio dos fluidos. Como essa hipótese ainda não foi descartada, alguns especialistas já recomendam precauções, principalmente para as grávidas.
A comprovação de vírus ativo na saliva e na urina muda a forma como as pesquisas serão conduzidas, já que essa é a primeira vez que a possibilidade de transmissão por fluidos é cogitada. Segundo o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, até o momento não há indícios de que o vírus se reproduza nas vias respiratórias dos pacientes.Myrna Bonaldo, chefe do laboratório responsável pelo estudo, informou que foram analisadas amostras de dois pacientes e as coletas foram realizadas durante a manifestação de sintomas compatíveis com o zika. De acordo com os pesquisadores, o vírus isolado foi encontrado primeiramente em uma amostra de urina.
“As pesquisas ainda precisam avaliar o tempo de permanência do vírus nos fluidos corporais, assim como a dinâmica de transmissão da doença”, explica Gadelha. O presidente da Fiocruz também ressaltou que o diagnóstico pode ser feito por meio de fluidos que não o sangue.
Como o zika oferece mais riscos às gestantes – por conta da relação da doença com o surto de microcefalia –, a recomendação é que as grávidas evitem situações em que há grande aglomeração de pessoas, assim como compartilhar copos e talheres com pessoas que apresentem sintomas da doença.
Reflexos
A descoberta, em tese, abre uma porta para uma nova possibilidade de infecção e tira do mosquito Aedes aegypti o papel de vilão solitário dessa história. Com as novas representações de perigo – beijar na boca, compartilhar copos e até entrar em contato com respingos de tosse e espirros – um dia antes do início oficial do carnaval, a notícia coloca o zika como a “nova” mononucleose.
Mas alto lá. Embora os especialistas ouvidos pelo Metrópoles considerem o anúncio importante ao combate ao vírus, só porque ele pode estar presente na saliva não significa (ainda) que ele seja de fato transmitido por meio dela. Mais testes em laboratório dirão se amostras de vírus encontrados na saliva só estão ali “à toa”, de forma inofensiva, ou se conseguem se ligar a outros tipos de células e causar algum estrago de verdade.
“Alguns vírus são encontrados em fluidos corporais, mas não têm capacidade de transmissão. Não há recomendação ainda para se criar alguma precaução. Mas a notícia é importante porque colher saliva, por exemplo, é mais fácil do que colher sangue, e talvez seja um caminho até para que se desenvolvam kits de diagnóstico mais baratos”, avalia o infectologista Alberto Chebabo, do laboratório Exame.
Caso a suspeita de transmissão seja confirmada, as medidas de precaução contra o vírus o colocaria no mesmo patamar de outras doenças transmitidas por via oral como hepatite A, gripe, meningite e caxumba. Por isso, prepare o álcool em gel (lembram dele?).
Aqui vão algumas medidas que ajudariam a evitar a “zica”:
1. Cadê o carnaval? Fique longe da saliva alheia
Caso seja confirmado o contágio da zika pela saliva, o coordenador de infectologia do Hospital Santa Lúcia Werciley Júnior tem uma solução categórica. “Não saia pela rua distribuindo beijos”, afirma. Como esse tipo de transmissão da doença ainda é muito recente, não há remédios ou qualquer tipo de repelente que possam proteger as pessoas de uma contaminação. “Se a pessoa quiser se cuidar, vai ter que ser careta durante o carnaval”, avisa.
2. Ao tossir, não leve a mão à boca. Leve o braço
Segundo Ricardo Hayden, médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, levar à mão à boca ao tossir ou espirrar não é assim tão eficiente, pois os fluidos podem “vazar” por entre os dedos. Além disso, ao segurar em objetos, corrimãos ou mesmo ao estender a mão para cumprimentar alguém, você facilita o contágio. “O melhor é usar o braço dobrado ao nariz ou boca e tossir ou espirrar na prega do braço, na altura da articulação”, ensina. Mais eficiente, principalmente, se você não pode lavar a mão logo em seguida.
3. Fique atento aos sinais à sua volta
Em até 80% dos casos, o zika é assintomático. Isso significa que muitas vezes pessoas da sua casa estarão contaminadas e você não vai saber – quando isso acontece, em casos de outras doenças, fica mais fácil separar os utensílios do doente dos seus. “O zika não dá sintomas evidentes, mas pode dar cansaço, dor no corpo, dor de cabeça. Nesses casos, melhor prevenir e separar copos e talheres”, orienta Hayden, da SBI.
4. Vá de utensílios descartáveis
Principalmente em restaurantes e bares. Em vez dos copos de louça, nem sempre lavados com afinco, dê preferência aos copos descartáveis e canudos embalados um a um, em plástico.
5. Fique de olho nas crianças
“Elas trocam de chupeta toda hora, tiram da boca de um e colocam na de outro”, avisa Hayden. Para evitar que elas se contaminem também, essa é uma medida válida caso a suspeita se confirme. “Antes a população alarmada e se cuidando do que desligada e se arriscando”, afirma Ricardo Hayden.